Notícia
Envelhecimento da população precisa de ações efetivas em saúde pública
Estudo multicêntrico realizado desde 2000 levantou um perfil do envelhecimento no Brasil e dos desafios em saúde e políticas públicas
Wikimedia Commons
“O Brasil precisa reconhecer que é um país em rápido processo de envelhecimento e fazer disso uma prioridade, tanto na definição de políticas públicas quanto na alocação de recursos”: a afirmação é da Profa. Dra. Maria Lúcia Lebrão, professora titular sênior da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo.
A professora Maria Lúcia coordena o “Estudo Sabe – Saúde, Bem-Estar e Envelhecimento”, pesquisa longitudinal de múltiplas coortes sobre as condições de vida e saúde dos idosos do município de São Paulo. Esse estudo multicêntrico teve início no ano 2000, quando, por iniciativa da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), foram pesquisadas pessoas de 60 anos ou mais de sete grandes cidades da América Latina e do Caribe, entre elas São Paulo. Com apoio da FAPESP, o estudo foi reeditado em São Paulo em 2006, 2010 e está agora em sua quarta edição.
“Em 2000, visitamos quase 6 mil domicílios e entrevistamos 2.143 pessoas (coorte A). Em 2006, voltamos às casas das pessoas visitadas anteriormente e conseguimos entrevistar 1.115 (coorte A); além disso, entrevistamos um novo contingente de 60 a 64 anos (coorte B). Em 2010, voltamos às casas das pessoas visitadas em 2006, tanto da coorte A quanto da coorte B, e introduzimos mais um novo grupo de 60 a 64 anos (coorte C). Vamos seguir o mesmo procedimento nesta quarta rodada. O Sabe é, portanto, um estudo longitudinal, que vem acompanhando um mesmo contingente de idosos ao longo do tempo, e também um estudo de múltiplas coortes, pois, a cada reedição, agrega um novo contingente ao anterior”, explicou a pesquisadora à Agência Fapesp.
Esse duplo caráter possibilitou que o estudo mapeasse tanto as mudanças vividas pelos indivíduos ao longo de seu processo de envelhecimento quanto as transformações pelas quais vem passando a sociedade e que se refletem nas novas características das pessoas que alcançam a sexta década de vida.
Segundo a pesquisadora, a nova geração de idosos está mais preocupada com a promoção da saúde. Tenta não fumar, tenta beber menos, tenta praticar exercícios físicos, tenta dirigir por mais tempo. “Acima de tudo, são pessoas com um nível de escolaridade mais alto”, afirmou.
A essas características positivas contrapõem-se os enormes desafios que o envelhecimento da população apresenta para a sociedade brasileira. O percentual de idosos no país cresceu de 4,1%, em 1940, para 10,8%, em 2010, e deverá chegar a 12,0%, em 2020.
Taxa de fecundidade
A taxa de fecundidade brasileira caiu de 5,8 filhos por casal em 1970 para 1,8 filho por casal em 2010 – número que não é suficiente para a reposição populacional. “Mantida a tendência de queda, alcançaremos um pico populacional de 218 milhões de pessoas em 2035, após o que a população brasileira começará a diminuir”, prognosticou a pesquisadora. O Brasil acompanha assim a tendência mundial, puxada pelos países desenvolvidos, que fará com que a faixa da população do planeta com mais 65 anos supere em número a faixa da população com menos de 5 anos antes de 2020.
Em termos globais, esse envelhecimento da população levou a uma transição epidemiológica, com as doenças infecciosas, antes prevalentes, sendo suplantadas pelas doenças crônicas não transmissíveis. Porém o Brasil, assim como outros países da América Latina e Caribe, não teve uma transição epidemiológica tão linear quanto a observada nos países desenvolvidos. “Nossa transição epidemiológica caracteriza-se por um vaivém. Se já temos muitos idosos com doenças crônicas não transmissíveis, ainda temos também uma alta incidência de doenças infecciosas (dengue, febre amarela, malária e outras). Pensamos, por exemplo, que a febre amarela havia sido erradicada, e, de repente, constatamos o seu ressurgimento. Esse vaivém exige que os recursos do sistema de saúde sejam divididos para o enfrentamento de uma dupla carga de doenças”, pontuou a Dra. Maria Lúcia.
Outro aspecto, ainda mais importante em termos de impacto sobre o sistema de saúde, é que, enquanto a curva de mortalidade se desloca para idades cada vez maiores, a curva de morbidade se mantém praticamente inalterada. Ou seja, as pessoas passaram a viver mais, porém continuam a ficar doentes com a mesma idade em que ficavam antes. E o intervalo entre as duas linhas tende a aumentar cada vez mais, trazendo grande impacto sobre o sistema de saúde.
“Se a esperança de vida ao nascer passou de 52,6 anos, em 1970, para 73,4 anos, em 2010, as pessoas continuaram a ficar diabéticas ou cardíacas a partir da quinta década de vida. E isso já está gerando um enorme aumento da demanda dos serviços de saúde”, exemplificou a pesquisadora. “O que temos que fazer é promover saúde, para que as pessoas não fiquem doentes tão cedo.”
Curva da incapacidade
No rol das enfermidades, segundo a pesquisadora, o grande fantasma é constituído pelas várias modalidades de demência, das quais a doença de Alzheimer constitui um dos diagnósticos, mas não o único. “Acompanhando as mesmas pessoas (coorte A) ao longo do processo de envelhecimento, constatamos que o comprometimento cognitivo passou de 13,2%, em 2000, para 14,3%, em 2006, e 18,7%, em 2010”, disse.
Para o conjunto dos entrevistados de 2010 (coortes A, B e C), por ordem de prevalência, as principais enfermidades crônicas relatadas foram hipertensão (66,7%), doenças articulares (31,8%), diabetes (25,0%) e problemas cardíacos (22,9%).
“É importante ressaltar que, muitas vezes, as enfermidades não são diagnosticadas, nem mesmo reconhecidas como tal. Isso acontece principalmente em relação às doenças articulares. Existe o mito de que ter dor nas articulações é uma coisa normal após uma certa idade. ‘É coisa de velho’, costuma ser dito, como se esses transtornos constituíssem uma fatalidade. Isso de forma alguma é verdadeiro. As doenças articulares podem ser evitadas, e também tratadas”, sublinhou a Dra. Maria Lúcia.
Leia a reportagem completa da Agência Fapesp.
Fonte: José Tadeu Arantes, Agência Fapesp. Imagem: Wikimedia Commons.
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