Notícia

Inovação e tecnologia para a saúde em países emergentes: o caso da África do Sul

Professor de Engenharia Biomédica da Universidade da Cidade do Cabo defende a aplicação do “Frugal Biodesign”

Pinterest

Fonte

Universidade da Cidade do Cabo

Data

sexta-feira, 13 setembro 2019 11:45

Áreas

Inovação Tecnológica. Saúde Pública. Engenharia Biomédica. Gestão Hospitalar.

Berço de alguns dos melhores designers, engenheiros e clínicos do mundo, a África do Sul tem o potencial de deixar sua marca como um centro de inovação em saúde no hemisfério sul. Essa é a opinião do Dr. Sudesh Sivarasu, professor de Engenharia Biomédica da Universidade da Cidade do Cabo (UCT, da sigla em inglês), que acredita que – usando o Frugal Biodesign – os países em desenvolvimento podem resolver seus próprios desafios na área da saúde.

O Dr. Sivarasu compartilhou suas idéias sobre o processo de projetar tecnologias de saúde apropriadas para problemas locais na edição mais recente do Café Scientifique – organizado pela agência UCT Research Contracts and Innovation.

Avanço da tecnologia e acesso

A ideia de projetar tecnologias complexas de saúde para países de baixa e média renda pode parecer um pouco contra-intuitivo. Muitas pessoas podem pensar que existem problemas “mais importantes” a serem resolvidos primeiro.

É amplamente entendido, por exemplo, que os hospitais e clínicas nesses cenários – especialmente nas áreas rurais – são insuficientes. Há uma falta de infraestrutura – tudo, desde estradas intransitáveis por ambulâncias até a ausência de leitos. Não devemos nos concentrar nessas questões e confiar em doações de dispositivos médicos?

Esses são apenas dois dos equívocos comuns sobre tecnologias de saúde nos países em desenvolvimento, segundo o Dr. Sudesh Sivarasu.

Doações e importações: a antítese do design

Primeiro, o Dr. Sivarasu ressalta que os dispositivos médicos abrangem um amplo espectro: de óculos a scanners para imagens médicas e tudo mais. “Quando se trata de dispositivos médicos, facilmente nos distraímos com coisas complicadas, como desfibriladores, aparelhos de ressonância magnética, tomógrafos – tecnologias super espetaculares”, diz o especialista. “Mas eles não são apenas isso. Eles começam com coisas simples, como óculos graduados, copos medidores de remédios e até balanças. ”

Atualmente, a África do Sul importa mais de 90% de suas tecnologias em saúde.

A ideia de que podemos confiar em dispositivos médicos doados ou importados em vez de projetar nossos próprios para economizar custos, ressalta, não poderia estar mais longe da realidade que está ocorrendo na maioria dos países em desenvolvimento.

“Em termos leigos, para cada R100 que gastamos em tecnologias de saúde,  R90 vão para o exterior. “Se uma parte desse valor pudesse ser mantida dentro do país por meio de inovações sustentáveis ​​em tecnologia para a  saúde local, não apenas criaríamos empregos, mas também poderíamos contribuir para o crescimento econômico do país. Precisamos criar esse ecossistema de inovação”, defende o professor. Ele ressalta que quase 70% de todos os dispositivos médicos doados na África não funcionam. Não por causa do design inadequado, mas por falta de manutenção. “Não temos peças de reposição disponíveis localmente para reparar essas tecnologias complexas. Não temos pessoal qualificado para preparar e operar essas tecnologias “, diz o especialista. Ele acredita que os países em desenvolvimento deveriam voltar sua atenção para resolver seus próprios problemas, projetando tecnologias adequadas ao seu conjunto específico de circunstâncias.

O Frugal Biodesign

Ao citar o termo Frugal Biodesign, o Dr. Sivarasu baseou sua abordagem no programa de Biodesign da Universidade Stanford, que basicamente corresponde a um grupo multidisciplinar de profissionais que resolve um problema em conjunto. Enquanto o Dr. Sivarasu acredita que adotar esse tipo de abordagem é a única maneira de alcançar um resultado bem-sucedido com as inovações em saúde, ele acrescenta que o envolvimento de muitas partes interessadas durante a fase de inovação atualmente não é viável em um contexto africano.

É aqui que o conceito de Frugal Biodesign diverge de suas raízes em Stanford e inicia um novo curso, com a proposta de entrar em contato direto com um clínico para estabelecer uma hierarquia de necessidades às quais um dispositivo deve responder. “O clínico se torna o centro da inovação”, diz o professor. “Se você deixar o clínico fora da cadeia, perderá a perspectiva do usuário final”.

Em seguida, são seguidos vários estágios de conceituação, implementação da propriedade intelectual e, finalmente, comercialização.

Soluções reais para problemas reais

O Frugal Biodesign do Dr. Sivarasu se tornou um dos pilares do procurado Programa de Pós-graduação em Engenharia Biomédica – Curso de Design de Dispositivos Médicos da UCT.

Cada aluno recebe um par problema-solução, conforme estabelecido pelo professor depois de intensa consulta com um clínico. Isso significa que os alunos podem ir além dos limites da academia e causar um impacto no mundo real através da resolução de problemas e design críticos. Os pesquisadores de pós-graduação da universidade recentemente entregaram algumas inovações interessantes como resultado.

Em 2018, por exemplo, a Impulse Biomedical – uma empresa criada pela UCT, criada pelos ex-alunos Giancarlo Beukes e Gokul Nair – foi declarada vencedora geral na área de dispositivos médicos do Programa Global de Tecnologia Limpa e Inovação da Agência de Inovação Tecnológica da África do Sul. A empresa desenvolveu o Easy Squeezy, um acessório inalador para pacientes com asma. Com seu design inovador, o Easy Squeezy permite que crianças e idosos ativem a bomba facilmente. Com cerca de 10% dos adultos da África do Sul e 20% de seus filhos com asma, esse dispositivo simples, impresso em 3D, pode ser um divisor de águas para os mais vulneráveis.

São esses tipos de sucessos que afirmam a filosofia geral do Dr. Sivarasu. “Não é a tecnologia que ditará a solução; é o problema que determinará a solução por meio de tecnologias apropriadas. Devemos evitar a armadilha tradicional do impulso da tecnologia.”

Acesse a reportagem completa na página da Universidade da Cidade do Cabo (em inglês).

Fonte: Nadia Krige, Universidade da Cidade do Cabo. Imagem: Hospital Busamed Modderfontein, na África do Sul. FOnte: Pinterest.

Em suas publicações, o Portal Tech4Health da Rede T4H tem o único objetivo de divulgação científica, tecnológica ou de informações comerciais para disseminar conhecimento. Nenhuma publicação do Portal Tech4Health tem o objetivo de aconselhamento, diagnóstico, tratamento médico ou de substituição de qualquer profissional da área da saúde. Consulte sempre um profissional de saúde qualificado para a devida orientação, medicação ou tratamento, que seja compatível com suas necessidades específicas.

Os comentários constituem um espaço importante para a livre manifestação dos usuários, desde que cadastrados no Portal Tech4Health e que respeitem os Termos e Condições de Uso. Portanto, cada comentário é de responsabilidade exclusiva do usuário que o assina, não representando a opinião do Portal Tech4Health, que pode retirar, sem prévio aviso, comentários postados que não estejam de acordo com estas regras.

Leia também

2024 tech4health t4h | Notícias, Conteúdos e Rede Profissional em Saúde e Tecnologias

Entre em Contato

Enviando
ou

Fazer login com suas credenciais

ou    

Esqueceu sua senha?

ou

Create Account