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Perfil do cientista brasileiro: relatório inédito aponta desafios para se estabelecer como pesquisador no Brasil em início e meio de carreira

Fonte

UFRGS | Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Data

sábado. 16 dezembro 2023 12:20

Em meados de 2020, alguns dos membros da Academia Brasileira de Ciências (ABC) começaram um projeto que teve início em um workshop da entidade: traçar o perfil do cientista brasileiro em início e meio de carreira a partir de dados quantitativos. Para entender melhor quem é esse pesquisador e os principais desafios de estabelecer uma carreira científica no Brasil, os mais de 80 profissionais envolvidos no projeto elaboraram um surveydividido em sete eixos: financiamento, bolsas de produtividade, divulgação científica, diáspora científica, internacionalização, liderança científica e diversidade e inclusão.

Das 5,5 mil respostas obtidas, pouco mais de 4 mil foram consideradas, levando em conta os critérios de exclusão do projeto. Os resultados apontam que grande parte dos cientistas em início e meio de carreira tem dificuldades de obter financiamento para a pesquisa. Além disso, a falta de oportunidades para os pesquisadores é uma das razões da chamada ‘diáspora científica’ (ida de cientistas brasileiros para o exterior em busca de melhores condições de trabalho no meio acadêmico ou na indústria de viés científico). O relatório com todos os resultados foi entregue em setembro deste ano durante uma reunião da ABC, em São Paulo, e está disponível na íntegra.

A curiosidade se sustenta com financiamento

Uma das integrantes do comitê gestor do projeto, a Dra. Ana Chies, professora do Instituto de Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), sempre foi muito curiosa para entender o que está além do que se pode ver no céu. Com a curiosidade despontando a todo momento na cabeça, foi fazer Física. De lá, seguiu para a Astrofísica, e o embarque na carreira acadêmica se tornou inevitável. Hoje estuda principalmente aglomerados globulares extragalácticos em diversos tipos de galáxias e ambientes. “Eu nem pensava muito nas consequências, só fui seguindo”, comentou, ante a realidade de que ser pesquisador no Brasil requer saber fazer mágica com o salário — quando há.

Quanto a esse aspecto, 74% dos respondentes ao questionário relataram dificuldades para obtenção de financiamento de pesquisa, e apenas 20% relataram busca por fomento em editais no exterior. Quanto às competidas bolsas de produtividade, destinadas a pesquisadores cujo trabalho se destaca nas respectivas áreas, apenas 10% afirmou ter acesso.

A divulgação científica foi abordada no questionário com base no interesse e no envolvimento com atividades de divulgação. Na percepção dos cientistas em relação às mídias sociais, o Whatsapp é a rede mais utilizada para fins de divulgação, seguido pelo Instagram e, logo atrás, o Twitter/X – contrariando o que se pensava no meio acadêmico, por se tratar da rede social mais utilizada para se divulgar conhecimento científico entre os pares. Mais da metade dos respondentes tende a divulgar suas pesquisas nas redes sociais, enquanto cerca de 20% prefere utilizá-las apenas para lazer. Os demais responderam não ter tempo para a atividade.

Desigualdades e possíveis soluções

De acordo com a professora Ana Chies, o relatório tem perfil sociodemográfico similar ao do último censo do CNPq, realizado em 2016, ou seja, há uma predominância de brancos e baixa proporção de pretos e pardos. Entre os respondentes de nível PQ2 (categoria de pesquisador do CNPq de Produtividade em Pesquisa 2, cuja duração da bolsa é de trinta e seis meses), cerca de 12% são homens brancos, 10,6% são homens negros, 5,5% são mulheres brancas e 5,4% são mulheres negras.

Esse resultado é um reflexo direto da configuração social brasileira, que se reflete também em outras observações para além da realizada no estudo. A estrutura interna da própria ABC, por exemplo, se equipara ao que foi analisado nos recortes de gênero e raça. Ainda segundo a professora, algo que poderia ser feito para transformar essa realidade seria uma alteração na forma como as pessoas ingressam na entidade. “As pessoas poderiam se candidatar, e não serem indicadas, talvez”, sugere. Quanto à desigualdade presente no quadro de pesquisadores brasileiros, o incentivo público é o caminho.

Com os resultados apurados, o que se espera agora é que o documento produzido possa auxiliar na formulação de políticas públicas, como editais de pesquisa para cientistas em diferentes fases de suas carreiras. A ideia do comitê gestor do projeto é dar periodicidade ao levantamento, realizando-o a cada cinco anos, por exemplo. Além da professora Ana, o comitê gestor do projeto foi composto pela Dra. Raquel Minardi, pesquisadora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG); pela Dra. Jaqueline Mesquita, pesquisadora da Universidade de Brasília (UnB), e pelo Dr. Alessandro Freire, pesquisador do Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa (IDP).

Acesse a publicação ‘Perfil do Cientista Brasileiro em Início e Meio de Carreira‘.

Acesse a notícia completa na página da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Fonte: Alexandre Briozo Gomes Filho, Portal Ciência, Jornal da Universidade/UFRGS.

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