Notícia
Ubiquitina pode combater o câncer e prevenir contra o vírus zika
Proteína descoberta pelo Nobel de Química Aaron Ciechanover foi chave para as atuais pesquisas. Cientista estará no Brasil no dia 10 de agosto
Beto Monteiro, Secom, UnB
O Dr. Aaron Ciechanover, bioquímico e professor da Faculdade de Medicina do Instituto de Tecnologia de Israel (Technion) e ganhador do Prêmio Nobel de Química em 2004, descobriu uma molécula chamada ubiquitina, que, hoje se sabe, é responsável por regular uma série de funções celulares, como processos no nível de replicação e divisão celular. Ela exerce a função de marcar e direcionar proteínas indesejáveis para a molécula denominada proteassoma – utilizada para destruir proteínas danificadas ou com erros de síntese – eliminando-as do sistema celular e orientando os processos vitais da célula.
“A ubiquitina regula os eventos que mantêm a dinâmica da vida”, explica a Profa. Dra. Sonia Maria de Freitas, coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Biologia Molecular do Instituto de Ciências Biológicas (IB) da Universidade de Brasília (UnB). O grupo de pesquisa liderado pela docente desenvolve estudos sobre a inibição da via de degradação de proteínas no contexto do sistema de ubiquitina-proteassoma.
A proteína utilizada nos estudos da equipe – o BTCI – é inibidora de proteases, ou seja, de enzimas que hidrolisam ou quebram outras proteínas. Ela foi purificada em 1966 a partir de sementes de feijão de corda Vigna unguiculata pelo professor Emérito da UnB Manuel Mateus Ventura, orientador de doutorado de Sonia. “Trabalha-se até hoje com a caracterização estrutural e funcional do BTCI, obtido a partir dessas sementes, que são plantadas na Estação Experimental de Biologia da Universidade”, explica a coordenadora do programa.
A caracterização funcional do BTCI consiste, atualmente, na investigação do efeito desta molécula contra o câncer de mama. Ela inibe a atividade de degradação de proteínas pelo proteassoma de células desse tipo de câncer, interagindo especificamente com esta molécula e induzindo a morte das células.
Essa interferência do BTCI resulta em acúmulo de proteínas não funcionais, produção de radicais livres, aumento na expressão de proteínas relacionadas à morte (BAX). Como consequência, a função mitocondrial é prejudicada e o material genético da célula tumoral é danificado. Dessa forma, outras proteases relacionadas ao processo de morte programada na célula são ativadas, resultando na morte celular.
A perspectiva do trabalho é boa: conhecendo os mecanismos de interação entre o proteassoma e o inibidor BTCI, é possível pensar em uma droga que afete a programação de morte das células tumorais. O BTCI age como inibidor da via sinalizadora da morte programada. A célula, que já está confusa metabolicamente, fica mais ainda, uma vez que, inibindo os genes reguladores de processos metabólicos, ela morre.
Vacina contra o vírus zika
O Prof. Dr. Tatsuya Nagata, coordenador do Programa de Pós-Graduação em Biologia Microbiana, está trabalhando no desenvolvimento de um teste para diagnosticar precisamente o vírus zika. Hoje, o da dengue também reage ao teste e é difícil precisar qual dos vírus acomete a pessoa. A diferença entre os dois é molecular.
”Usando o conhecimento derivado da técnica do professor Aaron, queremos identificar a diferença entre os dois, tornando possível tanto modificá-lo no futuro, quanto usá-lo para o teste e a vacina”, explica o professor.
A vacina leva cerca de dez anos para ser desenvolvida, uma vez que os testes precisam ser feitos em seres humanos. É preciso analisar a interação do vírus com o nosso cérebro para determinar o que causa a microcefalia em fetos. Segundo essa ideia, é possível determinar qual parte do ácido ribonucleico (RNA) – que corresponde à carga genética do vírus – causa a microcefalia. No caso de gestantes, não se pode utilizar a estratégia do vírus fraco, como se faz com a febre amarela, porque ainda não se identificou o quê, na carga genética do vírus, pode causar a microcefalia. “Para o feto em formação, esse contato, mesmo que enfraquecido, pode levar ao desenvolvimento da doença”, afirma o Dr. Tatsuya Nagata.
Prêmio Nobel
O cientista Aaron Ciechanover vem à Universidade de Brasília no próximo dia 10 de agosto. O israelense e sua equipe alcançaram o feito com um estudo que tem contribuído muito, desde então, para o tratamento individualizado contra o câncer e para a produção de medicamentos para controle e tratamento de outras doenças.
No auditório da Associação dos Docentes da UnB, o Dr. Aaron Ciechanover vai compartilhar experiências e inquietações vividas em mais de quatro décadas dedicadas à carreira científica. A participação é gratuita e aberta a quaisquer interessados.
Acesse a reportagem completa no UnB Ciência.
Fonte: Thaíse Torres, UnB. Imagem: Beto Monteiro, Secom, UnB.
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