Notícia

Comunicação assistida por tecnologia pode prejudicar o desenvolvimento do ‘cérebro social’

De acordo com estudo internacional, o uso de aplicativos de videoconferência teria consequências negativas sobre a cognição social e seu desenvolvimento

Drazen Zigic via Freepik

Fonte

Universidade de Montreal

Data

domingo, 22 janeiro 2023 16:40

Áreas

Biologia. Inteligência Artificial. Medicina. Neurociências. Psicologia. Psiquiatria. Sociologia.

Zoom, Teams, Messenger, FaceTime, Skype, WhatsApp: os serviços de videoconferência são múltiplos e nunca foram tão utilizados desde a pandemia da COVID-19.

Embora a transição para a comunicação assistida por tecnologia tenha afetado todas as facetas da vida social humana nos últimos três anos, a literatura científica ainda não relatou o impacto dessas ferramentas no cérebro social.

As interações mediadas por tecnologia podem ter consequências neurobiológicas que possam interferir no desenvolvimento de habilidades sociais e cognitivas?

Isso é o que uma equipe de pesquisa internacional queria saber, incluindo o Dr. Guillaume Dumas, professor do Departamento de Psiquiatria e Dependência da Universidade de Montreal, no Canadá, e pesquisador principal do Laboratório de Psiquiatria de Precisão e Fisiologia Social do Centro de pesquisa do Centro Hospitalar Universitário CHU Sainte- Justine.

Membro acadêmico associado ao Mila – o Instituto de Inteligência Artificial de Quebec – e professor titular em Inteligência Artificial e Saúde Mental, o Dr. Guillaume Dumas tem interesse em neurociências sociais, biologia de sistemas e inteligência artificial.

Como parte deste estudo, o pesquisador e sua equipe compararam a atividade elétrica do cérebro de 62 mães e seus filhos de 10 a 14 anos durante uma interação face a face em comparação com uma comunicação à distância assistida por tecnologia.

Usando uma técnica chamada hyperscanning, que permite o registro simultâneo da atividade cerebral de diferentes indivíduos, a equipe descobriu que a interação usando uma plataforma de videoconferência amortecia a sincronização intercerebral entre mãe e filho.

Estar no mesmo comprimento de onda, literalmente

Há vários anos, o professor Guillaume Dumas demonstrou que o cérebro humano, quando envolvido em uma interação social, tende a sincronizar-se espontaneamente, ou seja, seus ritmos elétricos oscilam na mesma frequência.

“Associamos a sincronização intercerebral ao desenvolvimento da cognição social. Nas crianças, essa ressonância entre os cérebros lhes permite aprender a distinguir entre si e os outros, aprender os laços sociais”, explicou o professor Guillaume Dumas.

Neste estudo, a interação pessoal provocou nove sincronizações significativas entre as áreas frontal e temporal do cérebro, enquanto a interação remota resultou em apenas uma.

“Se a sincronização intercerebral for perturbada, podemos esperar consequências no desenvolvimento cognitivo da criança, em particular no que diz respeito aos mecanismos de suporte às interações sociais. E esses efeitos duram a vida inteira”, acrescentou o pesquisador.

Fundamentalmente social

Os resultados deste estudo levaram o Dr. Guillaume Dumas a acreditar que mais pesquisas devem ser realizadas sobre os custos potenciais da tecnologia social na maturação do cérebro, especialmente em jovens. Ele questiona, assim, a adequação do uso do ensino online para adolescentes.

“Pergunto-me sobre a digitalização da educação e os efeitos da pandemia no desenvolvimento da cognição social dos jovens, num contexto onde as relações humanas têm sido fragmentadas”, disse o pesquisador. Essa é uma questão importante, mas também difícil de avaliar, sabendo que esses efeitos serão medidos em 10, 15 ou 20 anos.”

Além disso, segundo o Dr. Guillaume Dumas, as conclusões do estudo também podem ser extrapoladas para adultos, mais precisamente no caso da famosa ‘fadiga do zoom’, exaustão essa atribuída às inúmeras videoconferências durante os últimos períodos de confinamento. “Como as interações online produzem menos sincronizações intercérebro, seria normal sentir que é preciso mais esforço e energia para interagir, que essas interações parecem mais trabalhosas e menos naturais”, disse o pesquisador.

Aos olhos da equipe de pesquisa, o estudo confirmou que o vínculo social é fundamental para o ser humano e que os mecanismos intercerebrais estão ligados ao desenvolvimento do cérebro social. Os seres humanos parecem estar verdadeiramente interconectados por uma tecnologia muito mais poderosa do que todos os recursos de teleconferência deste mundo: o cérebro.

Os resultados foram publicados na revista científica NeuroImage.

Acesse o artigo científico completo (em inglês).

Acesse a notícia completa na página da Universidade de Montreal (em francês).

Fonte: Béatrice St-Cyr-Leroux, Universidade de Montreal. Imagem: Drazen Zigic via Freepik.

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