Notícia
Plataforma para estudo de células do pulmão poderá ser usada para testar drogas contra a COVID-19
Novo dispositivo 3D com matriz extracelular pretende simular microambiente idêntico ao do pulmão humano
Divulgação, TissueLabs
Fonte
EACH-USP | Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo
Data
terça-feira, 26 maio 2020 11:15
Áreas
Bioquímica. Biotecnologia. Medicina. Impressão 3D.
A necessidade de compreender melhor a ação do vírus Sars-CoV-2 no epitélio pulmonar, tecido afetado pelo patógeno em pacientes com COVID-19, levou a startup paulista TissueLabs a criar uma plataforma que mimetiza o órgão. Batizada de MatriWell, o aparato em formato tridimensional (3D) é dotado de uma matriz extracelular, componente que age como suporte para as células presentes no pulmão, permitindo que elas fiquem expostas a um ambiente similar ao do organismo humano. A ideia é que o dispositivo seja usado para testar drogas contra o novo coronavírus.
“O MatriWell é um dispositivo para cultura celular criado para oferecer às células epiteliais um microambiente idêntico ao natural”, explicou o Dr. Gabriel Liguori, médico e CEO da TissueLabs, empresa especializada em tecnologias para fabricação de órgãos e tecidos em laboratório. “A plataforma é uma interface ar-gel na qual as células epiteliais pulmonares ficam expostas ao ar em um de seus polos e às proteínas de matriz extracelular em outro, exatamente como acontece no pulmão. Com isso, as células podem ser cultivadas de maneira mais representativa”, explica Gabriel. A matriz extracelular é um substrato formado por uma combinação de centenas de proteínas sobre o qual as células de diversos tecidos crescem.
O aparato, de uso único, é composto por duas partes. A primeira é uma peça de resina biocompatível, fabricada de forma a permitir ser inserida em placas de cultura de 12 poços (pequenos reservatórios para cultura de células). Tecnicamente um inserto (dispositivo encaixável em outro), ela se assemelha a um copo com o centro afunilado, medindo 2 centímetros (cm) de altura por 2 cm de diâmetro. A outra parte é um plug de hidrogel composto por proteínas que formam a matriz extracelular pulmonar. “Esse plug é o material de suporte sobre o qual as células epiteliais serão cultivadas”, disse o Dr. Liguori.
Segundo o CEO da TissueLabs, existem hoje duas alternativas para cultivo de células pulmonares. A primeira, menos representativa do ambiente pulmonar, faz uso de placas de poliestireno. Nesse caso, as células, além de não estarem em contato com a matriz extracelular presente no tecido nativo, ficam submersas em meio de cultura, sem contato com o ar. O segundo método são as interfaces ar-líquido, onde as células pulmonares ficam em contato com o ar em um de seus polos, mas ainda não são expostas à matriz extracelular no outro. “É sabido que a matriz extracelular tem papel fundamental no comportamento celular, direcionando a célula a expressar um fenótipo [características observáveis] correspondente ao do tecido in vivo”, esclarece o Dr. Gabriel Liguori.
De forma geral, as pesquisas biomédicas usam culturas bidimensionais (2D), como as duas citadas acima. Com o MatriWell, a TissueLabs, abrigada no Centro de Inovação, Empreendedorismo e Tecnologia da Universidade de São Paulo (Cietec-USP), quer oferecer aos cientistas a possibilidade de migrar suas pesquisas do ambiente 2D para o 3D. “Nossa plataforma reproduz o que ocorre no pulmão. Esse é o principal diferencial em relação às alternativas existentes no mercado para estudos in vitro do epitélio pulmonar”, disse o médico.
Processo de validação
A bioquímica Dra. Viviane Nunes, coordenadora do Laboratório de Estudos da Fisiologia da Pele e Engenharia Tecidual da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP), e a estudante de doutorado Jennifer Faria dos Santos, orientada por ela no programa Interunidades em Biotecnologia, vinculado ao Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP, trabalham na validação do dispositivo. “Trata-se de uma tecnologia importante para o estudo dos mecanismos de virulência do Sars-CoV-2, além da identificação de alvos terapêuticos e realização de ensaios com drogas, orientando futuros ensaios pré-clínicos e clínicos”, destacou a Dra. Viviane Nunes.
O MatriWell foi lançado no fim de abril, após quatro semanas de desenvolvimento, e já recebeu dezenas de pedidos, cerca de metade do exterior. Uma placa de cultura com 12 dispositivos deverá custar em torno de R$ 1,2 mil. No momento, contudo, a TissueLabs, empresa apoiada pelo programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE) da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), oferece a plataforma gratuitamente para pesquisadores brasileiros e estrangeiros que estejam trabalhando diretamente com o Sars-CoV-2 e queiram estudar as células pulmonares. Os interessados devem preencher um formulário no site da startup. “Recebemos no passado um importante incentivo da FAPESP, que permitiu a criação e o crescimento da TissueLabs. Hoje, retribuímos com essa tecnologia que acreditamos ser importante para enfrentar a Covid-19”, concluiu o CEO da TissueLabs.
Acesse a notícia completa na página da EACH-USP.
|Fonte: EACH-USP. Imagem: Divulgação, TissueLabs.
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