Notícia
Novo material permite melhor controle de qualidade das máquinas de radioterapia
Material adquire propriedades luminescentes e dosimétricas
Wikimedia Commons.
Fonte
USP
Data
sábado, 30 abril 2016 16:45
Áreas
Física Médica. Engenharia Clínica. Bioeletrônica. Ciência dos Materiais. Radioterapia.
Em busca de maior eficiência para os detectores de radiação usados em máquinas de radioterapia, pesquisadores do Departamento de Física da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FFCLRP/USP) desenvolveram novo material, a base de óxido de magnésio, com adição de Lítio, Cério e Samário e que adquire propriedades luminescentes e dosimétricas, capaz de registrar com precisão, e quantas vezes for necessário, a quantidade de radiação recebida. A ideia dos pesquisadores é que, no futuro, esse possa ser um importante instrumento no controle de qualidade das máquinas de radioterapia.
A radioterapia de intensidade modulada e a próton terapia são técnicas modernas utilizadas no tratamento de tumores. Essas técnicas permitem alcançar alvos específicos com altas doses de radiação, poupando o máximo possível os tecidos saudáveis. Esses tratamentos são sofisticados e exigem planejamento e programa de controle de qualidade complexos. Segundo especialistas, faltam detectores eficientes para isso, que consigam medir as doses de radiação emitidas pelas máquinas de radioterapia, capazes de reproduzir sozinhos a distribuição de dose planejada de radiação e que identifiquem e meçam alvos.
Segundo o físico Dr. Luiz Carlos de Oliveira, esse é o resultado de pesquisa inédita e o material funciona como se fosse um dispositivo de memória. Quando submetido à radiação ionizante (radiação com altas concentrações de energia), o material sofre um processo de “gravação”, ou seja, informações são armazenadas no seu interior. Se desejamos saber a quanto de radiação o material foi exposto basta ‘ler’ a informação registrada. A leitura da informação armazenada no material é feita por meio da sua iluminação. “Quanto maior for a luz emitida de volta pelo material, maior terá sido a dose a que ele foi exposto”.
Para deixar mais claro o funcionamento do material, Oliveira faz uma analogia com uma fotografia. “Seria como produzir a imagem medindo a intensidade de luz de cada um dos seus milhões de pontos (pixels). ”
Dosimetria da radiação
Com características únicas, diz o pesquisador, esse novo material é adequado para a dosimetria da radiação ionizante, como o RX, por exemplo, em duas dimensões, a chamada dosimetria bidimensional, que faz a leitura de uma extensa área a ser medida. Outro importante resultado apresentado pelo material desenvolvido no laboratório é a rapidez com que é possível fazer a leitura da quantidade dessa radiação. “Esse material é altamente sensível à radiação, pode medir desde doses muito pequenas até muito grandes, além de manter a estabilidade do sinal e também ser capaz de distinguir e medir alvos”.
O Dr. Luiz Carlos lembra que, atualmente, a determinação da distribuição de dose é uma dificuldade tecnológica. Outros laboratórios também trabalham para solucionar o problema e diversos tipos de materiais têm sido usados ou testados na dosimetria bidimensional em radioterapia. “É difícil medidas de precisão melhor que 5%, devido à combinação de fatores como, por exemplo, dependência com a energia de fóton, alcance dinâmico limitado, que é o trecho entre o valor mais escuro e o mais claro de uma imagem, instabilidade do sinal, condições de processamento”.
E o pesquisador comemora o feito do laboratório onde atua “o material que descobrimos supera esses fatores limitantes devido as suas propriedades intrínsecas. Trata-se de um material que reúne várias das características que os outros materiais apresentam separadamente, num único pacote”. O Dr. Luiz Carlos lembra, ainda, que o óxido de magnésio acrescido de Lítio, Cério e Samário não se encontra disponível para comercialização, pois ainda é fabricado em escala laboratorial. “No momento somente nosso laboratório é capaz de reproduzi-lo”, diz o pesquisador.
A pesquisa deu origem ao trabalho “MgO: Li, Ce, Sma as a high sensitive material for Optically Stimulated Luminescense dosimetry”, que foi publicado no dia 14 de abril, na revista Scientific Reports do Grupo Nature. O trabalho é resultado do pós-doutorado do Dr. Luiz Carlos e foi supervisionado pelo Prof. Dr. Oswaldo Baffa Filho, da FFCLRP e contou com a colaboração do Prof. Dr. Eduardo Yukihara, da Universidade do Estado de Oklahoma, Estados Unidos.
Fonte: Agência USP. Imagem: Wikimedia Commons.
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