Notícia
Lesões em pacientes acamados: enfermeira do HU-UFGD fala sobre a importância da prevenção
Lesões por pressão provocam piora na situação do paciente e podem ser evitadas com medidas simples
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A maioria das pessoas que não trabalha na área de saúde desconhece a complexidade da rotina hospitalar e não se dá conta de como funciona, por exemplo, o processo de tratamento a um paciente internado.
Além dos cuidados dispensados à enfermidade do usuário, o corpo clínico tem que gerenciar diversos outros fatores ocasionados pela internação. O tratamento à doença do paciente é o foco principal, porém, a atuação da equipe multiprofissional é mais ampla e visa minimizar todos os riscos paralelos aos quais ele está exposto.
A exemplo disso, a entrevista do mês de março do Hospital Universitário da Universidade Federal da Grande Dourados (HU-UFGD) explora um assunto pouco conhecido da população geral, mas que representa um problema de saúde mundial: a lesão por pressão, também informalmente conhecida como “escara”.
De acordo com o Programa Nacional de Segurança do Paciente, no Brasil, cerca de 95% dos casos de lesão por pressão poderiam ter sido evitados com a adoção de medidas simples e de baixo custo. No HU-UFGD, essa prevenção é tema frequente de capacitação aos trabalhadores da área assistencial e vem sendo mote de campanhas de conscientização e orientação aos profissionais, familiares e cuidadores de pacientes.
A enfermeira Jaqueline Aparecida dos Santos Sokem, presidente da Comissão de Cuidados com a Pele do HU-UFGD, esclarece os principais pontos a respeito do assunto:
UCS/HU-UFGD – O que vêm a ser e como ocorrem as feridas popularmente conhecidas como “escaras” e tecnicamente denominadas de lesões por pressão? Que partes do corpo são mais comumente afetadas?
Jaqueline – De modo sucinto, a lesão por pressão é uma ferida causada por uma pressão em determinada região do corpo, próxima a regiões ósseas, que não foi aliviada por certo tempo. Alguns fatores favorecem o surgimento da lesão por pressão, como o tempo pelo qual o paciente se manteve na mesma posição, sem aliviar essa pressão, a tolerância da sua pele e dos tecidos próximos e a sua constituição corporal, visto que, pacientes mais emagrecidos por exemplo, tem um maior risco de desenvolver essas lesões. Quando se fala em tempo que o paciente permanece na mesma posição sem aliviar a pressão, temos que pensar num paciente que, por algum motivo, seja cirúrgico ou por doença, teve seu nível de consciência alterado, ou seja, está em coma ou sonolento na maior parte do tempo, perdendo a capacidade de se movimentar sozinho na cama e, desta forma, necessitando de auxílio para aliviar a pressão e mudar frequentemente de posição. Os locais mais suscetíveis ao desenvolvimento da lesão por pressão em adultos e crianças maiores são a região sacral (parte do corpo acima dos glúteos), os trocânteres (região lateral do corpo, na altura do osso da “bacia”) e os calcâneos (região do calcanhar). Já em lactentes (crianças pequenas), o local onde as lesões se desenvolvem com mais frequência é a região occipital (parte de trás da cabeça).
UCS/HU-UFGD – Que categorias de pacientes estão mais propensos a sofrerem com as lesões? Além de pessoas acamadas, pacientes em outras situações como cadeirantes, idosos e portadores de sondas e outros dispositivos, também podem desenvolver lesões?
Jaqueline – Sim, acamados, cadeirantes, crianças com paralisia cerebral e pacientes que passaram por cirurgia prolongada ou que devido à alguma doença específica, apresentam empecilhos para que a equipe de saúde realize as mudanças de decúbito ou o alívio da pressão. Existe, também, um outro tipo de lesão por pressão, chamad, lesão por pressão por dispositivo médico, que ocorre em pessoas que fazem uso de sondas e outros dispositivos médicos. Nessa lesão por dispositivo médico, se há um histórico de uso de uma sonda, por exemplo e, por uma má fixação da sonda ocorre pressão na pele do paciente, isso pode ocasionar uma ferida no local.
UCS/HU-UFGD – Que tipos de problemas de saúde as lesões podem acarretar? É possível que as lesões atinjam tamanha gravidade a ponto de causar a morte de um paciente?
Jaqueline – Em menor grau, pode causar perda da qualidade de vida, com dificuldade para restabelecimento das atividades profissionais e domésticas; pode, ainda, prejudicar a vida emocional e social, além de causar dor constante no paciente. Em maior grau, pode acarretar, sim, na morte do paciente. De acordo com a Agência de Cuidados de Saúde, Pesquisa e Qualidade dos Estados Unidos, estima-se que aproximadamente 600 mil pacientes em hospitais daquele país evoluem a óbito por ano, em decorrência de complicações causadas por lesões por pressão.
UCS/HU-UFGD – As lesões podem ser evitadas? Quais os principais cuidados para prevenir o surgimento dessas feridas? No ambiente hospitalar, que profissionais ficam a cargo dessas tarefas?
Jaqueline – Sim, podem ser evitadas em sua grande maioria. O principal cuidado é evitar manter o paciente numa mesma posição sem aliviar a pressão das regiões ósseas em sua pele. Para a prevenção, as diretrizes recomendam que o paciente seja reposicionado a cada duas horas, no mínimo. Ou seja, a cada duas horas deve-se mudar a posição do paciente, de acordo com uma sequência para conseguir reduzir a pressão adequadamente. A sequência de mudança é: deitá-lo de barriga para cima por duas horas, em seguida, virar o paciente para um certo lado e mantê-lo por duas horas nessa posição e, depois, virá-lo para o outro lado. Após duas horas, posicionar novamente o paciente deitado de barriga para baixo na cama. É importante evitar que o paciente permaneça sentado por mais de uma hora por período e não elevar muito a cabeceira, pois a posição sentada aumenta a pressão na região sacral. Também não se pode deixar o paciente com os calcanhares em contato direto com a cama (elevar os calcanhares com um rolo de cobertor com lençol, por exemplo, e posicionar esse “rolinho” na panturrilha, deixando os calcanhares flutuando no ar). Cabe lembrar, ainda, de se colocar um outro “rolinho” na planta do pé do paciente, para que ele não perca a mobilidade do pé. Nenhuma região óssea pode ter contato direto entre si, ou contato direto com a cama. O ideal é sempre procurar colocar algum “rolinho” para elevar essas regiões e impedir que encostem diretamente no colchão. No hospital, todos os profissionais são responsáveis pela prevenção dessas lesões, já que, se algum profissional não se atenta para a lesão e posiciona o paciente no leito de uma maneira que possa aumentar o risco de desenvolvê-la, todos serão futuramente prejudicados caso ela venha a ocorrer. Então, todos os colaboradores da saúde precisam desenvolver uma cultura de segurança para o paciente, de modo que se busque prevenir essas lesões e outros potenciais eventos adversos que afetam os pacientes.
UCS/HU-UFGD – Para pacientes acamados em casa ou em lares de repouso, existem orientações que os próprios familiares e cuidadores possam seguir para realizar a prevenção?
Jaqueline – Basicamente são as mesmas orientações feitas anteriormente. De modo sucinto, deve-se buscar sempre o alívio da pressão das regiões ósseas do paciente, não as deixando em contato direto com a cama ou com outras regiões ósseas e realizar as mudanças frequentes de posicionamento, a cada duas horas, no mínimo. No entanto, vale frisar que se um paciente começa a desenvolver uma lesão – que surge inicialmente como uma região avermelhada na pele branca ou arroxeada em peles negras – mesmo quando reposicionado a cada duas horas, quer dizer que ele precisa ser reposicionado com uma frequência maior ainda, com intervalos de tempo menores que duas horas.
Fonte: Unidade de Comunicação, HU-UFGD. Imagem: Shutterstock.
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