Notícia

Genética da população cubana ajuda a entender resistência à Dengue

Pesquisadores portugueses estudam porque indivíduos com ancestralidade africana são mais resistentes

Fonte

Universidade do Porto

Data

terça-feira, 18 abril 2017 12:50

Áreas

Genética. Biologia Humana. Biologia Celular e Molecular. Infectologia.

Pesquisadores do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (i3S) da Universidade do Porto, em Portugal,  integram uma equipe que identificou um conjunto de genes que conferem resistência à febre hemorrágica decorrente da infecção pelo vírus da Dengue. Dois genes, o OSBPL10 e o RXRA, parecem ser o passaporte para indivíduos com ancestralidade africana passarem incólumes a uma segunda infecção de dengue, ao contrário das populações europeias.trabalho, publicado na revista científica PLOS Pathogens,  insere-se num estudo mais amplo do consórcio europeu DENFREE que tem por objetivo compreender a febre da Dengue e o risco específico das populações europeias a esta doença infecciosa.

A Dengue é uma infeção disseminada por vários pontos do globo, que é transmitida por duas espécies relacionadas de mosquito, o Aedes albopictus e o Aedes aegypti. Conhecem-se quatro estripes do vírus da dengue e, normalmente, a sintomatologia da primeira infeção assemelha-se muito a uma gripe rápida, acabando por conferir imunidade aos infectados. Uma segunda infeção com uma nova estirpe é por isso combatida sem grande manifestação da doença na maioria das pessoas. Mas uma percentagem da população, cerca de 1%, manifesta uma sobre-reação numa segunda infecção, a qual leva a febre hemorrágica grave, podendo ser fatal.

Desde o início do século XX os médicos cubanos tinham observado que os indivíduos do seu país que apresentavam sintomatologia grave da Dengue eram os de pele mais clara de origem europeia, em oposição aos cubanos de pele mais escura, com maior herança africana. Por outro lado, e apesar da Dengue estar completamente instalada na África (vírus e vetor circulam no continente), são raros os registos de autóctones que apresentam febre hemorrágica, sendo principalmente afetados os imigrantes não-africanos. Em outras regiões, como a América do Sul, onde a Dengue está presente, não é fácil perceber com clareza as relações de ancestralidade e a resistência à febre hemorrágica.

Para compreender esta aparente relação entre a ancestralidade e a resistência a uma segunda infeção à Dengue, o consórcio DENFREE estudou a população cubana por duas razões principais. Por um lado, porque “a Dengue não é endémica em Cuba, surgindo em surtos com intervalos de anos, permitindo discernir claramente resistência num segundo surto, situação impossível de controlar em países onde a doença é endémica, mas também porque “é uma população com vários graus de miscigenação, permitindo estabelecer uma relação entre ancestralidade e a resistência demonstrada”, explica a Dra. Luisa Pereira, autora do trabalho e investigadora do i3S.

Assim, a equipe rastreou no perfil genético da população cubana quais os genes candidatos a esta proteção, descobrindo dois genes responsáveis pelo fenómeno, o OSBPL10 e o RXRA. A Dra. Luísa Pereira explica que “embora a dengue não seja uma doença muito fatal, outras doenças relacionadas e mais perigosas como a febre amarela podem ter levado à seleção de mecanismos genéticos de proteção nas populações de origem africana, que também protegem contra o vírus da dengue. Esta proteção adquirida na África migrou para outras regiões do globo com a escravatura transatlântica”.

A equipe do i3S continua trabalhando com os parceiros do Instituto Pasteur em Paris e do Instituto Pedro Kourí em Havana para compreender os mecanismos moleculares nos quais estes dois genes estão envolvidos. Algumas coisas já são conhecidas, “o OSBPL10 e o RXRA estão envolvidos no metabolismo dos lipídios e estes são essências para a multiplicação dos vírus dentro das células”, explica a Dra. Luísa. Sobre a descoberta, afirma que “é mais um passo para ajudar a prever como as populações reagirão a surtos da Dengue, embora seja claro que outros fatores genéticos e não-genéticos influenciam a predisposição para um indivíduo manifestar febre hemorrágica”.

Acesse o artigo científico completo (em inglês).

Fonte: Júlio Borlido Santos, i3S, Universidade do Porto.

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