Notícia
Barreira protetora do câncer de ovário: como a matriz do tumor ensina as células a desarmar o ataque imunológico
Pesquisa revela táticas que o tumor usa para desarmar o sistema imunológico e aponta para possíveis estratégias terapêuticas para superar as defesas do câncer e tratar os pacientes com mais eficácia
Barts Cancer Institute, Universidade Queen Mary de Londres
Fonte
Universidade Queen Mary de Londres
Data
sábado, 20 maio 2023 19:10
Áreas
Biologia. Medicina. Microbiologia. Oncologia. Saúde Pública.
A matriz extracelular é uma ‘rede de apoio’ que envolve as células e ajuda a manter a forma 3D e a estrutura dos tecidos. Os tumores manipulam e reorganizam essa estrutura à medida que se desenvolvem para sustentar seu crescimento e disseminação. No entanto, novas pesquisas mostram que a matriz não é apenas um esqueleto inerte, mas um cúmplice dinâmico e ativo no desenvolvimento do tumor.
“A matriz era vista anteriormente como um espectador neste processo, mas recentemente, os pesquisadores perceberam que ela tem um efeito funcional direto sobre como os tumores se desenvolvem e, mais importante, como os tumores provavelmente responderão ao tratamento”, disse o Dr. Oliver Pearce, do Barts Cancer Institute da Universidade Queen Mary de Londres, no Reino Unido.
A matriz fornece uma linha de defesa em torno dos tumores que exclui e desarma as células imunológicas, impedindo-as de atacar o câncer. Isso pode fazer com que imunoterapias potencialmente potentes falhem, pois sua capacidade de aumentar o poder do sistema imunológico para combater o câncer é inutilizada se as células imunes não puderem se infiltrar no tumor.
“Queríamos descobrir: quais são os componentes importantes da matriz que suprimem o sistema imunológico? Podemos direcioná-los para melhorar a infiltração imunológica e a eficácia das terapias?”, destacou a Dra. Eleanor Tyler, pesquisadora de pós-doutorado no laboratório do Dr. Pearce e coautora principal do estudo publicado na revista científica Nature Communications.
No novo estudo, a Dra. Eleanor Tyler analisou dados de amostras de tumores de 12 tipos diferentes de câncer, incluindo câncer de ovário. Ela descobriu que a doença dos pacientes progredia mais rapidamente quando a matriz ao redor do tumor continha um conjunto de cinco blocos de construção moleculares principais. Curiosamente, a matriz construída dessa maneira geralmente continha células chamadas macrófagos M0, uma misteriosa classe de células imunológicas que permanece pouco compreendida.
Isso levantou várias questões: essas células estão ajudando a suprimir uma resposta imune e proteger o tumor? E por que esses macrófagos são tão abundantes na matriz que contém essas cinco moléculas?
Os pesquisadores especularam que a matriz do tumor poderia estar operando como uma escola, treinando células imunológicas imaturas para se tornarem macrófagos M0. Para testar essa teoria, eles coletaram amostras de tumores ovarianos e removeram todas as células, deixando para trás a arquitetura da matriz totalmente intacta.
Em seguida, a equipe introduziu células imaturas chamadas monócitos nessa estrutura. “Para nossa surpresa, os monócitos que colocamos neste modelo amadureceram em macrófagos semelhantes às células M0 que vimos em tecidos tumorais humanos sem nenhum outro estímulo. A matriz instiga essa mudança por si só”, comentou o Dr. Pearce.
Em colaboração com colegas da Universidade de Basel, na Suíça, os pesquisadores também revelaram que seus macrófagos M0 podem suprimir componentes da resposta imune – como as células T, que desempenham um papel importante na morte do tumor. As células T incubadas com esses macrófagos não proliferaram tão rapidamente e mostraram sinais de serem desativadas.
Esses resultados podem abrir caminho para novos medicamentos que visam partes da matriz extracelular e interrompem sua capacidade de suprimir as respostas imunes ao tumor. O Dr. Pearce e sua equipe já estão trabalhando com empresas de biotecnologia para desenvolver terapias potenciais que visam aspectos da matriz extracelular e diminuem as defesas do tumor. Essas abordagens podem ser usadas em combinação com imunoterapias para aumentar sua eficácia e melhorar a sobrevida dos pacientes.
Acesse o artigo científico completo (em inglês).
Acesse a notícia completa na página da Universidade Queen Mary de Londres (em inglês).
Fonte: Charlotte Ridler, Barts Cancer Institute via Universidade Queen Mary de Londres. Imagem: tumor de ovário, mostrando células tumorais (em verde) cercadas por matriz (em vermelho e azul) e células T (em magenta). Fonte: Barts Cancer Institute, Universidade Queen Mary de Londres.
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