Notícia

Pesquisa do IB da Unicamp investiga aplicações terapêuticas de plantas

Estudo da bioquímica dos vegetais leva a moléculas com aplicações em saúde

Getty Images

Fonte

Unicamp

Data

quarta-feira, 8 abril 2015 08:20

Áreas

Biologia. Bioquímica. Indústria Farmacêutica.

O Prof. Dr. Marcos José Salvador, do Instituto de Biologia (IB) da Universidade estadual de Campinas (Unicamp), atua no Departamento de Biologia Vegetal em que mantém linha de pesquisa na área de Tecnologia Fito-farmacêutica, Produtos Naturais e Bioensaios, dedicando-se a investigações que utilizam produtos de origem vegetal com vistas a utilizações terapêuticas. A finalidade do estudo é entender como a bioquímica da planta pode servir como fonte de moléculas que possam ter aplicações terapêuticas.

Dentro do imenso universo de plantas e táxons vegetais, o seu grupo de pesquisa trabalha particularmente com três famílias: a da Amaranthaceae – em que se encontram espécies utilizadas como alimentos ou para fins medicinais como beterraba, pfaffias, gonphrena, alternanthera, quinoa; a da Annonacea, em que estão a fruta do conde, a pinha, a pindaíba, o marolo; a da Myrtaceae, composta por frutas comestíveis como gabiroba, pitanga, uvaia, pitanga. Os estudos, muitas vezes, se apoiam em informações etnobotânicas acumuladas pela sabedoria popular relacionada ao uso de plantas com fins medicinais.

Nesse contexto, constituíram objeto de estudo duas plantas do gênero Pfaffia conhecidas como ginseng brasileiro ou Paratudo, da família Amaranthaceae, importantes na medicina popular em que são empregadas no combate a dores, inflamações e processos infecciosos. Estudos farmacológicos reportam algumas espécies de Pfaffia que possuem atividade analgésica, anti-nociceptiva, anti-inflamatória, antimicrobiana e antitumoral, sugerindo o potencial destas matrizes vegetais como fonte de agentes biologicamente ativos. Em vista destes fatos, pesquisa orientada pelo docente deu origem à tese de doutorado do biólogo Wallace Ribeiro Correa que teve como objetivo a prospecção de extratos, frações e substâncias bioativas presentes nas espécies Pfaffia townssendii Pedersen e Pfaffia tuberosa Spreng, das quais poucos estudos são mencionados na literatura e se revelam praticamente desconhecidas do ponto de vista fitoquímico e quanto às atividades biológicas. “Não basta apenas comprovar a bioatividade, é preciso identificar quais os componentes químicos presentes na planta medicinal responsáveis pelas diversas atividades biológicas a ela associadas e efetivamente comprová-las. É desta forma que a investigação científica justifica e corrobora o conhecimento popular”, diz Wallace.

Para o professor Marcos, trata-se de uma pesquisa com abordagem multidisciplinar que se inicia com a coleta e identificação taxonômica do material vegetal e continua com o preparo de extratos, a avaliação da bioatividade frente a diferentes modelos biológicos (in vitro e in vivo) e a identificação dos princípios ativos que podem estar correlacionados com os efeitos biológicos observados. Dentre as avaliações biológicas realizadas estão a atividade antiproliferativa frente a células tumorais; a alguns parasitas relacionados a doenças negligenciadas, como o Trypanosoma cruzi, agente etiológico da doença de Chagas, e a Leishmania (L.) amazonensis, protozoário causador da leishmaniose. As espécies vegetais selecionadas são brasileiras, ocorrem em regiões específicas do território nacional e os resultados encontrados apontam na direção de um recurso genético importante em termos de fonte de moléculas ativas. Como a pesquisa centrou-se em espécies pouco estudadas resultaram informações até então inéditas.

A tese foi desenvolvida junto ao Programa de Pós-graduação em Biociências e Tecnologia de Produtos Bioativos do IB-Unicamp, que tem por finalidade formar recursos humanos para a docência e a pesquisa capacitados para a realização de estudos multidisciplinares e integrativos para a obtenção, o desenvolvimento e a utilização de insumos e produtos bioativos visando a manutenção e recuperação da saúde. Trata-se da primeira tese de doutorado defendida nesse programa.

Resultados

As propriedades antioxidantes das plantas estudadas revelam-se particularmente importantes. Sabe-se que várias patologias incluindo o câncer, doenças cardiovasculares, doença de Alzheimer e de Parkinson, seguidas de doenças inflamatórias e imunológicas como artrite, asma, alergia e outras relacionadas com o processo de envelhecimento apresentam em sua etiologia, pelo menos em parte, os efeitos danosos da produção de radicais livres. Assim, há um interesse crescente no estudo de plantas medicinais, alimentos e produtos naturais ricos em antioxidantes visando a quimioprevenção destas doenças.

Esse estudo abre perspectivas para novas abordagens, para detalhamento dos efeitos biológicos observados, para etapas de desenvolvimentos de produtos utilizando essa matéria prima de origem vegetal. O docente considera importante deixar claro que um trabalho científico cumpre determinados objetivos, mas o seu alcance não se esgota em si mesmo. A partir das informações geradas novas perguntas surgem e dão origem a novas investigações. A obtenção de um produto qualificado em termos clínicos demanda muitos anos de pesquisas. Para ele, trata-se de um estudo inicial, de ciência básica, para o avanço do conhecimento.

Sobre a importância e o alcance do estudo, os pesquisadores enfatizam que a indústria farmacêutica tem grande interesse em moléculas ativas provenientes de produtos naturais com vistas a aplicações terapêuticas. O planejamento de fármacos e a busca de novos medicamentos a partir de produtos naturais é um recurso bastante empregado pelos conglomerados farmacêuticos. Entre os medicamentos prescritos e registrados no mundo, eles consideram que mais de 30% deles são constituídos de fármacos obtidos a partir de produtos naturais ou de outras moléculas deles originadas. De fato, embora certas moléculas isoladas de produtos naturais apresentem inconvenientes para o uso clínico, em vista de suas características físico-químicas ou estruturais, podem servir como protótipo para síntese de outras substâncias mais adequadas a aplicações terapêuticas. É a síntese de fármacos a partir de produtos naturais.

Fonte: Carmo Gallo Netto, Jornal da Unicamp. Imagem: Getty Images.

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