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O papel do cálcio na regeneração do fígado
UFMG e universidade francesa iniciam pesquisa conjunta para desvendar os mecanismos de regeneração das células hepáticas
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Acaba de ser aprovado projeto de pesquisa em parceria entre a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e a Universidade de Lille, na França, sobre o tema “mecanismos intracelulares envolvidos na regeneração hepática”, no âmbito do edital de cooperação entre a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig) e a Nord-Pas de Calais (NDPC), com recursos de aproximadamente 200 mil euros.
Uma das linhas de investigação na UFMG é liderada pela Profa. Dra. Maria de Fátima Leite. “O processo de regeneração do fígado é impressionante. Se removemos 70% do fígado de um camundongo, ele consegue se regenerar por completo em até três dias. Enquanto não recupera as necessidades fisiológicas normais, o órgão não para de crescer”, explica a professora.
O objetivo do estudo é entender o mecanismo que ocorre dentro das células hepáticas envolvidas no processo de divisão e multiplicação. A pesquisa terá duas etapas: inicialmente, tentará comprovar os fatores de crescimento associados à proliferação da célula hepática. Depois, buscará entender porque a regeneração fica comprometida em algumas doenças, como esteatose hepática e alcoolismo hepático.
“Queremos estudar o funcionamento do fígado saudável e também o doente, para entender qual parte da célula fica comprometida neste último caso. Na esteatose hepática não alcoólica, doença que afeta um terço da população adulta que não consome álcool, compreender o que acontece no fígado é importante para fins preventivos”, aponta a pesquisadora.
Cálcio é o segredo
A pesquisa não parte do zero. Há mais de uma década, uma equipe de pesquisadores liderada pela professora Maria de Fátima Leite descreveu uma nova organela celular, o retículo nucleoplasmático. Essa organela, que se localiza no núcleo da célula, é constituída por tubos que armazenam cálcio, mineral diretamente ligado a diversas atividades celulares.
“Ela é muito parecida com o retículo endoplasmático, que fica no citoplasma celular e também armazena cálcio, íon que exerce várias funções no corpo, como contração celular e secreção de hormônios. Percebemos que o cálcio encontrado no citoplasma da célula tem função diferente do cálcio nuclear. Este age diretamente na proliferação da célula hepática, ou seja, na sua regeneração”, explica.
As descobertas sobre o retículo nucleoplasmático representaram o passo inicial da pesquisa que começa neste ano. “Elas surgiram a partir de testes com células hepáticas. Constatamos que um fígado com problema de regeneração tem danificada a sua maquinaria de cálcio celular [componentes que desencadeiam a liberação intracelular do íon e culminam com proliferação celular]. É essa hipótese que queremos comprovar”, aponta.
A pesquisadora espera que o estudo, que se inscreve no campo da pesquisa básica, amplie a compreensão dos processos envolvidos na regeneração das células hepáticas, resultando mais tarde em terapias capazes de melhorar a qualidade de vida de pessoas que apresentam quadros patológicos hepáticos, além de aumentar os índices de órgãos disponíveis para transplante.
“Ao descrever o que está errado na liberação de cálcio nas células de uma pessoa com doença hepática, podemos tratar esse paciente para que tenha mais qualidade de vida. Além disso, como o fígado portador de esteatose hepática ou de alcoolismo hepático não pode ser doado, mais fígados estarão disponíveis para transplantes no futuro caso a ciência encontre a cura dessas doenças”, analisa.
Sinal dos tempos
A pesquisadora acrescenta que pesquisas focadas em células hepáticas são importantes porque o aumento da incidência de doenças no fígado é reflexo dos costumes da sociedade moderna.
“As pessoas cultivam hábitos que afetam esse órgão. Elas comem mal, bebem muito e tomam anabolizantes e medicamentos cada vez mais fortes. São hábitos que lesionam o fígado. Precisamos melhorar sua capacidade de regeneração caso esteja comprometido por alguma patologia”, conclui a Dra. Maria de Fátima Leite.
Fonte: Luana Macieira, UFMG. Imagem: Shutterstock.
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