Notícia

Cirurgia pediátrica e os principais problemas em bebês e crianças

Fimose, hérnia inguinal e localização testicular estão entre os principais problemas

Pixabay

Fonte

Associação Brasileira de Cirurgia Pediátrica

Data

sexta-feira, 29 abril 2016 07:15

Áreas

Pediatria. Cirurgia Pediátrica.

A Cirurgia Pediátrica é a área da cirurgia que trabalha com crianças de todas as idades, desde bebês até adolescentes, e também com aconselhamento fetal e atendimento de adultos que ainda têm problemas decorrentes de doenças congênitas. A Associação Brasileira de Cirurgia Pediátrica fornece em seu site informações sobre os problemas mais comuns, como a fimose, hérnia inguinal e a localização testicular.

Fimose

A fimose ocorre quando a pele da porção final do pênis (prepúcio) termina num anel muito estreito, que não pode ser retraída para permitir que a glande seja completamente exposta. É muitas vezes confundida com a presença de aderências entre a glande e o prepúcio, que também não permitem que a pele se desloque sobre a glande, mesmo sem haver um estreitamento (anel) na pele. Estas aderências são normais em bebês pequenos, e melhoram progressivamente com o crescimento da criança.

Muitos pais ficam preocupados com a possibilidade de doença muito cedo: algumas crianças demoram mais tempo que as outras para expor a cabeça do pênis. Existe a suposição de que a tentativa forçada de afastar a pele e expor a glande (“massagem”) ajude. Só que este procedimento, em geral, acaba criando microfissuras que ao cicatrizarem podem estreitar o anel e provocar, aí sim, o surgimento de uma fimose real, por causa das várias pequenas cicatrizes geradas pelo trauma repetitivo sobre a pele.

O melhor conselho com relação aos meninos pequenos é evitar assaduras de fralda e traumas locais, mantendo boa higiene com sabonete neutro, e aguardar o processo natural de liberação da glande, que acontece até os 3-4 anos de idade na maioria das crianças.

Se o descolamento natural não acontecer, a cirurgia pode se tornar indicada, porque uma fimose verdadeira, persistente, pode trazer problemas para a higiene local (o que, num prazo muito longo, causa doenças, inclusive o câncer de pênis, que, supostamente, está ligado à higiene ruim e à presença do vírus HPV). Pode também facilitar a ocorrência de balanopostites, trazer problemas para a vida sexual futura (dor, por causa do estreitamento da pele, que provoca uma constrição do pênis em ereção) e parafimose (a impossibilidade de trazer a pele novamente para a posição habitual depois de uma retração forçada, resultando na compressão da glande, que fica “presa”).

Hérnia Inguinal

A hérnia inguinal é doença muito frequente: acontece em mais de uma em cada cem crianças, acometendo mais os meninos do que as meninas. É muito mais comum em bebês prematuros: quase um terço deles tem a doença. Geralmente, o que se nota é um “caroço” ou “inchaço” na região inguinal (virilha), principalmente quando a criança faz força (choro ou evacuação nos bebês).

Assim que constatado o problema, é necessário fazer a cirurgia. Ainda que algumas pessoas, por receio, pretendam aguardar o crescimento dos bebês para que eles sejam operados, esta não é uma boa ideia: 75% das complicações graves das hérnias inguinais acontecem nos bebês, principalmente nos primeiros três meses de vida. Além disso, a anestesia geral em crianças pequenas é segura, desde que feita em boas condições técnicas e por anestesista habilitado.

As hérnias inguinais não se curam espontaneamente. Ou seja, não adianta aguardar uma melhora natural, que não vai acontecer.

O estrangulamento (hérnia estrangulada) acontece quando uma víscera (em geral uma porção do intestino) fica presa no canal por onde a hérnia sai, e passa a ter seu suporte sanguíneo comprimido e insuficiente, correndo o risco de necrosar (morrer) dentro da hérnia. Pode-se suspeitar de episódio de estrangulamento quando a criança, em geral sabidamente portadora de hérnia, sente dor local muito intensa e vomita repetitivamente. A hérnia se mostra irredutível, o conteúdo fica endurecido e a apalpação é dolorosa. Com o passar do tempo, a região fica avermelhada, inflamada.

Este quadro é mais frequente em bebês do que em crianças maiores. O tratamento nestes casos, quando a redução (colocação da víscera presa de volta na cavidade abdominal) é impossível, é a cirurgia de urgência, que tem maior risco do que uma cirurgia marcada (eletiva).

Outro problema frequente após o estrangulamento de uma hérnia é a atrofia do testículo do mesmo lado, cujos vasos sanguíneos nutridores ficam comprimidos enquanto a hérnia não é reduzida, por manobras de compressão ou cirurgia.

O tratamento da hérnia inguinal é sempre cirúrgico, e o que o cirurgião faz, através de uma pequena incisão na virilha, é descolar o saco da hérnia das estruturas vizinhas e ligá-lo (amarrá-lo) na região de sua origem no abdomen, para que não possa mais conduzir as vísceras pelo canal da hérnia. É, normalmente, uma cirurgia ambulatorial, com internação hospitalar muito curta.

Hipospadia

A Hipospadia é a má-formação congênita, na qual a uretra masculina tem desenvolvimento incompleto no feto, de forma que o meato urinário (orifício de saída da urina) fica “mais para trás” no pênis. Junto com a localização anormal do meato há desenvolvimento anormal da pele (o prepúcio é assimétrico, maior de um lado do que do outro, e parece um capuz) e pode haver curvatura do pênis para baixo.

Crianças com hipospadia não devem ser circuncidadas, porque a pele do prepúcio pode ser usada futuramente na reconstrução do pênis. Esta operação deve ser feita, idealmente, entre os 6 e 12 meses de idade da criança e estar completa antes da idade escolar, para minimizar traumas psicológicos e sociais. A cirurgia é bastante delicada e complicações locais são comuns, mas os resultados finais são bons, de forma geral.

Testículos Não Descidos

Algumas crianças nascem sem os testículos na bolsa testicular (saco). Abaixo, podem-se conferir as principais causas de bolsa testicular vazia:

Prematuridade – os testículos não tiveram tempo de descer, mas o problema pode se resolver espontaneamente nos primeiros meses de vida.

Criptorquia Verdadeira – os testículos, que têm origem dentro do abdomen, não completaram o processo de descida até o fundo da bolsa testicular.

Testículos ectópicos – os testículos tiveram um trajeto errado de descida e se fixaram num local inadequado (raiz da coxa, períneo, pênis, no outro lado da bolsa testicular ou na região da virilha).

Testículos retráteis – os testículos se movem entre a bolsa e a virilha, a partir da atividade do músculo cremaster, que faz parte do cordão espermático (estrutura que conduz a nutrição vascular dos testículos).

Testículos ascendentes – os testículos, que estavam normalmente localizados ao nascimento, ascendem para uma localização anormal durante o processo de crescimento da criança.

Anorquia – o testículo não existe, porque não se formou embriologicamente (raramente) ou porque houve uma torsão do testículo fetal, que então se atrofiou completamente.

Uma informação importante é que as funções do testículo não sofrem grande alteração nos casos de problemas unilaterais: a fertilidade e a síntese de hormônios são normais. Nos casos de doença bilateral, a fertilidade é muito prejudicada, e o tratamento deve ser o mais precoce possível (antes de 1 ano de idade) para diminuir os prejuízos.

Até seis meses de vida, os testículos crípticos podem descer naturalmente, em especial nos prematuros. Após este período é que a cirurgia deve ser feita, porque os testículos sofrem prejuízos, com diminuição das células que futuramente se diferenciarão em espermatozoides (o que pode levar a infertilidade), têm maior risco de torsão, sofrem atrofia progressiva e têm risco maior de tumores (em torno de cinco vezes a incidência da população normal).

Fonte: Associação Brasileira de Cirurgia Pediátrica. Imagem: Pixabay.

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