Notícia

Os primeiros sinais da obesidade

Estudo com conclusões inéditas associa disfunções no hipotálamo a comprometimento do controle da saciedade em crianças

Antonio Scarpinetti e André Vieira, Unicamp

Fonte

Unicamp

Data

quarta-feira, 23 novembro 2016 20:30

Áreas

Medicina. Endocrinologia. Pediatria. Diagnóstico por Imagens.

Em estudo de doutorado da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (FCM-Unicamp), realizado entre 2014 e 2015 no Hospital de Clínicas (HC) da Universidade, crianças e adolescentes obesos apresentaram sinais radiológicos sugestivos de gliose [alteração da substância branca] no hipotálamo. Esse achado pode estar associado ao comprometimento da função de controle do apetite e da saciedade na obesidade infantil, segundo a pesquisadora Dra. Letícia Espósito Sewaybricker.

De acordo com a autora do trabalho, que é pediatra, essa é a primeira investigação que comprova que o hipotálamo pode ser funcional e estruturalmente afetado na obesidade infantil, visto que ele é a área responsável pelo controle do balanço energético e da manutenção do peso corporal. O que existiam até aqui eram estudos envolvendo adultos e modelos animais. Com crianças, esse é um resultado inédito.

O trabalho trouxe várias outras constatações: em estudos funcionais, o hipotálamo das crianças obesas apresentou uma resposta diminuída em relação ao que deveria, quando ingeriam bebidas superdoces [de glicose]. Essas crianças também mostraram uma menor conexão entre o hipotálamo e o restante do cérebro, em comparação a crianças com peso normal.

A pesquisadora avaliou a composição corporal e as dosagens de hormônios da saciedade e dos marcadores inflamatórios. Dentre as principais descobertas, ela encontrou correlação entre os menores sinais funcionais do hipotálamo e a maior presença de gliose no núcleo médio basal hipotalâmico das crianças e adolescentes com obesidade.

Essa alteração no tecido hipotalâmico esteve diretamente relacionada à quantidade de gordura corporal e em especial à quantidade de gordura visceral [na região da cintura], sabidamente a de maior risco metabólico.

A Dra. Letícia também verificou associação entre os sinais de gliose e os níveis séricos de leptina [hormônio que desempenha papel-chave na regulação, ingestão e no gasto energético].

Ela chegou a todas essas conclusões ao abordar em sua tese como a obesidade recebe influência do hipotálamo e como ele funciona em crianças e adolescentes com obesidade. Para isso, ela estudou 12 crianças com obesidade e 11 adolescentes com peso normal que tinham idade entre 9 e 17 anos em acompanhamento no Ambulatório de Obesidade e no Ambulatório de Pediatria Geral do HC.

A tese, desenvolvida em linha de pesquisa que envolve “Endocrinopediatria, neuroimagem e imunologia”, dentro do programa de pós-graduação de Saúde da Criança e do Adolescente, foi orientada pelos docentes da FCM Dr. Gil Guerra Júnior e Dr. Lício Velloso.

Imagens
A pesquisadora trabalhou com métodos de imagem diferentes, entre eles a ressonância magnética quantitativa [chamada mapa paramétrico T2] e a ressonância magnética funcional.

Na ressonância quantitativa, foi verificada a qualidade do tecido através de parâmetros quantitativos. Com isso, foi possível detectar sinais de gliose – que age como uma espécie de cicatriz que se forma pela proliferação de células inflamatórias.

Na segunda ressonância, as imagens significativas foram identificadas funcionalmente no cérebro. A ideia era detectar alguma atividade neuronal com irrigação sanguínea mais intensa. No caso das crianças e adolescentes obesos avaliados, eles apresentaram uma atividade neuronal menor.

Em estudos com animais, houve indícios de que uma dieta rica em gordura poderia ser a causa dessa inflamação no hipotálamo e de que ela aparece antes mesmo da obesidade estar instalada.

Quando se altera o controle do apetite, forma-se um círculo vicioso em que a pessoa (ou o animal) se alimenta mais, não percebe que já está satisfeita e então passa a fazer uma alimentação excessiva. Com isso, vai ganhando peso e a tendência é de que a inflamação somente piore esse quadro.

A despeito da gliose poder estar associada à causa da obesidade, em estudos com humanos ainda não se chegou a essa conclusão. “Esperamos que novos estudos em breve possam esclarecer essa dúvida”, concluiu.

Leia a reportagem completa no Jornal da Unicamp.

Fonte: Isabel Gardenal, Unicamp. Imagem: Criança passa por avaliação em aparelho de densitometria óssea, por Antonio Scarpinetti e André Vieira, Unicamp.

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