Notícia

Geração de novas células ganglionares da retina pode tratar o glaucoma

Células ganglionares da retina formam o nervo óptico, vital para que as mensagens da retina cheguem ao cérebro

Wikimedia Common

Fonte

FAPERJ | Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro

Data

quarta-feira, 2 outubro 2019 07:55

Áreas

Oftalmologia. Biologia.

O glaucoma é uma doença causada, frequentemente, pela elevação da pressão intraocular que provoca lesões no nervo óptico e, como consequência, comprometimento visual que se inicia na visão periférica. Quando não diagnosticado e tratado adequadamente, pode levar à cegueira. Segundo projeções da Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2020 o glaucoma afetará 80 milhões de pessoas no mundo, dos quais dois milhões no Brasil.

A fim de investigar terapias regenerativas para doenças da retina, um grupo de pesquisadores na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), liderado pela neurocientista Dra. Mariana Silveira, descobriu que é possível reprogramar células endógenas da retina. O fator de transcrição Klf4, que se tornou notório por seu papel na reprogramação de células somáticas em direção à pluripotência, é suficiente para alterar a potência de células progenitoras retinianas para gerar células ganglionares da retina. O biólogo Dr. Mauricio Rocha Martins é o primeiro autor do artigo publicado na revista científica DevelopmentA equipe também contou com a colaboração da pesquisadora Dra. Caren Norden, do Instituto Max Planck de Biologia Celular e Genética Molecular em Dresden, na Alemanha, dos professores Dr. Rafael Linden e Dr. Rodrigo Martins, ambos também da UFRJ, e de mais seis estudantes.

A Dra. Mariana Silveira explica que as células ganglionares da retina com suas projeções formam o nervo óptico, vital para que as mensagens da retina cheguem ao cérebro. A degeneração destas células e do nervo são características do glaucoma, que pode, em estágio avançado, causar cegueira irreversível. Segundo a pesquisadora, acredita-se que em países em desenvolvimento, nos quais grande parte da população não tem acesso a revisões periódicas no oftalmologista, muitas vezes o glaucoma só é diagnosticado quando já está em estágio avançado e a visão comprometida. Outra dificuldade, segundo ela, é que no glaucoma a perda de visão é progressiva, dificultando a rápida identificação do distúrbio pelo doente. O tratamento à base de colírios quando a doença ainda é inicial evita a sua evolução, mas é vitalício, o que dificulta a adesão do paciente. Diante de todas essas dificuldades, a pesquisadora acredita que a descoberta pode abrir caminho a estratégias terapêuticas, não voltadas para proteger esses neurônios de projeção, mas para promover a regeneração das células e seus axônios.

A equipe acredita que há um longo caminho em direção à terapia real, mas os resultados indicam que o programa para gerar células ganglionares pode ser reativado, o que pode abrir novas direções para terapias regenerativas. O próximo passo da pesquisa será a aplicação de modelos experimentais que mimetizem a doença para que seja tentada a reposição das células ganglionares na retina adulta. Os pesquisadores vão se concentrar tanto na melhoria do protocolo, a fim de garantir que as células ganglionares induzidas adquiram propriedades maduras, quanto direcionar essa estratégia para as células gliais da retina, cuja capacidade de regenerar células ganglionares foi perdida em mamíferos através da evolução, mas é observada em peixes.

Acesse o resumo do artigo científico (em inglês).

Acesse a notícia completa na página da FAPERJ.

Fonte: Paula Guatimosim, FAPERJ. Imagem: Nervo óptico no glaucoma avançado. Fonte: Wikimedia Commons.

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