Notícia
Câncer de pele também atinge pessoas negras
Professora da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Uberlândia fala sobre cuidados para evitar tumores
wavebreakmedia_micro via Freepik
Fonte
UFU | Universidade Federal de Uberlândia
Data
domingo, 1 janeiro 2023 12:50
Áreas
Bioquímica. Dermatologia. Medicina. Oncologia. Saúde Pública.
A pele é o maior órgão do corpo humano. No Brasil, seus tons são divididos em três grandes grupos: brancos, pretos e pardos. De acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD Contínua) 2021, 56,1% da população brasileira se autodeclara negra (pretos e pardos). Porém, pouco se fala sobre como cuidar dessa pele, principalmente quando o assunto é câncer de pele.
A pele preta ou parda tem algumas particularidades em sua fisiologia, o que interfere diretamente nos cuidados. A principal delas é em relação à maior produção de melanina, responsável pela pigmentação da pele. Isso diminui a predisposição ao câncer de pele, já que a melanina funciona como uma barreira natural da pele, minimizando os efeitos da radiação ultravioleta e do fotoenvelhecimento.
Entretanto, isso não exclui pessoas negras da lista dos pacientes com câncer de pele. Com o maior número de casos no Brasil, o câncer de pele representa 33% dos diagnósticos de câncer no país. A maior parte são do tipo não-melanomas, que têm alta chance de cura. Os mais comuns são o Carcinoma Basocelular (CBC), seguido pelo Carcinoma Espinocelular (CEC).
Porém, 3% dos tumores são melanomas malignos. Entre eles está o melanoma acral, um subtipo de câncer que atinge principalmente as palmas das mãos e as solas dos pés, regiões que costumam ficar menos expostas ao sol. Este é o tipo mais agressivo.
De acordo com a Dra. Mabel Duarte Alves Gomides, professora de Dermatologia do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e médica no Hospital do Câncer, que integra o Hospital de Clínicas da universidade, é importante entender que a miscigenação do Brasil permite a transmissão da predisposição genética para pessoas negras. Isso porque, apesar da barreira de melanina, a pouca incidência de radiação ultravioleta já ativa a tendência à alteração celular.
“Não tem uma explicação muito clara, mas o pouco de transformação de DNA que vemos nas pessoas de pele parda ou negra, quando você retira um carcinoma ou melanoma, ele vem na forma mais agressiva. Os negros normalmente têm os subtipos mais agressivos”, apontou a professora.
Para a professora Mabel Gomides, a pele com mais melanina se protege até onde é possível, porém, quando o câncer surge, já aparece na forma mais agressiva. Por isso, o cuidado deve ser reforçado. “[A lesão] precisa ser avaliada e checada. Não pode ser subestimada por estar em uma pele negra”, completou a professora.
Entre as causas, a professora citou os fatores sociais e a própria estrutura do país. Além disso, aponta que há uma diferença no tipo de manchas. “É mais difícil porque lesões que não são pigmentadas são mais difíceis de serem visualizadas. Então, pode ser que um dos aspectos seja esse: são tardiamente diagnosticados”, afirmou.
O câncer de pele é uma doença resultante do desenvolvimento anormal de células da pele, que se multiplicam até formar um tumor. Gomides destaca que a pele fica muito exposta e, por isso, o favorecimento do desenvolvimento do câncer de pele está na predisposição genética e na radiação ultravioleta acumulada nos tecidos, que promovem o dano nas células.
Entre as predisposições genéticas, estão aqueles cujos familiares já tiveram câncer, pessoas com olhos, cabelos e peles claras, com sardas ou com muitas pintas pelo corpo. Já o acúmulo de radiação ultravioleta acontece com pessoas que passam muito tempo expostas ao sol sem utilizar fotoproteção.
Apesar de ser mais comum em pessoas acima de 40 anos, o cuidado com a pele deve começar desde cedo para garantir a proteção. Segundo a professora, para evitar a formação do câncer, há algumas medidas de fotoproteção: aplicar protetor solar a cada três horas, evitar a exposição ao sol das 9h00 às 15h00 e usar chapéus, óculos e roupas que cubram a pele quando expostas ao sol em atividades externas.
A Dra. Mabel Gomides apontou que a única diferença entre os cuidados com a pele negra e a pele branca é o fator do protetor solar: 30FPS para o primeiro grupo e acima disso para o segundo grupo. Isso visando manter a mesma fotoproteção.
Sobre a aplicação do protetor solar, aplicar a quantidade ideal é essencial para a proteção. Assim, ela é medida em colher de chá. O correto é uma para face, pescoço e decote, uma para cada braço, uma para a parte anterior e outra para a parte posterior do tórax e duas colheres para cada perna.
A professora ressaltou a importância da auto análise da pele. Caso o paciente encontre pintas, uma forma de avaliá-las é por meio do método ABCDE: observe se a lesão é simétrica ou Assimétrica; a Borda é lisa ou ondulada; a Cor é uniforme; o tamanho, aqui avaliado como Dimensão maior ou menor que 6mm; e Evolução, ou seja, se está se modificando. Caso a lesão seja assimétrica, com borda ondulada, com cores distintas, maior que 6mm e sofrendo alterações, procure um dermatologista imediatamente.
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Fonte: Naiara Ashaia, Portal Comunica UFU. Imagem: wavebreakmedia_micro via Freepik.
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