Notícia
Microalgas devem estar entre fontes futuras de energia limpa
Biorrefinarias viabilizam uso em larga escala das microalgas, inclusive para a produção de fármacos, alimentação humana e animal
DIvulgação
Fonte
UFBA
Data
terça-feira, 20 junho 2017 12:05
Áreas
Biotecnologia. Meio ambiente. Energia. Indústria Farmacêutica.
Por mais de 200 anos, a base da geração e consumo de energia vem sendo o combustível fóssil (cujos principais exemplos são o carvão mineral, o gás natural e o petróleo) que, além de não ser renovável, é nocivo ao meio ambiente. Com a criação da Agenda 21, no início da década de 1990, laboratórios e universidades no mundo inteiro vêm pesquisando e desenvolvendo alternativas sustentáveis ao uso do combustível fóssil. Um desses inúmeros laboratórios se encontra na Universidade Federal da Bahia (UFBA) e desenvolve uma pesquisa promissora sobre o tema da energia sustentável – o LABEC, Laboratório de Bioenergia e Catálise, do Departamento de Físico-Química do Instituto de Química, que é responsável por uma pesquisa bastante original sobre biorrefinarias.
Localizado no segundo andar da Escola Politécnica, o laboratório montado pelo pesquisador e professor Dr. Emerson Andrade Sales foi criado em 2009, com o principal objetivo de desenvolver biodiesel de microalgas. Comandando uma equipe de 15 alunos que pesquisam e desenvolvem o processo de valorização da biomassa de microalgas, o professor Emerson Sales constatou, nos anos iniciais da pesquisa, que a biomassa poderia ser fonte de uma enorme diversidade de moléculas, tornando possível a produção de etanol, querosene, gasolina e óleo diesel. Pesquisas preliminares também mostraram ser possível produzir com pouca dificuldade gás de cozinha, querosene de aviação e óleo lubrificante de máquinas e motores.
O professor Emerson, doutor em engenharia química pela Universidade Paris 7 – Denis Diderot (1996), revela que sua intenção sempre foi “mostrar que a biomassa pode ser uma fonte de várias moléculas e que o homem não precisa do petróleo”. Ele se mostra animado com a evolução dos resultados da pesquisa intitulada “Valorização da Biomassa de Microalgas – Bioenergia e Biorrefinaria”, desenvolvida desde 2014, que teve uma pequena parte publicada em 1º de junho deste ano pela revista “Energy Conversion and Management”, e acredita que a produção em larga escala de biocombustivéis em biorrefinarias é extremamente viável e vantajosa. “Os estudos até aqui apontam um ganho maior de energia. Isso impacta na qualidade do produto final, tornando-o mais eficiente do que os derivados do petróleo e altamente competitivo. Além de ser de uma fonte verde renovável, sustentável, faz captura de carbono e não emite contaminantes, como enxofre e metais pesados presentes no petróleo.”
No seu laboratório, são trabalhadas amostras de microalgas coletadas no Dique do Tororó, Porto da Barra e esgoto do Largo da Mariquita, do Rio Vermelho, entre outras. O professor estima que existam em torno de “200 mil espécies já catalogadas por cientistas, das quais algumas já são utilizadas para a produção de fármacos. Outras milhares de microalgas podem ser usadas na produção da alimentação humana, alimentação animal e para produção de fertilizantes. A multiplicidade de uso das microalgas acaba tornando o conceito de biorrefinaria mais viável. Os combustíveis de microalgas podem ser produzidos nas refinarias atuais e utilizados nos mesmos motores mecânicos que hoje são utilizados os combustíveis fósseis, numa estratégia de transição energética.
Apesar de existirem muitos grupos atualmente dedicados ao estudo de microalgas, para vários fins, o professor diz que “de acordo com prospecções realizadas e conhecimento direto de outros grupos de pesquisa, não temos conhecimento de que outros grupos tenham chegado a resultados similares, nem no Brasil nem no exterior”.
O que ajudou o avanço de seus estudos foi a aquisição de um pirolisador EGA/Py-3030D, importado do Japão, que, acoplado a um cromatógrafo a gás e a um espectrômetro de massas, aliado ao conhecimento em processos e catálise acumulado pelo professor ao longo dos anos, “permitiu realizar tratamentos térmicos e catalíticos utilizando a biomassa de diferentes espécies de microalgas, assim como de moléculas modelo, e analisar com alto grau de certeza as moléculas resultantes destes processos”. Basicamente, o aparelho simula as condições de temperatura e pressão necessários para a obtenção de compostos químicos similares aos contidos nas frações obtidas a partir do petróleo, tais como gás de cozinha, gasolina, querosene, querosene de aviação, diesel e óleos lubrificantes. Resultados tão positivos acabaram por expandir o horizonte da pesquisa, tornando possível a identificação de inúmeros compostos úteis à fabricação de outros produtos derivados da biomassa de microalgas, tais como ácidos graxos, óleos essenciais, carotenóides, antioxidantes e outros. O equipamento custou pouco mais de um milhão de reais.
O professor Sales tem consciência de que, para o produto final chegar ao mercado de consumo, teria de haver um investimento massivo em biorrefinarias, invertendo a lógica de toda indústria, e que “isso não acontecerá de uma hora para a outra”. Portanto, a filosofia na qual o trabalho vem sendo desenvolvido é de transição e não de substituição total. Sobre o preço do produto, ele entende que depende da demanda do mercado e de incentivos, mas afirma que o custo de produção é muito baixo, pois as microalgas são coletadas em qualquer corpo d’água, como mares e rios, e contam com uma diversidade de milhões de espécies. Além disso, é perfeitamente possível utilizar resíduos como insumos.
Leia a reportagem completa no Semanário EdgarDigital, da UFBA.
Fonte: Thiago Barboza, EdgarDigital, UFBA. Imagem: Divulgação.
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