Notícia
Simulador para treinamento de biópsia de tireóide
Solução apresentada por físico médico da USP em Ribeirão Preto auxilia no treinamento das habilidades dos médicos
Getty Images
Para melhorar o treinamento dos médicos na realização de biópsias para diagnóstico de lesão da tireoide, pesquisadores da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da Universidade de São Paulo (USP) acabam de desenvolver o simulador de pescoço, um busto palpável chamado phantom antropomórfico, com toda a morfologia humana e as características das imagens de ultrassonografia mais comuns em procedimentos de biópsia.
O phantom antropomórfico, segundo o físico médico Felipe Wilker Grillo, responsável pelo projeto, possui propriedades mecânicas equivalentes ao tecido biológico e é caracterizado para treinamento de biópsias por agulha fina, guiadas por ultrassom.
O busto criado por Felipe Wilker tem a simulação de veias, traqueia e a glândula de tireoide feitas com um material que imita a rigidez e textura da pele. “Ele tem dimensões, propriedades mecânicas, acústicas e aparência visual equivalente à de uma pessoa adulta”, enfatiza. Atualmente, o método mais eficaz para o diagnóstico de lesões cancerígenas, como câncer de tireoide, por exemplo, é a técnica de biópsia conhecida por punção aspirativa por agulha fina (PAAF). Essa técnica consiste na retirada de fragmentos do tecido da tireoide para análise microscópica, por meio de um equipamento de ultrassom, que guia a inserção de uma agulha fina até a região da lesão.
O treinamento das habilidades dos médicos é fundamental para um bom desempenho do exame. Entretanto, alguns fatores dificultam o desenvolvimento das habilidades manuais e visuais dos médicos para esse procedimento, entre eles, o tempo gasto na realização de treinamentos em grupo, devido ao reduzido número de pacientes disponíveis, bem como o curto estágio de especialização do profissional, o que limita a quantidade de treinamentos realizados. Atualmente, diz Felipe Wilker, os profissionais precisam construir seus próprios phantoms para aprimorar suas habilidades ou comprar modelos importados, que chegam com alto custo. “Alguns utilizam frutas ou pedaços de carne compradas em açougue. Além de trabalhoso, esse procedimento não possui controle de fungos e bactérias, que podem contaminar o equipamento de ultrassom em ambientes hospitalares”, alerta.
Mais horas de treinamento
Outra vantagem apontada pelo físico médico é que os treinamentos poderão ser realizados em qualquer horário e local, minimizando a responsabilidade de alunos e professores, já que não terão pacientes em suas mãos. Como consequência, “o aumento do número de horas de treinamento proporcionará, durante a realização dos procedimentos, maior confiança ao médico e maior conforto ao paciente, pois o phantom não tem número máximo de biópsias que podem ser realizadas, isso fica a critério dos médicos”.
Para a produção do phantom foi utilizado um material a base de hidrocarbonetos de cadeia longa, ou seja, compostos constituídos apenas por átomos de carbono e hidrogênio, com diferentes concentrações de agentes de contraste, como polímeros, elastômeros e gelatinas. E, ainda, diz Felipe, pó de vidro, cera de carnaúba, parafina granulada e borracha de silicone. “Essas misturas foram caracterizadas com relação ao módulo elástico, velocidade e atenuação da onda ultrassônica. Observamos as que atingiram valores próximos aos encontrados na literatura para as regiões a serem mimetizadas”, conta o físico médico.
Segundo o Prof. Dr. Antonio Adilton Oliveira Carneiro, que orientou o trabalho esse é o exemplo de que por meio de ferramentas que auxiliem procedimentos da rotina hospitalar, o Brasil pode oferecer à população melhor qualidade de serviços nas áreas da saúde pública e particular. Segundo Felipe Wilker, existem outros projetos de pesquisa em objetos que imitam tecidos biológicos para aplicações em ultrassom no País, alguns deles estão em desenvolvimento no próprio Grupo de Inovação em Instrumentação Médica e Ultrassom (GIIMUS) da USP de Ribeirão Preto, onde essa pesquisa foi desenvolvida. “Outros grupos do Brasil também pesquisam phantoms, mas geralmente para certificação de propriedades de técnicas de imagem, não sendo trabalhada a morfologia”, afirma Felipe Wilker, apontando que esse é o maior diferencial de sua pesquisa.
A dissertação Phantom antropomórfico para treinamento de biópsia de tireoide guiada por ultrassom, foi defendida em setembro de 2015. Foi criada uma startup pelo pesquisador que está pré-incubada no SUPERA Incubadora de Empresa de Base Tecnológica de Ribeirão Preto, com o objetivo de produzir e comercializar esses phantoms antropomórficos. Dados do Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (INCA) apontam que o câncer de tireoide é considerado o mais comum da região da cabeça e pescoço.
A taxa de incidência da patologia aumentou em 10% na última década, sendo 5% acometida pela população mundial feminina e 2% da masculina. Já no Brasil, representa cerca de 6,4% de todos os cânceres da cabeça e pescoço. No estado de São Paulo, em 2014, o INCA registrou uma taxa de 8,32 casos a cada 100 mil mulheres e 0,46 casos a cada 100 mil homens. O câncer de tireoide normalmente não apresenta sintomas, mas em alguns casos o paciente pode apresentar nódulos na região do pescoço, sendo o tratamento mais comum, a cirurgia. Na maioria dos casos, quando a doença não se espalha para outras regiões do organismo ou a lesão é menos agressiva, o paciente tem cerca de 90% ou mais chances de cura.
Fonte: Gabriela Vilas Boas, Serviço de Comunicação USP/RP. Imagem: Getty Images.
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