Destaque

Dispositivos vestíveis transformarão a saúde, mas mudanças trazem desafios

Fonte

Universidade de Sydney

Data

quinta-feira. 17 agosto 2023 10:55

Em uma série de três editoriais publicados na revista científica British Journal of Sports Medicine (1, 2, 3), uma equipe internacional de cientistas discute questões enfrentadas na área de dispositivos vestíveis, incluindo falta de padronização de dispositivos e dados, desconexões entre pesquisa e indústria e o impacto da desigualdade no acesso às tecnologias.

Atualmente, cerca de um terço dos adultos do Reino Unido possui um smartwatch ou rastreador de fitness. Uma pesquisa australiana de 2021 relatou que 24% usavam rastreadores de fitness e 23% usavam relógios inteligentes.

Alguns pessoas usam estes dispositivos como rastreador de passos – para verificar distância percorrida – outros para dormir, mas poucos entendem o potencial desses dispositivos para transformar a compreensão de como as atividades cotidianas influenciam a saúde.

“Se você perguntar a alguém quanto exercício fez hoje, a pessoa responderá ‘nenhum’ se ela faltou à academia na hora do almoço, mas o rastreador de condicionamento físico pode contar uma história muito diferente”, disse o Dr. Emmanuel Stamatakis, professor de Atividade Física, Estilo de Vida e Saúde da População no Centro Charles Perkins da Universidade de Sydney, na Austrália, que coliderou a série editorial.

“O dispositivo capta os curtos períodos de atividade física, por exemplo, quando a pessoa corre para o trem ou caminha para o trabalho. O uso de dispositivos vestíveis em pesquisa, combinado com IA em rápido desenvolvimento, nos permite desvendar como esses micropadrões de atividade diária se relacionam com o risco de morte prematura, doenças cardiovasculares e até câncer de uma pessoa. É um momento muito interessante para trabalhar nesta área de pesquisa”, disse o professor Emmanuel Stamatakis.

“Agora entendemos que a relação entre atividade física e saúde é muito mais forte do que sugerem estudos anteriores baseados em dados autorrelatados”, acrescentou o Dr. Jason Gill, também líder da série e professor de saúde cardiometabólica da Universidade de Glasgow, no Reino Unido. “É importante aproveitar os recursos dos [dispositivos] vestíveis como ferramentas de pesquisa porque eles têm muito potencial para informar diretrizes sobre quanto e quais tipos de atividade recomendamos que as pessoas realizem para melhorar sua saúde, além de fornecer novas abordagens para ajudar a apoiar as pessoas a tornarem-se mais ativas”.

Mas esta área de pesquisa não vem sem seus desafios – todos exacerbados pelo ritmo das tecnologia vestíveis.

Principais desafios

Padronização de dados e dispositivos

Enquanto os indivíduos que rastreiam sua própria atividade usam dispositivos de consumo como Fitbit ou Garmin, a maioria dos estudos de pesquisa usa acelerômetros de nível de pesquisa devido à sua consistência e propriedades cientificamente documentadas. Os dispositivos de consumo operam em algoritmos proprietários que são ‘caixas pretas’ para os cientistas. Também há muita variação entre marcas e modelos, atualizações frequentes de modelos e regras corporativas estritas sobre propriedade e privacidade de dados.

Os pesquisadores sugerem que a indústria e os acadêmicos precisarão trabalhar juntos muito mais de perto na consistência em torno de capacidades e métricas de atividade para dispositivos vestíveis para que sejam uma fonte válida para medição de pesquisa e monitoramento de comportamentos de saúde em nível populacional.

Barreiras ao uso em cuidados de saúde

“Existe um imenso potencial de dados de dispositivos vestíveis para informar decisões clínicas sobre risco, diagnóstico e tratamento. Isso é particularmente relevante em cardiologia porque a baixa atividade física aumenta o risco de muitas doenças cardíacas, enquanto uma vez que a doença se desenvolve, reduz a capacidade de ser ativo”, disse o Dr. Tim Chico, professor da Universidade de Sheffield, principal autor do editorial sobre dispositivos baseados em medição da atividade física na saúde cardiovascular.

No entanto, apesar das centenas de modelos de dispositivos atualmente em uso, muito poucos são aprovados para uso clínico pelos reguladores. Os autores escrevem que os incentivos para os fabricantes obterem aprovações tão caras são pequenos em comparação com as vendas diretas como ‘ferramentas de bem-estar’.

A variedade de medidas e precisão dos aparelhos também é uma preocupação nesse contexto, assim como a necessidade de ter dados disponíveis para os profissionais de saúde no momento da tomada de decisão. Isso levanta outras questões sobre a transferência de dados de dispositivos de indivíduos para seus registros médicos, segurança e proteção de privacidade, bem como recursos de TI – principalmente em países menos desenvolvidos.

As estruturas regulatórias não se adaptaram ao ritmo muito rápido dos vestíveis e da evolução do ‘big data’.

Desigualdades de acesso

O uso de rastreadores e relógios inteligentes está crescendo exponencialmente; no entanto, existem desigualdades socioeconômicas distintas na população. Isso representa um problema para o uso de vestíveis de consumo para apoiar a mudança positiva de comportamento. Embora as pessoas em grupos socioeconômicos mais vulneráveis tenham maior risco de doenças crônicas relacionadas ao estilo de vida e possam ter mais a ganhar com essa mudança de comportamento, a compra desses dispositivos pode estar bem além de suas possibilidades.

Oportunidades

Os pesquisadores sugerem que nenhum desses desafios é intransponível.

Eles argumentam que uma melhor integração de vestíveis em ensaios clínicos randomizados controlados e estudos de coorte é drasticamente necessária. Eles sugerem que os reguladores considerem a aprovação de dispositivos selecionados como complementos aos cuidados padrão e que a indústria e a academia trabalhem em conjunto para maximizar o potencial dos dispositivos vestíveis para diagnóstico, prevenção e tratamento de doenças crônicas – com o objetivo final de uma população mais feliz e saudável.

Acesse a notícia completa na página da Universidade de Sydney (em inglês).

Fonte: Michelle Blowes, Universidade de Sydney.

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