Notícia
Pólipo uterino pode não estar associado ao câncer de endométrio
Pesquisa desmistifica a associação entre pólipo e câncer de endométrio
Wikimedia Commons
Fonte
FMRP-USP
Data
quinta-feira, 1 dezembro 2016 12:22
Áreas
Ginecologia. Saúde da Mulher. Diagnóstico por Imagens.
Os pólipos uterinos não estão necessariamente associados ao desenvolvimento de câncer de endométrio (tecido que reveste a parede do útero). Essa foi a conclusão de estudo desenvolvido no Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP), que vai de encontro ao que se acreditava até hoje entre os especialistas da área.
Coordenados pelo Prof. Dr. Júlio Cesar Rosa e Silva, os pesquisadores buscaram informações sobre as expressões gênicas dos pólipos endometriais. Foram avaliadas pacientes menopausadas e, dentro desse grupo de mulheres, foram separadas as com quadro sintomático e assintomático, ou seja, as que apresentaram sangramento e as que não apresentaram.
Após a análise dos dados genéticos dos pólipos endometriais dessas pacientes, foi observado que “não há diferença estatisticamente significativa entre os dois grupos quanto ao nível de expressão dos genes estudados nem em relação às variáveis clínicas consideradas como fatores de risco para câncer de endométrio”, afirma o professor.
As análises do pólipo endometrial (crescimento irregular de tecido na parede uterina) tornaram-se ainda mais precisas com a ajuda dos avanços tecnológicos. “Com o uso crescente da ultrassonografia na rotina ginecológica, vem aumentando o diagnóstico desta entidade e sua importância está no fato de que pode causar sintomas, e também sua associação com neoplasias endometriais”, explica o Dr. Júlio.
Ainda longe de serem completamente elucidados, diversos fatores hormonais, bioquímicos e genéticos compõem a patogênese dos pólipos endometriais, estruturas formadas por glândulas e estroma que se projetam a partir do tecido endometrial, camada que envolve o útero.
Os pólipos e a literatura científica
De uma forma mais ampla, a literatura científica registra que os pólipos endometriais podem surgir em dois momentos. O primeiro, no período reprodutivo, quando as pacientes classificadas como sintomáticas apresentam quadros de sangramento uterino e até mesmo problemas de fertilidade. O segundo momento é na pós-menopausa, quando as mulheres acometidas pelos pólipos apresentam, em sua maioria, quadros assintomáticos, ou seja, sem sintomas aparentes.
Nesse segundo momento, a informação agravante é o aumento dos fatores de risco do câncer de endométrio em mulheres menopausadas. Com o objetivo de estudar mais a fundo as características do pólipo uterino nessas pacientes e entender até que ponto o pólipo é um agente do câncer de endométrio, os pesquisadores da FMRP “avaliaram amostras colhidas a partir de pólipos endometriais ressecados por via histeroscópica de pacientes menopausadas, buscando marcadores genéticos, sabidamente envolvidos na carcinogênese endometrial”.
Resultados
A boa notícia é que os resultados coletados abriram caminho para a discussão sobre a relação dos pólipos uterinos com o câncer de endométrio: “Os pólipos endometriais podem não ser os precursores de neoplasia endometrial maligna e ser sim viés de detecção quando associados ao câncer”, explica Rosa e Silva.
O pesquisador complementa que, apesar de ser um estudo inicial, os dados obtidos abrem caminho para a discussão sobre a necessidade de cirurgias para a retirada de pólipos. “Mais estudos são necessários para confirmar a nossa hipótese, mas a importância seria que não necessitaríamos mais realizar a retirada de todos os pólipos endometriais, principalmente quando associados ao sangramento na pós-menopausa, evitando assim muitas cirurgias e suas complicações”, explica o professor Júlio.
As descobertas apresentadas pelo grupo de pesquisadores da FMRP no estudo “Análise da expressão gênica diferencial entre pólipos endometriais sintomáticos e assintomáticos” renderam o prêmio Golden Hysteroscope Award for the Best Paper on Hysteroscopy, na categoria melhor trabalho.
A cerimônia de premiação foi durante o Congresso Americano de Cirurgia Ginecológica (AAGL 45th Global Congress), que aconteceu de 14 a 18 de novembro, em Orlando, nos Estados Unidos, e reuniu médicos do mundo todo para a troca de experiências e avanços alcançados nos estudos desenvolvidos na área da cirurgia ginecológica.
A equipe de pesquisadores da FMRP foi formada pela Dra. Julia Kefalás Troncon, Dra. Juliana Meola, Dr. Francisco José Candido dos Reis, Dr. Omero Benedicto Poli-Neto e Dr. Antonio Alberto Nogueira, com coordenação do Dr. Julio Cesar Rosa e Silva.
O projeto recebeu suporte da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Fundação de Apoio ao Ensino, Pesquisa e Assistência (Faepa) do Hospital das Clínicas da FMRP.
Fonte: Crislaine Messias, FMRP-USP e Jornal da USP. Imagem: Wikimedia Commons.
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