Notícia
Pele de tilápia auxilia em cirurgias em crianças com deformidades nos dedos das mãos
Novo procedimento no pós-operatório de cirurgia de sindactilia utiliza a pele de tilápia liofilizada no lugar dos curativos comuns
Viktor Braga, UFC
Fonte
UFC | Universidade Federal do Ceará
Data
sexta-feira, 8 outubro 2021 11:50
Áreas
Biotecnologia. Cirurgia. Medicina.
Iniciados em 2015 nos laboratórios do Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento em Medicamentos (NPDM) da Universidade Federal do Ceará (UFC), os estudos com o uso de pele da tilápia continuam gerando novas aplicações na área da saúde. Desta vez, a pele de tilápia está auxiliando na recuperação cirúrgica de crianças nascidas com síndrome de Apert, causada por uma mutação genética que leva, dentre outras coisas, à sindactilia (quando os dedos das mãos ou dos pés nascem juntos).
A técnica está sendo desenvolvida pelo Hospital Sobrapar, de Campinas, em parceria com o médico Dr. Edmar Maciel, presidente do Instituto de Apoio ao Queimado (IAQ) e coordenador-geral das pesquisas com pele da tilápia iniciadas no NPDM.
A cirurgia, que utiliza peles de tilápia liofilizada (desidratadas, esterilizadas e embaladas a vácuo), já foi feita de forma bem-sucedida nas duas mãos de três crianças entre 3 e 6 anos previamente selecionadas, entre os dias 12 e 14 de setembro. A expectativa é que outras sete crianças passem pelo mesmo procedimento nos próximos meses.
Procedimento
Na versão tradicional, e dependendo do tipo de caso, a técnica para a separação dos dedos no caso da sindactilia implica na realização de várias cirurgias. O pós-cirúrgico conta sempre com auxílio de curativos comuns e, uma vez separados, os dedos recebem enxertos de pele para preencher a área danificada.
A complexidade do procedimento exige a troca constante dos curativos, provocando desconforto, dores e muito trabalho ao longo do período pós-cirúrgico. Além disso, o processo de autoenxerto nem sempre é satisfatório devido às más condições da área que vai receber a pele. Isso, por sua vez, também aumenta o custo do tratamento.
O novo procedimento utiliza a pele de tilápia liofilizada no lugar dos curativos. Em um processo parecido ao que ocorre com as vítimas de queimadura, o curativo da pele da tilápia reduz a quantidade de vezes que precisa ser trocado e, consequentemente, a dor e o desconforto do paciente. Mas não apenas isso: o contato com a pele da tilápia promove a transferência do colágeno para os dedos do paciente, o que traz diversas vantagens na pós-cirurgia.
“Normalmente, quando há a separação dos dedos, fica uma área cruenta e o tratamento com a pele de tilápia permitiu a preparação do leito receptor para enxertia com a pele humana. Essa preparação promoveu uma melhor retenção do enxerto de pele humana (do próprio paciente) total ou parcial com diminuição do número de curativos e provável ganho de duas a quatro semanas no processo final de cicatrização dos dedos”, disse o cirurgião plástico Dr. Cássio Eduardo Raposo, vice-presidente do Hospital Sobrapar.
Segundo o médico Edmar Maciel, foi possível constatar redução de 50% do número de curativos, alívio na dor, sensível melhora na área dos dedos que irá receber o enxerto (leito receptor), boa pega do enxerto após a última cirurgia, redução do tempo cirúrgico, menor morbidade e redução de custos no tratamento.
Pele de Tilápia
O procedimento é mais um uso da pele da tilápia no campo da saúde. As pesquisas foram iniciadas em 2015, empreendidas pelo médico Edmar Maciel, do IAQ e do Instituto Dr. José Frota, em parceria com a UFC, por meio do Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento de Medicamentos (NPDM), coordenado pelo professor Dr. Odorico de Moraes.
A fase pré-clínica durou 18 meses na UFC, contando com 11 etapas, entre as quais a esterilização da pele, os estudos toxicológico e microbiológico e os testes em animais. O processo final de esterilização necessita de irradiação, realizada no Instituto de Pesquisas Energéticas Nucleares (IPEN). Após todos esses processos, a pele de tilápia começou a ser testada em pessoas em 2016.
De início, foi aplicada no tratamento de queimaduras, com excelentes resultados. Em pouco tempo, o material passou a ser adotado também em cirurgias de reconstrução vaginal e de redesignação sexual. Hoje, as pesquisas já projetam a utilização do produto na odontologia, na nutrição e na produção de cosméticos.
Os estudos levaram à criação de diversos produtos, como a pele no glicerol (ou glicerina), a pele liofilizada (desidratada), a matriz dérmica e a extração de colágeno. A pele no glicerol vem sendo aplicada no tratamento de queimaduras e em usos ginecológicos, assim como a pele liofilizada. Já a matriz dérmica e a extração de colágeno têm aberto amplo campo de possibilidades para a utilização da pele da tilápia.
A matriz dérmica, também denominada ‘scaffold’, é um estrutura feito de colágeno puro, obtido através de um longo processo laboratorial de remoção das células do peixe. É por meio desse material que migram os elementos da cadeia da cicatrização da pele.
As pesquisas estão sendo realizadas em 13 especialidades médicas, envolvendo a matriz dérmica ou a estrutura de colágeno, entre elas: cirurgia geral (hérnia abdominal), cirurgia plástica (queimaduras e prótese mamária), cardiologia (válvulas e vasos), neurologia (recobrimento de meninge), urologia (reconstrução de uretra e doença de Peyronie), otorrinolaringologia (perfuração de tímpano), endoscopia (fístula esofágica), oftalmologia (lesões de córnea), dentre outras.
Acesse a notícia completa na página da UFC.
Fonte: Dr. Edmar Maciel e UFC. Imagem: Viktor Braga, UFC.
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