Notícia
Mortalidade materna: um descaso com a saúde da mulher
Especialista da Unifesp alerta que evolução da situação atual depende da qualificação dos serviços
Pixabay
Fonte
Unifesp
Data
quarta-feira, 25 maio 2016 07:20
Áreas
Enfermagem. Neonatologia. Obstetrícia. Saúde da Mulher.
Caracterizada pela morte de uma mulher durante a gestação, parto ou pós-parto, sem levar em consideração causas acidentais ou incidentais, a morte materna no Brasil ainda preocupa, apesar dos avanços das últimas décadas. “A cada dois minutos, uma mulher morre por morte materna no mundo. Morrem, anualmente, mil mulheres brasileiras por complicações relacionadas à gravidez”, alerta a Profa. Dra. Janine Schirmer, diretora da Escola Paulista de Enfermagem da Universidade Federal de São Paulo (EPE/Unifesp), que estuda o tema saúde da mulher há quase 30 anos.
Ela explica que existem duas causas de mortalidade materna: as diretas, que estão relacionadas às doenças próprias do período reprodutivo, e as indiretas, que são doenças que a mulher já possui e que, ao engravidar, sofrem complicações, levando-a à morte, tais como diabetes, nefropatias, cardiopatias. Seja qual for o motivo, a morte materna é um indicador da falta da qualidade da assistência oferecida.
“As principais causas desse tipo de morte no Brasil são e sempre foram hemorragias, hipertensão, infecção e aborto feito de forma insegura. A hemorragia, por exemplo, é algo absolutamente prevenível. Não podemos imaginar que, numa estrutura de saúde que temos, uma mulher ainda possa morrer dessa forma, pois nenhum profissional percebeu os sinais ou a cuidou adequadamente”, desabafa a ´professora.
Para a Dra. Janine, essa morte é um sinal da falta de respeito que a sociedade tem para com as mulheres, típica de uma cultura machista como a nossa. As mortes por causas obstétricas diretas mostram a injustiça do cuidado da saúde das mulheres. “Elas não podem morrer por hemorragia ou por infecção decorrente de um aborto praticado de forma insegura. As mais pobres morrem, ao contrário das que têm acesso à informação”.
Outra questão que está relacionada à mortalidade materna é o alto número de cesáreas feitas no país: mais de 90% dos partos das maternidades privadas e 60% nas maternidades públicas são cesáreas. “Não conseguimos reduzir as mortes maternas no Brasil em função das cesarianas, que estão ligadas a maiores riscos. Por exemplo, o risco de se ter uma infecção nesse tipo de parto é cinco vezes maior quando comparado ao parto normal”, explica a Dra. Janine.
Metas, estratégias e conscientização
Dentre os objetivos de Desenvolvimento do Milênio estabelecidos pela ONU, com metas que deveriam ser atingidas até 2015, estava a redução da mortalidade materna no mundo em 75%. O Brasil conseguiu reduzir em 55%. Na década de 1990, 140 mulheres morriam a cada 100 mil nascidos vivos. Hoje, morrem 62. Porém, ainda é um número ainda bastante alto quando se leva em conta as taxas dos países desenvolvidos: entre cinco e oito mortes por cem mil nascidos vivos.
A estratégia como forma de combater a morte materna, de acordo com a professora, deve estar baseada na qualificação dos serviços, pois hoje 99% das mulheres dão à luz dentro dos hospitais no Brasil. “Se as mulheres morrem dentro das maternidades é porque o cuidado recebido não é adequado: ou não tenho profissionais capacitados ou há uma negligência no atendimento. E a culpa é também da falta de estrutura e de recursos“, analisa.
Por isso, o dia 28 de maio é tido como o Dia Internacional de Luta pela Saúde da Mulher e o Dia Nacional de Redução da Mortalidade Materna. A professora Janine reforça que a morte de uma mãe não significa somente a morte de uma mulher; significa a desagregação familiar. “Em nossa sociedade, elas são o suporte familiar. É uma família que fica desassistida, um filho que fica sem a mãe. As complicações provenientes dessa morte são muito sérias”.
Assista ao vídeo produzido pela TV Unifesp, com as declarações da especialista:
Fonte: Daniel Patini, Unifesp. Imagem: Pixabay.
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