Notícia

De olho no sono dos trabalhadores

Novo Laboratório no Rio de Janeiro será especializado em estudos sobre o sono de trabalhadores

Reprodução.

Fonte

Faperj

Data

quinta-feira, 7 julho 2016 19:00

Áreas

Medicina. Sono. Terapia Ocupacional. Saúde Pública.

Trabalho, estudo, trânsito, família, amigos, mídias sociais que nos conectam 24 horas por dia. A vida moderna parece não dar espaço para quase nada, nem mesmo para o sono. Muito além do relaxamento, o descanso noturno é essencial para o bom funcionamento do nosso organismo. Uma rotina agitada, com excesso de estímulos luminosos e privação de horas de sono é perigosa para toda a população e, principalmente, para aqueles que trabalham em turnos, à noite e/ou em atividades com exposição a riscos químicos e físicos.

Foi pensando em estudar como a privação do sono impacta na saúde do trabalhador que a pesquisadora Dra. Liliane Reis Teixeira está montando o primeiro laboratório do País voltado, exclusivamente, para este tipo de avaliação. O projeto tem apoio da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro FAPERJ). A Dra. Liliane é coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública e Meio Ambiente e epidemiologista em saúde do trabalhador do Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana, da Escola Nacional de Saúde Pública (Cesteh/Ensp), da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Em 2013, ela teve o projeto “Avaliação do ciclo vigília-sono em populações expostas a riscos químicos e físicos no trabalho” aprovado no Programa Apoio a Grupos Emergentes de Pesquisa no Estado do Rio de Janeiro, da FAPERJ.

A expectativa da pesquisadora é a de que o laboratório seja inaugurado ainda no segundo semestre de 2016, logo após os Jogos Olímpicos no Rio. O espaço de pesquisa vai permitir que sejam realizados dois exames por dia, chegando à média de 40 por mês. Chamado de polissonografia, o teste de investigação de queixas de sono é indolor. Enquanto dorme, o paciente é monitorado por meio de sensores fixados no corpo.

“Diferente dos laboratórios do sono que existem na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), por exemplo, este vai ser focado na saúde do trabalhador”, diz a Dra. Liliane

A pesquisadora explica que o estudo terá dois enfoques: o primeiro, investigar o sono dos profissionais que trabalham em turnos ou à noite; e o segundo, avaliar as pessoas expostas a riscos químicos e físicos. “Trabalhadores da indústria, os que trabalham em plataformas de petróleo ou os expostos à radiação. São poucas as pesquisas voltadas para estudar a qualidade do sono desses profissionais, por isso o nosso esforço”, afirma.

A Dra. Liliane conta que a equipe, formada por três técnicos e um médico, está sendo treinada no Instituto do Sono em São Paulo, referência mundial na área. Segundo a pesquisadora, inicialmente o estudo será aberto a voluntários que trabalham na Fiocruz. “Quando se fala em distúrbio do sono, muita gente quer participar. Estamos entrando no Comitê de Ética para apresentar uma proposta para uma pesquisa mais ampla, que possa incluir pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS)”, diz a pesquisadora.

A Dra. Liliane explica que o trabalho em horário noturno está associado à fadiga, privação de sono, pior desempenho, além de exposição dos profissionais a riscos de incidentes e acidentes no desempenho da função. Também já são comprovados casos de distúrbios reprodutivos (em mulheres), cardiovasculares e endócrinos, por meio de liberação crônica de adrenalina e cortisol, principalmente catecolaminas, que tendem a diminuir defesas imunológicas do organismo. Segundo a especialista em Saúde do Trabalhador, a intenção é que, por meio da parceria com o SUS, seja possível selecionar voluntários com perfil mais específico, isto é, que trabalhem em atividades onde haja exposição a riscos químicos e físicos. “Quero entender como o contato com determinadas substâncias ou elementos afetam o sono dessas pessoas. Infelizmente quando se propõe realizar este estudo com trabalhadores em uma empresa, há resistência da direção”, acrescenta.

“Outro fator importante é a exposição às substâncias químicas e físicas em horários do ciclo circadiano (ciclo biológico dos seres vivos influenciado pela luz) diferentes do usual, quando as capacidades de eliminação de um xenobiótico (composto químico estranho ao organismo humano) podem estar reduzidas”, diz a Dra. Liliane.

O acompanhamento médico por um profissional especializado em medicina do sono pode evitar, inclusive, a dependência química por medicamentos. A pesquisadora alerta que a insônia pode estar ligada a um quadro clínico mais comportamental, do que efetivamente a uma doença.

“Para que possamos dormir, é preciso que não se tenha exposição à luz e também que haja um gasto energético. Não adianta apenas ter um grande gasto mental e nenhuma atividade física ao longo do dia”, afirma. “Se você conseguir entender como seu ritmo de sono funciona e respeitá-lo, é possível voltar a dormir bem”, acrescenta a pesquisadora.

Ela salienta que a famosa receita de sono saudável de oito horas por dia é bastante relativa. Segundo a pesquisadora, as cargas genética, ambiental e comportamental de cada indivíduo são elementos determinantes para se definir a hora média que se deve dedicar ao descanso noturno. “Há pessoas que não sofrem de depressão, por exemplo, e que precisam dormir mais horas do que a média, como até 12 horas”, esclarece.

Fonte: Aline Salgado, Faperj. Imagem: Divulgação.

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