Notícia

Inovação na odontologia: novo cimento dentário reduz tempo de procedimento

Desenvolvimento de cimento dentário do IPT com empresa Angelus é realizado no âmbito do Embrapii

Shutterstock

Fonte

IPT

Data

domingo, 13 setembro 2015 12:05

Áreas

Odontologia.

Diminuir o tempo de endurecimento do cimento dentário para tornar mais rápido o procedimento nos consultórios e a recuperação dos pacientes estava no foco de um projeto de parceria realizado pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) em parceria com a Angelus, empresa brasileira que pesquisa, desenvolve, fabrica e comercializa produtos na área odontológica, no âmbito da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii). Os estudos feitos no Laboratório de Processos Metalúrgicos durante um ano permitiram obter uma mistura contendo as três fases de interesse que compõem o cimento com um tempo aproximado de pega (endurecimento) de dois minutos, muito inferior aos 11 minutos do cimento comercial produzido pela empresa.

O cimento reparador odontológico MTA (de mineral trioxide aggregate, ou agregado trióxido mineral) anteriormente fabricado pela Angelus era composto de partículas micrométricas. Quando um paciente realiza um tratamento do canal da raiz dentária, o dentista remove a polpa infeccionada do dente; em seguida, compostos como o MTA são usados para o preenchimento e o selamento do canal de modo a evitar a entrada de micro-organismos. “A ideia da empresa era saber se a diminuição do tamanho das partículas do MTA aumentaria a sua reatividade e, consequentemente, diminuiria o tempo de pega”, explica a química e coordenadora do projeto no IPT, Dra. Catia Fredericci, lembrando que a parceria com a Angelus teve início em 2007 com o desenvolvimento de formulações de massas cerâmicas para molde (revestimento) a base de fosfato de magnésio aplicável na obtenção de infraestrutura metálica e cerâmica.

O processo laboratorial desenvolvido pelo IPT possibilitou a obtenção de uma mistura à base de dois silicatos de cálcio e um aluminato de cálcio. No processo usual de fabricação da Angelus, explica a pesquisadora, as três composições são produzidas durante o mesmo procedimento, mas o projeto estudou cada uma delas separadamente, para que fosse possível no futuro utilizar diversas porcentagens de cada composição.

O projeto buscou a produção de partículas nanométricas por meio da tecnologia sol-gel. Esta é uma rota de síntese muito utilizada na obtenção de materiais cujas propriedades químicas, elétricas, mecânicas e térmicas podem ser alcançadas por meio do controle de estrutura e de porosidade no nível nanométrico. Outra tecnologia adotada foi a do Método Pechini, também conhecido como Método dos Precursores Poliméricos, que apresenta vantagens como síntese a baixas temperaturas, baixa contaminação e possibilidade de obtenção de pós nanométricos.

Para enfrentar os desafios na obtenção das nanopartículas, uma das soluções adotadas foi a moagem do material e o resultado foi a obtenção de cerca de 90% das partículas abaixo de um micrômetro (µm).

Segunda Parte

Durante o desenvolvimento do projeto, a equipe técnica da Angelus trouxe até a pesquisadora um novo desafio, ainda dentro da proposta de produção das partículas nanométricas: os canalículos dos dentes, que são delicados cilindros ocos de ligação da superfície da dentina à polpa dentária, têm em torno de um micrômetro. A empresa estava interessada em saber se a aplicação das nanopartículas nos canais dos dentes poderia ser adotada para tratar o problema de sensibilidade dentária, considerando a hipótese de que elas entrariam no canalículo, endureceriam e ‘fechariam’ a camada da dentina.

A interação entre as diferentes competências do IPT foi um diferencial que teve papel fundamental para o sucesso do projeto: enquanto uma equipe do Núcleo de Bionanomanufatura colaborou na produção de nanopartículas e na caracterização do material, outra do Laboratório de Materiais de Construção Civil auxiliou na compreensão das três fases. “Apesar de o laboratório trabalhar com o cimento de construção civil, as composições são as mesmas; a maior diferença é a exigência de alta pureza pelo contato com o corpo humano”, afirma ela. Outro ponto interessante do uso das nanopartículas é a liberação de íons alcalinos pelos compostos e bactérias não sobrevivem em tais ambientes – ou seja, além da possibilidade de diminuição da sensibilidade dentinária, elas são antibactericidas.

Para o presidente da Angelus, Roberto Alcântara, os benefícios da parceria da empresa com um instituto de pesquisas estão no fato de que os conhecimentos acumulados dos pesquisadores nos ICTs, assim como os equipamentos disponíveis, normalmente não estão presentes na iniciativa privada, principalmente as de pequeno e médio porte: “Para empresas que praticam a inovação como estratégia, a parceria com ICTs permite que a interação para o uso dos conhecimentos e equipamentos resulte na transformação das ideias das empresas em projetos e, finalmente, em produtos para o mercado. Dessa forma, a parceria permite não apenas o crescimento da empresa e a geração de empregos, mas também a independência tecnológica e a possibilidade de internacionalização da empresa – na área da saúde, na qual estamos inseridos, a entrada em mercados de países desenvolvidos é extremamente facilitada com a inovação”.

Os ensaios em laboratório foram concluídos no IPT e agora a Angelus está nas etapas finais de testes laboratoriais em dentes extraídos, para avaliação das propriedades físicas e químicas. A previsão é de início dos ensaios clínicos em pacientes ainda em 2015.

Fonte: IPT. Imagem: Shutterstock.

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