Notícia

Parto normal, enfermagem obstétrica e a manobra de Kristeller

Conselho Federal de Enfermagem proíbe participação de profissionais da enfermagem

Shutterstock

Fonte

Cofen, revista “Archives od Gynecology” e revista “Geburtsshilfe und Frauenheikunde”

Data

domingo, 12 fevereiro 2017 15:03

Áreas

Medicina. Enfermagem. Ginecologia e Obstetrícia.

A manobra de Kristeller é um procedimento obstétrico opcional que pode ser utilizado durante o parto e que consiste na aplicação de pressão na parte superior do útero na segunda fase do trabalho de parto, com o objetivo de facilitar a saída do bebê.

Embora seja uma técnica ainda hoje usada em muitos lugares do mundo, há um crescente movimento pela proibição do procedimento, devido aos riscos que pode trazer tanto para a mãe quanto para o bebê, sendo frequentemente associado com casos de violência obstétrica.

Conselho Federal de Enfermagem proíbe

A plenária do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) homologou no último dia 23 de janeiro, por unanimidade, a decisão 95/2016 do Coren-RS, que proíbe a participação de profissionais de Enfermagem na manobra de Kristeller.

“Não há evidências científicas que respaldem a realização da manobra de Kristeller “, ressaltou a conselheira relatora, Dra. Fátima Sampaio. O Ministério da Saúde, na publicação “Parto, Aborto e Puerpério: Assistência Humanizada para a Mulher”, descreve o procedimento como “pressões inadequadamente aplicadas ao fundo uterino no período expulsivo”, classificando-a como claramente prejudicial ou ineficaz.

O Relatório Cochrane, que sustenta evidências científicas da Organização Mundial de Saúde no campo da Atenção Perinatal, inclui a manobra de Kristeller entre as “práticas danosas ou inefetivas que merecem ser abandonadas”.

A Diretriz Nacional de Assistência ao Parto Normal, produzida pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias do SUS (Conitec/MS) em parceria com atores técnicos e sociais, incluindo os conselhos federais de Enfermagem e de Medicina, também contraindica a manobra de Kristeller, no item 14.2.5.

Para o presidente do Coren-RS, Dr. Daniel Menezes, a decisão respalda a atuação dos profissionais de Enfermagem, pressionados a realizar o procedimento contraindicado.

“O Rio Grande do Sul apresenta altos índices de violência obstétrica. Muitos profissionais de Enfermagem ainda realizam a manobra de Kristeller, seja por desconhecimento ou por pressão da equipe médica. Esta decisão, proposta pelo Grupo Técnico de Saúde do Coren-RS, respalda a recusa de execução, promovendo uma atuação ética e pautada em evidências dos profissionais que atuam na Enfermagem obstétrica”, explica o presidente do Coren-RS, Daniel Menezes.

Estudos recentes

Em artigo publicado em 2012 na revista científica Archives of Gynecology, especialistas italianos avaliaram diretamente os efeitos da pressão no fundo do útero sobre a função do assoalho pélvico após parto vaginal. Acompanhando 522 parturientes, os pesquisadores relataram a ocorrência de episiotomias (incisão para ampliar o canal de parto), dispareunias (dores durante o ato sexual posterior ao parto) e dor perineal significativamente maiores no grupo de mulheres sujeitas à manobra de Kristeller. Apesar de não relatarem aumento no número de casos de prolapso genital nem modificação da resistência do assoalho pélvico entre mulheres sujeitas ao procedimento, os autores reforçam a ocorrência de episiotomias e destacam que a literatura não demonstra benefícios ou riscos do procedimento, reforçando a necessidade de mais pesquisas na área.

Acesse o artigo científico completo (em inglês).

Em outro estudo, publicado em 2014 na revista alemã Geburtsshilfe und Frauenheikunde (Obstetrícia e Ginecologia), pesquisadores da Universidade de Zurique, na Suíça, avaliaram os efeitos da manobra de Kristeller sobre a mãe e o bebê, em partos vaginais espontâneos e assistidos. Foram analisados 9743 partos e os pesquisadores reportaram uma associação significativa do parto vaginal espontâneo com a acidose fetal. Do lado materno, o estudo não reportou associação significativa do procedimento com resultados adversos para a mãe, como fissuras no esfíncter anal, ruptura uterina ou aumento da perda de sangue.

Acesse o resumo do artigo científico (em inglês).

Fonte: Cofen, revista “Archives od Gynecology” e revista “Geburtsshilfe und Frauenheikunde”. Imagem: Shutterstock.

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