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Estudo identifica associação entre microbiota intestinal e episódios de delirium em idosos

Objetivo de análise feita no Hospital das Clínicas da FMUSP foi encontrar novos marcadores que ajudem a diagnosticar e tratar o distúrbio agudo de consciência que acomete entre 8% e 20% dos idosos hospitalizados

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Fonte

Agência FAPESP

Data

quarta-feira, 9 agosto 2023 20:35

Áreas

Biologia. Envelhecimento. Epidemiologia. Gastroenterologia. Geriatria. Medicina. Neurologia. Psiquiatria. Saúde Mental. Saúde Pública.

Entre 8% e 20% dos idosos que por algum motivo precisam ser hospitalizados apresentam episódios de delirium, distúrbio agudo e geralmente reversível da consciência e da cognição. Nesses casos, o indivíduo fica desorientado, com um discurso desconexo e é comum que não reconheça entes queridos. Trata-se de um quadro diferente do delírio – como são popularmente conhecidas as alucinações causadas por doenças mentais – e um importante sinal de que o cérebro do idoso está em sofrimento.

Em busca de biomarcadores que ajudem a diagnosticar o problema e também alvos terapêuticos, pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) analisaram a microbiota intestinal de 133 pacientes acima de 65 anos internados no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (HC-FMUSP). Os resultados da pesquisa foram publicados na revista científica The Journals of Gerontology.

“Identificamos que os idosos com uma microbiota menos diversa tinham maiores chances de desenvolver delirium. E que os pacientes que de fato desenvolveram o quadro portavam uma quantidade maior de enterobactérias – microrganismos associados a vias pró-inflamatórias e à modulação de neurotransmissores importantes”, explicou a Dra. Flávia Garcez, primeira autora do artigo. A médica colaborou com as atividades de pesquisa do Serviço de Geriatria do HC-FMUSP e recebeu, em 2019, o prêmio NIDUS Junior Investigator Award, que concede financiamento a pesquisas sobre delirium.

O trabalho com os idosos internados no HC-FMUSP integra um projeto maior, apoiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), que investiga marcadores de diagnóstico e prognóstico em pacientes graves atendidos em serviço de emergência.

“A microbiota intestinal tem ganhado atenção nos últimos anos. Ela já foi associada a várias condições, como obesidade, resistência à insulina e doença inflamatória intestinal. Distúrbios na microbiota também têm sido relacionados a doenças neuropsiquiátricas crônicas, como depressão e doença de Alzheimer. No entanto, pouco se sabia ainda sobre a relação entre microbiota e delirium, um distúrbio que, embora seja muito prevalente, ainda está carregado de mistérios”, afirmou o Dr. Heraldo Possolo de Souza, coordenador do estudo apoiado pela FAPESP.

Eixo cérebro-intestino

Segundo a Dra. Flávia Garcez, a associação entre microbiota e delirium já era esperada e o trabalho mostrou que essa relação é possivelmente bidirecional, com um influenciando o outro. “Existe o eixo cérebro-intestino, ligado pelo nervo vago que serve como comunicação bidirecional entre o trato gastrointestinal e o cérebro. Fora isso, estudos anteriores já haviam demonstrado a relação entre microbiota e uma doença-irmã do delirium, o Alzheimer”, afirmou a pesquisadora.

No entanto, ela ressaltou, o trabalho avançou no entendimento dessa relação. “O interessante nesse estudo é que pudemos avaliar a microbiota de um mesmo indivíduo repetidas vezes, antes e depois de ele ter delirium. Com isso, encontramos que o conjunto de microrganismos no trato intestinal mudava quando o mesmo paciente entrava e saía do delirium”, destacou.

Para a pesquisa, os pesquisadores coletaram dados sociodemográficos, clínicos e laboratoriais ao longo de todo o período de internação. A microbiota intestinal foi analisada a partir de amostras obtidas por swabs retais (uma espécie de cotonete que é passada na região do ânus) logo na admissão e 72 horas após os pacientes darem entrada no hospital. Uma terceira amostra foi coletada assim que o voluntário apresentava delirium. O grupo utilizou o Confusion Assessment Method (CAM) para avaliar, duas vezes ao dia, a presença do distúrbio durante a internação.

Foram excluídos da análise candidatos que, até 24 horas antes da admissão hospitalar, fizeram uso de probióticos, prebióticos ou nutrição artificial, bem como aqueles que apresentavam distúrbios gastrointestinais agudos, traumatismo cranioencefálico grave, histórico de hospitalização recente ou de institucionalização.

Além de analisar a microbiota, o grupo também investigou fatores relacionados à inflamação, como o nível circulante de citocinas – moléculas que sinalizam ao sistema imune a necessidade de enviar mais células de defesa ao local da infecção. No entanto, não foram encontradas diferenças significativas entre os pacientes que tiveram ou não delirium.

“O delirium é a alteração neuropsiquiátrica mais comum em pacientes internados e pode ser definido como o cérebro em sofrimento. Por isso é tão importante avançar na investigação e identificar marcadores. Quando se fala em insuficiência renal, existe o exame de sangue. Para insuficiência respiratória, é possível ver o paciente com falta de ar. Mas para uma insuficiência cerebral, como o delirium, ainda não existe um marcador definitivo”, explicou o Dr. Júlio César Garcia de Alencar, professor do curso de Medicina da Faculdade de Odontologia de Bauru (FOB-USP) e coautor do estudo.

Acesse o artigo científico completo (em inglês).

Acesse a notícia completa na página da Agência FAPESP.

Fonte: Maria Fernanda Ziegler, Agência FAPESP. Imagem: Freepik.

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