Notícia
Técnica inédita no país detecta tumores cerebrais em crianças
Diagnóstico em nível molecular deve aumentar precisão nas cirurgias e reduzir o risco de mortes e sequelas
Antoninho Perri e André Vieira, Jornal da Unicamp.
Fonte
Unicamp
Data
sábado, 26 março 2016 16:30
Áreas
Química Analítica. Bioquímica. Análises Clínicas. Oncologia.
Um grupo de pesquisadores do Instituto de Química (IQ) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e do Centro Infantil Boldrini, de Campinas (SP), conseguiu identificar, classificar e mapear tumores cerebrais de crianças e adolescentes por meio de técnicas de Espectrometria de Massas via Desorção/Ionização em Condições Ambientais (DESI e EASI). Conforme o grupo de cientistas envolvidos, existem trabalhos recentes semelhantes nos Estados Unidos (EUA), mas no Brasil o feito é inédito.
O grande diferencial da técnica é a possibilidade do diagnóstico em nível molecular, muito mais moderno e avançado que o diagnóstico anatomopatológico, procedimento convencional que utiliza a microscopia óptica e exames complementares para analisar a morfologia (forma) dos tecidos e a estrutura das células (citologia).
De acordo com os pesquisadores, a técnica pode ser associada às análises morfológicas e citológicas, permitindo um diagnóstico mais preciso e em tempo real, durante o procedimento cirúrgico. Além disso, no caso das neoplasias, o diagnóstico rápido e preciso torna-se fundamental para a condução do caso clínico de modo a definir a programação terapêutica adequada para cada tipo de tumor. A expectativa com o trabalho é aumentar a precisão nas cirurgias e reduzir o risco de mortes e sequelas, além de acelerar o processo de recuperação dos pacientes.
“Com um pequeno fragmento do tecido sobre uma lâmina, nós fazemos uma espécie de escaneamento químico, sem nenhum preparo na amostra. Este escaneamento detecta os componentes químicos que estão presentes ali: lipídios, proteínas e peptídeos. Portanto, quando o scanner passa sobre a superfície de um tecido sadio, o perfil químico será de um tecido sadio. Quando passa sobre um tumor, o perfil muda drasticamente”, explica o coordenador dos trabalhos, o Prof. Dr. Marcos Nogueira Eberlin, do Laboratório ThoMSon de Espectrometria de Massas, vinculado ao IQ.
Esta diferença entre tumores e células sadias ou tumores malignos e benignos nem sempre é perceptível pelas análises morfológicas uma vez que muitas neoplasias têm a morfologia muito similar. O docente do IQ acrescenta que um patologista, pelo método convencional, usa as ferramentas que ele tem disponível há bastante tempo para saber se há tumor e qual o seu tipo.
“Assim, ele faz tingimentos, olha no microscópio e analisa a morfologia, utilizando toda sua experiência. Mas isto nem sempre é preciso. Esta nossa técnica se associa ao diagnóstico morfológico e citológico, permitindo uma análise muito mais precisa. O perfil molecular fornece a distribuição do tumor com uma precisão que nunca tinha sido alcançada. Se os marcadores moleculares da doença estão lá no tecido, tem câncer. Se não há marcadores, não tem neoplasia. O impacto disso numa cirurgia de altíssimo risco, envolvendo o cérebro humano, é muito grande”, dimensiona o Dr. Marcos Eberlin.
As pesquisas envolveram a participação da médica Dra. Izilda Aparecida Cardinalli, patologista do Centro Infantil Boldrini e dos pesquisadores da Unicamp, Pedro Henrique Vendramini, Dr. Célio Fernando Figueiredo Angolini e Nicolas Vilczaki Schwab, todos do Laboratório ThoMSon. Os trabalhos na Unicamp são financiados por meio de projeto temático da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
A médica patologista do Boldrini cita referências de 2007 da Organização Mundial de Saúde (OMS), apontando que os tumores primários de Sistema Nervoso Central (SNC) exibem um amplo espectro de subtipos histológicos. De acordo com as informações da OMS estes tipos de tumores representam um verdadeiro desafio na reprodutibilidade do diagnóstico, sendo capazes de gerar discordâncias em até 30% dos casos, mesmo entre os mais experientes neuropatologistas.
“Somente com a microscopia óptica é muito difícil fazer o diagnóstico dos tumores. Mesmo para os patologistas mais experientes é um desafio. Agora, com esta técnica, será possível fazer um diagnóstico diferencial, mais exato e completo, no nível molecular, somando ao diagnóstico convencional já existente”, reconhece a Dra. Izilda Cardinalli.
Ela exemplifica, citando a dificuldade do diagnóstico convencional especificamente em gliomas, tumores comuns em crianças e adolescentes. “É difícil até saber o que é tumor e separá-lo do tecido normal. Portanto, um desafio é o cirurgião saber até onde ele pode retirar o tumor. E você imagina o risco disso no cérebro humano.”
A médica esclarece que a técnica utilizada permite, assim como o diagnóstico convencional, uma análise em tempo real, no momento em que a cirurgia ocorre. Isso será possível no Centro Boldrini graças à liberação de R$ 1,3 milhão pela Secretaria Executiva do Ministério da Saúde para a compra de um espectrômetro de massas. Assim, por meio deste equipamento e de um software, será possível analisar com nitidez, pela tela do computador, os fragmentos do tecido cerebral, durante o procedimento cirúrgico.
Técnica
O professor Marcos Eberlin situa que a espectrometria de massas sofreu uma revolução no começo dos anos de 1990 e, a partir de então, o que era uma técnica restrita se tornou mais ampla. Ele relata que no laboratório ThoMSon há trabalhos envolvendo diversas frentes.
“Temos parcerias com o Caism/ Hospital da Mulher para o diagnóstico do câncer de mama e câncer de colo de útero. Com o A. C. Camargo nós também estamos trabalhando no câncer de mama. Com a Faculdade de Ciências Médicas (FCM) e Hospital de Clínicas (HC), aqui da Unicamp, temos colaborações para a detecção do câncer de pulmão”, descreve.
Ainda conforme o Dr. Marcos Eberlin, há parcerias para estudos envolvendo outros tipos de doenças, como a leishmaniose, junto com pesquisadores do Instituto de Biologia da Unicamp. “Temos, além disso, um estudo que conseguiu tipificar vários tipos de fungos, como os que causam a vassoura-de-bruxa, doença que atinge os cacaueiros da Bahia. A técnica que aplicamos aos tumores pode, portanto, ser aplicada em vários outros diagnósticos clínicos”, exemplifica.
Leia a matéria completa no Jornal da Unicamp.
Fonte: Silvio Anunciação, Unicamp. Imagem: Antoninho Perri e André Vieira, Jornal da Unicamp.
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