Notícia
Prótese de bambu pode ser alternativa acessível para pessoas que passaram por amputação abaixo do joelho
Projeto recorre a materiais biodegradáveis e nacionais, como fibra de bambu e resina de mamona, para desenvolver produto de menor
Dr. João Victor Gomes dos Santos
Fonte
Jornal da Unesp
Data
segunda-feira, 2 outubro 2023 14:10
Áreas
Biomecânica. Ciência dos Materiais. Engenharia Biomédica. Fisiatria. Inclusão Social. Ortopedia. Próteses.
Pessoas com deficiência (PCDs) costumam ter gastos extras associados às suas condições, destinados a tratamentos, equipamentos ou tecnologias assistivas, como próteses e órteses. Estas últimas, aliás, muitas vezes apresentam custo elevado. A fim de procurar contribuir para reduzir estes custos, o pesquisador João Victor Gomes dos Santos, hoje doutor em Design pela Faculdade de Arquitetura, Artes, Comunicação e Design da Universidade Estadual paulista (Unesp), campus Bauru, iniciou seus estudos para desenvolver próteses transtibiais usando como material uma alternativa barata: o bambu.
Uma contribuição para a produção nacional de próteses
Segundo um levantamento realizado pela Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular (SBACV), o número de amputações subiu 56% entre 2012 e 2021. Apenas em 2021, foram registrados 28.906 procedimentos. Os resultados apontam ainda que, em 2022, pelo menos 85 pessoas tiveram seus pés ou pernas amputadas diariamente na rede pública de saúde, totalizando 31.190 cirurgias no ano. Se esses procedimentos infelizmente estão se mostrando cada vez mais comuns, a aquisição de uma prótese nada tem de trivial. Caso o paciente opte por adquirir uma de maneira particular, o valor pago por uma prótese de fibra de carbono pode variar entre R$ 5 mil e R$ 8 mil. Outra possibilidade é buscar receber uma por meio do SUS. A elevada procura aumenta o tempo de espera, que pode chegar a dois anos.
Parte da dificuldade para adquirir próteses de qualidade, e por valores acessíveis, deve-se ao fato de que tais dispositivos não são fabricados no Brasil. “Por meio da pesquisa, descobri que não produzimos as próteses de fato. Nós importamos a matéria-prima, como os pés e aqueles cilindros que servem de ‘canelas’. No Brasil é confeccionado apenas o encaixe, que deve ser feito manualmente por um técnico protesista, responsável por tirar as medições e modelar a parte de maneira a melhor se adaptar ao paciente”, disse o Dr. João Victor. O processo de importação encarece e dificulta o acesso.
Ao analisar o problema, o pesquisador viu a possibilidade de aproveitar o conhecimento que adquiriu enquanto participava do Projeto Bambu, da Unesp, e começou a desenvolver uma prótese transtibial de bambu para pessoas que têm a tíbia e a fíbula (ossos da parte inferior da perna) removidos de forma parcial ou total.
A tecnologia emprega três componentes principais: o pé, o cilindro e o encaixe, todos produzidos a partir da combinação de fibra de bambu com resina de mamona. Tanto o pé como o cilindro são feitos com a fibra de bambu laminada, que consiste em várias lâminas finas do material agrupadas e coladas com a utilização da resina de mamona. Posteriormente, a fibra é modelada, seja por meio do uso do torno, de forma a adquirir o formato cilíndrico que representa a canela, ou adaptada para simular o pé. Já o encaixe é feito a partir dos resíduos desses processos; de uma mistura de fibra de bambu triturada e de resina de mamona, obtém-se a massa necessária para modelar a peça manualmente, conforme as características do usuário.
O bambu apresenta propriedades mecânicas parecidas com as da fibra de carbono, o material comumente utilizado nesse tipo de próteses. Porém, o caule da planta da família Poaceae traz também o benefício de ser uma matéria-prima barata, biodegradável, de fácil descarte e com a possibilidade de ser produzida no Brasil. Outro benefício, destacado pelo Dr. Marco Antonio dos Reis Pereira, orientador de mestrado de João Victor, é que o bambu é classificado como material renovável devido à sua capacidade para crescer rapidamente: pode chegar a 30 metros após apenas quatro meses. “O bambu é um material muito versátil. Possui excelentes características físicas e mecânicas, com ótima resistência à tração, flexão e compressão. Esses traços viabilizaram seu uso no desenvolvimento da prótese”, explicou o Dr. Marco Antonio Pereira, professor do Departamento de Engenharia Mecânica da Unesp, campus Bauru.
As fibras longas do bambu propiciam ao material resistência e elasticidade, características essenciais para esse tipo de dispositivo, ao mesmo tempo que conferem leveza e reduzem o custo de produção. “O comportamento de leveza e resistência é muito semelhante ao da fibra de carbono. Porém, uma diferença importante é que o compósito produzido com a fibra de bambu e a resina de mamona não é tóxico, ao contrário do de fibra de carbono e resinas como epóxi. Além disso, por se tratar de material biodegradável, o descarte é mais fácil”, disse o Dr. João Victor.
O pesquisador explicou que um dos problemas enfrentados pela indústria da fibra de carbono envolve o descarte apropriado dos produtos que utilizam esse material, uma vez que ele não é reciclável. “O bambu e a resina de mamona surgem como alternativas interessantes. Afinal, se uma peça da prótese quebrar, você pode simplesmente jogar no lixo da cozinha. Outro ponto favorável é que a produção da resina de mamona é 100% nacional.”
Acesse a notícia completa na página do Jornal da Unesp.
Fonte: Malena Stariolo, Jornal da Unesp. Imagem: prótese de bambu vista em diferentes ângulos. Fonte: Dr. João Victor Gomes dos Santos.
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