Notícia

Endometriose: atenção aos sinais e sintomas ajuda a evitar o diagnóstico tardio

Estudos recentes mostram que o diagnóstico pode ocorrer até 12 anos após instalada a doença

Wikimedia Commons

Fonte

UFPI

Data

sexta-feira, 28 abril 2017 11:50

Áreas

Ginecologia. Saúde da Mulher. Saúde Pública.

Mais de sete milhões de mulheres no Brasil sofrem da doença causadora de dor e infertilidade. A endometriose é uma enfermidade inflamatória crônica que afeta cerca de 10% das mulheres em idade reprodutiva (entre 20 e 40 anos). Estudos recentes constatam que se demoram aproximadamente 12 anos para diagnosticar a doença.

A endometriose é uma condição na qual o endométrio, mucosa que reveste a parede interna do útero, cresce em outras regiões do corpo. São cada vez maiores os números de pacientes diagnosticadas com a doença. Embora, normalmente, a endometriose seja diagnosticada entre os 25 e 35 anos, a doença provavelmente começa alguns meses após o início da primeira menstruação.

Segundo a médica ginecologista do Hospital Universitário da Universidade Federal do Piauí (HU-UFPI), Dra. Lia Cruz Vaz da Costa Damásio, o diagnóstico e o mapeamento correto da endometriose são essenciais para que se tenha um tratamento mais adequado. A especialista explica como ocorre a doença: “O útero é como se fosse uma pera e a camada que o reveste é o endométrio. Todo mês essa camada cresce com a ação do estrogênio, para acomodar o embrião fecundado, ou seja, essa é a função do crescimento endometrial, receber essa nidação (processo de implantação do embrião no útero). Quando isso não acontece, há a descamação desse epitélio que cresceu (endométrio) e, em seguida, vem a menstruação. A endometriose é esse tecido endometrial funcionante fora da cavidade do útero, podendo ocorrer nas trompas, nos ovários, no peritônio, e às vezes em lugares inusitados como a bexiga, no reto, no nariz (sangramentos), no tórax (derrame pleural)”.

A médica destaca que esse tecido, além de estar fora da cavidade endometrial, apresenta a capacidade de se desenvolver e responder ao estímulo hormonal do estrogênio. É como se acontecesse uma pequena menstruação fora do útero nesses focos da endometriose, e isso leva a vários sintomas, como cistos no ovário, cistos achocolatados, que podem causar dor ou infertilidade.

Como é identificada a endometriose?

Principalmente pela história da paciente. “O principal marcador clínico para se prever se a mulher vai ter endometriose grave ou profunda na vida adulta, é quando na adolescência, ela falta às aulas por conta de cólica menstrual. Lembrando que cólica não é normal nesses aspectos, porque existe a cólica normal e a cólica que te deixa de cama, ou seja, a que atrapalha as atividades diárias, então isso tem que ser bem investigado, pois as chances de endometriose são altas”, afirma a ginecologista.

Com o decorrer do tempo, essa dor vira uma dor pélvica acíclica, que é uma dor crônica, não relacionada somente ao período menstrual, mas também fora desse ciclo feminino. A paciente pode ter uma dispareunia de profundidade que é uma dor durante a relação sexual, ocasionada quando o pênis encosta na cavidade do útero, decorrente desses espessamentos dos focos de endometriose.

Ocorrem também alterações urinárias, intestinais cíclicas, ocasionadas pelo comprometimento da bexiga ou do reto, como: diarreia; dor durante a evacuação; dor para urinar, ou até saída de sangue nas fezes e na urina, durante a menstruação. Esses são os principais sintomas clínicos. A presença de algum deles tem que ser averiguada, pois está ligada à hipótese de endometriose. O diagnóstico clínico é o principal, mas no exame físico encontram-se algumas alterações que são sugestivas. Então é muito importante a análise clínica, porque o médico vai objetivar a supressão dos focos da endometriose, e tratar as duas principais vertentes da doença que são a dor ou a infertilidade.

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(Fonte: Divulgação, UFPI)

 

Tratamento

“No HU (da UFPI) prestamos bastante atenção ao exame clínico, e também à história da paciente, para não deixarmos passar nada em branco, e não banalizarmos as queixas de dor. Fazer uma investigação adequada é muito importante, como ultrassom, análise de outros órgãos, e uma vez que a paciente se enquadra nos critérios e no diagnóstico de endometriose, encaminhamos a paciente para um tratamento escalonado”, explica a médica.

O tratamento pode ser clínico (uso de anti-inflamatórios, anticoncepcionais, medicações hormonais a base de progesterona, medicações mais fortes como anaboles do gene RH, que são distribuídos pelo SUS; esse último age como uma menopausa clínica, para suprimir esse estímulo hormonal), ou em alguns casos ocorrem indicações de cirurgias, principalmente, quando a endometriose se manifesta com cistos grandes nos ovários maiores do que 6 cm, ou quando a paciente apresenta uma dor muito forte que acomete outros órgãos, necessitando também de uma abordagem multiprofissional, com um proctologista, um gastroenterologista, por exemplo.

Atualmente, a cirurgia é cada vez menos indicada para as pacientes, pois além de ser muito agressiva ao organismo feminino, em muitos casos não é suficiente para acabar com a dor. O investimento no tratamento clínico é o mais aconselhável. E para a paciente que deseja engravidar, a melhor resposta é com a fertilização in vitro.

A doutora explica também que o acompanhamento das suas pacientes no HU é constante, e que isso sempre leva a aproximação maior da paciente com o médico, gerando uma interação e conforto. “A endometriose não tem cura, ela possui apenas tratamento, muitas vezes quando uma paciente é diagnosticada com endometriose, costumo dizer que estamos nos casando, pois iremos ver altos e baixos, tristezas e alegrias, durante todo o tratamento e, somente depois da menopausa, ou com a retirada do útero, que se pode dizer que a paciente está curada entre aspas, pois como eu disse, essa cirurgia é um pouco agressiva e, às vezes, não resolve”, finaliza.

A intensidade da dor não está relacionada à extensão do problema. Algumas mulheres com doença muito extensa não apresentam dor alguma, enquanto outras com pequenos focos sentem dor a ponto de necessitarem ir a uma emergência. Além disso, muitas vezes os sinais da endometriose podem ser confundidos com os de outras doenças, por isso é muito importante consultar um médico antes de dar início a qualquer tipo de tratamento.

Assista ao vídeo sobre endometriose do Portal Blausen (animações médicas 3D).

Fonte: UFPI. Imagem: Wikimedia Commons.

 

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