Notícia
Proteína associada à dislexia condiciona regeneração nervosa
Pesquisadores portugueses avançam no estudo da capacidade regenerativa do tecido nervoso
DR
Fonte
Universidade do Porto
Data
sábado, 25 fevereiro 2017 12:30
Áreas
Bioquímica. Neurologia. Sistema Nervoso. Genômica.
Um grupo de pesquisadores do i3S – Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto, em Portugal, descobriu que uma proteína associada à dislexia pode atuar no desenvolvimento dos neurônios e na regeneração do tecido nervoso.
O trabalho, publicado na revista científica Cerebral Cortex, mostra que a proteína KIAA0319 “é muito importante na regulação do crescimento dos axónios (prolongamento que liga um neurónio a outro)” e que, conseguindo-se “diminuir os seus níveis”, é possível “aumentar a capacidade regenerativa do tecido nervoso”, explica a pesquisadora Dra. Mónica Sousa, que lidera o projeto.
Sabe-se que níveis baixos de KIAA0319 estão relacionados com o aparecimento da dislexia devido a um tipo de erro que ocorre durante o desenvolvimento embrionário, e que se manifesta quando as crianças começam a aprender a ler, por exemplo. Contudo a função desta proteína nas células nervosas não era, até agora, conhecida.
Recorrendo a trabalhos in vitro, e depois in vivo (em ratos), a equipe liderada pela Dra. Mónica Sousa provou que a KIAA0319, quando recebe um sinal, desencadeia uma cascata de acontecimentos que têm efeitos claros no desenvolvimento dos neurônios, incluindo o crescimento e a orientação. Ou seja, a presença da KIAA0319 e a quantidade em que está presente nos neurônios determina o efeito que um sinal pode ter quando chega à célula.
Segundo a Dra. Filipa Franquinho Ferreira, primeira autora do trabalho, “a sobre-expressão do gene que codifica a proteína KIAA0319 reduz o crescimento dos axónios – o prolongamento dos neurónios que estabelece conexão com outros neurónios para estabelecer as redes neuronais –; e a sub-expressão estimula o crescimento e desenvolvimento de neuritos (nome dado às células nervosas crescidas in vitro)”.
A equipe coordenada por Mónica Sousa procura “perceber o papel que desempenham determinadas proteínas no desenvolvimento dos neurónios, jovens ou adultos, com o objetivo de abrir novos caminhos para a regeneração do tecido nervoso”. Uma vez identificados os genes que regulam o crescimento axonal, inicia-se o árduo trabalho de perceber como é que esses genes e as proteínas que eles codificam agem. O objetivo é completar o intricado quebra-cabeças de acontecimentos bioquímicos que são afetados por cada um desses genes.
Dislexia e genes candidatos para explicar o fenómeno
O gene KIAA0319 (que codifica a proteína com o mesmo nome) é um dos genes associados à dislexia, mas há outros potenciais candidatos, como o ROBO1 e o DCDC2. No caso do ROBO1 já se demonstrou que tem uma forma de ação muito similar à descrita agora para o KIAA0319. Ambos, o KIAA0319 e ROBO1, estão sub-expressos nos casos de dislexia e quando sobre-expressos reduzem o crescimento dos axónios.
A Dra. Mónica Sousa explica que “múltiplas regiões cromossômicas têm sido associadas à dislexia, mas a mais consistentemente replicada inclui os genes KIAA0319 e DCDC2”. Não especulando sobre o impacto que o trabalho agora publicado poderá ter no estudo da dislexia, a pesquisadora afirma que “os resultados permitem descrever o conjunto de acontecimentos dentro dos neurônios, que são dependentes da proteína expressa pelo gene KIAA0319 e dos sinais que ela recebe do meio circundante, permitindo desenhar um mapa de moléculas que interagem entre si para que os neurônios se desenvolvam ou não”. Para a pesquisadora, “compreender estas redes bioquímicas abre imensas perspectivas de investigação com impacto em inúmeras condições clínicas. No caso da minha equipe o objetivo é encontrar ferramentas para reativar e controlar o crescimento de neurónios em casos de lesão severa”.
Fonte: Luísa Melo, i3S, Universidade do Porto. Imagem: DR.
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