Notícia
Seletividade contra o câncer
Pesquisadores da UFMG desenvolvem moléculas com potencial antitumoral que podem gerar fármacos menos nocivos ao ser humano
Divulgação
Fonte
UFMG
Data
segunda-feira, 26 junho 2017 11:40
Áreas
Bioquímica. Química Medicinal. Biotecnologia. Biologia Celular e Molecular. Oncologia.
As moléculas com atividade citotóxica têm como fator limitante sua atuação indiscriminada nas células sadias dos indivíduos em tratamento contra o câncer, deixando os pacientes debilitados. Uma solução para contornar esse problema é a obtenção de compostos mais seletivos, que exerçam ação mais restrita contra células tumorais, poupando, dessa forma, as células saudáveis.
Esse objetivo é perseguido desde 2010 pelo Grupo de Pesquisa em Síntese Orgânica e Química Medicinal liderado pelo Prof. Dr. Eufrânio Nunes da Silva Júnior, do Departamento de Química da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Recentemente, estudo resultante da tese de doutorado de Eduardo Henrique Guimarães da Cruz, do Programa de Pós-graduação em Química, concluiu que a inserção de átomos de enxofre ou selênio em moléculas da família β-lapachona modifica seu mecanismo de ação, conferindo a elas índices mais altos de seletividade. “Alguns dos compostos que desenvolvemos são 18 vezes mais seletivos contra linhagens de células tumorais do que contra células normais, em comparação com a atuação do fármaco doxorrubicina, amplamente utilizado em clínica”, compara o professor Eufrânio.
A descoberta resultou no depósito de uma patente internacional, intitulada Lapachone derivatives containing two redox centers and methods of use thereof, depositada no Escritório de Patentes e Marcas dos Estados Unidos em abril de 2017. O artigo sobre a patente foi publicado na edição 122 da revista científica European Journal of Medicinal Chemistry, revista de relevância mundial editada pela Sociedade Francesa de Química Medicinal.
A estratégia descortinada por Eduardo Henrique consiste na preparação de moléculas antitumorais contendo dois centros de oxidação-redução (redox), que atuam em reações químicas de transferências de elétrons. O centro redox da β-lapachona gera espécies reativas de oxigênio (EROs). O segundo centro redox, configurado pelos átomos de selênio e enxofre, atua como usuários de EROs.
“A célula normal, quando lesada, aciona um mecanismo de autodestruição celular, conhecido como apoptose ou morte celular programada. Já a célula tumoral não ‘entende’ esse comando e continua se multiplicando, de maneira descontrolada, levando à formação de tumores”, explica o professor Eufrânio. “Ao introduzirmos um composto que gera EROs, o processo de apoptose é induzido na célula lesada. Células tumorais estão em estresse oxidativo, ou seja, possuem mais EROs do que as normais. Moléculas contendo enxofre e selênio atuam nessa importante característica modificando o balanço redox, o que pode proporcionar maior seletividade”, detalha Eduardo Guimarães.
Parceria Internacional
Os compostos sintetizados na UFMG despertaram o interesse do professor norte-americano David Boothman, coordenador de um grupo de pesquisa na Universidade do Texas. “Ele estudou as substâncias e também as considerou muito promissoras. Isso impulsionou a geração da patente nos EUA, que cobre tanto a síntese das moléculas quanto a ideia relacionada com o mecanismo de ação farmacológica, até então não abordada profundamente pela ciência”, relata Eufrânio Júnior.
Todos os dados de atividade antitumoral, estudos de mecanismos de ação e seletividade constam na patente, que está disponível eletronicamente. Para que a descoberta tenha aplicação no desenvolvimento de novos protótipos com potencial anticâncer, ainda são necessários estudos mais detalhados em seres vivos, pré-clínicos e clínicos. Para impulsionar a pesquisa, os cientistas precisarão estabelecer parcerias com a indústria farmacêutica.
“Ainda não sabemos se venceremos essa jornada, mas nossa inovação abre horizontes para a síntese de moléculas cada vez mais eficientes em termos de seletividade. O importante é que descobrimos algo mais vantajoso em relação ao que vinha sendo estudado”, observa o professor Eufrânio Júnior.
Acesse a patente.
Acesse o resumo do artigo científico (em inglês).
Fonte: Matheus Espíndola, Boletim UFMG. Imagem: Divulgação.
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