Notícia
Alterações e problemas com a voz: dúvidas frequentes
Especialistas dão orientações sobre a voz e problemas com a voz
Divulgação, SBFa
A voz humana é produzida na laringe, um tubo que fica no pescoço. Dentro desse tubo, existem duas dobras de músculos e mucosa, chamadas popularmente de “cordas vocais” (o nome correto seria pregas vocais). Para produzir a voz, essas pregas vibram com a passagem do ar dos pulmões, que é o “combustível” para o som. Esse som é transformado em fala pelos movimentos de várias estruturas, como língua, boca e lábios. Quem comanda toda essa operação é o cérebro, enviando impulsos de acordo com o que queremos falar e de que forma (fraco ou forte, fino ou grosso).
A voz é o resultado de características herdadas e do ambiente em que vivemos. Cada voz é única e possui ondulações e variações no timbre conforme a circunstância, embora seja possível uma transformação rápida na tonalidade de acordo com as emoções e o modo como falamos com as pessoas.
Qualquer dificuldade na produção da voz pode ser considerada um problema de voz, como rouquidão, cansaço ao falar, voz fina ou grossa demais, fraca ou forte demais. A rouquidão, também chamada de disfonia, pode estar associada ao uso prolongado da voz (lecionar, cantar), ou a gritos e esforço excessivo sem o devido preparo.
A Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia (SBFa), cujo Departamento de Voz é coordenado pelas fonoaudiólogas Dra. Márcia Helena M. Menezes e Dra.Carolina Florin Anhoque, ressalta que um terço das profissões utiliza a voz no trabalho, e muitos referem distúrbio vocal como limitação de atividades profissionais. Um distúrbio vocal pode ser um sinal secundário de doenças neurológicas e de câncer de laringe.
Especialistas da SBFa tiram dúvidas sobre a voz
Em manual publicado pelo Departamento de Voz da SBFa, especialistas da sociedade científica tiram algumas das principais dúvidas sobre voz e problemas na voz:
- Como saber se eu tenho um problema de voz?
Se sua voz ficou diferente nos últimos tempos (rouca, fraca, tensa ou cansada, por exemplo), se melhora quando você fica alguns dias sem falar muito e piora em situações em que usa mais a sua voz, é possível que esteja com um problema. Se as modificações durarem mais que 15 dias, você deve consultar um especialista.
- Existe diferença entre projetar a voz e falar alto?
Sim. Projetar é falar alto com controle de qualidade da voz, sem sobrecarregar as “cordas vocais”; já falar alto pode ser sinônimo de gritar, com esforço excessivo, que pode ser prejudicial.
- Por que minha voz muda durante o dia?
Porque a tensão do corpo varia e a voz tende a acompanhar nosso estado físico e emocional. A voz também é influenciada pelo ambiente. Por exemplo, em situações de muito barulho, a voz fica automaticamente mais forte e pode se cansar mais rapidamente. Já quando estamos relaxados, ela fica mais solta, mais baixa e mais grossa (grave).
- Como posso cuidar da minha voz?
Procure falar sem fazer força e abra bem a boca para articular as palavras. Beba água regularmente, evite pigarrear, gritar e falar muito em ambientes ruidosos, competindo com o barulho. Limite o álcool e, se fumar, procure um programa para interromper o tabagismo. Remédios caseiros para melhorar a voz geralmente não dão resultados e podem irritar sua garganta.
- É normal a voz “tremer” quando se fala?
A voz pode tremer em situações de fortes emoções, timidez ou medo, mas se você perceber que sua voz está instável mesmo quando não está nervoso, procure um especialista pois alguns problemas neurológicos podem começar com voz trêmula.
- O que fazer quando estou totalmente sem voz?
Se precisar falar, não force, fale baixo e mais devagar, abrindo bem a boca, porém, evite sussurrar. Mantenha-se hidratado bebendo goles de água ao longo do dia e procure um médico otorrinolaringologista e/ou um fonoaudiólogo.
- É normal uma criança ser rouca?
Não. Rouquidão é sinal de um problema na voz. Se a criança fica rouca com frequência por falar forte, gritar ou se ela sempre foi rouca, é necessário compreender o que está acontecendo. Uma rouquidão pode dificultar a comunicação e prejudicar o desenvolvimento social. Procure a orientação de um fonoaudiólogo e/ou otorrinolaringologista.
- Quando a voz muda na adolescência?
A voz muda entre 13 e 15 anos, podendo ficar oscilante em um período de seis meses, até ficar mais grossa (grave), em direção ao padrão adulto de falar. Essas mudanças são mais nítidas nos meninos e coincidem com o aparecimento da barba.
- Se a voz continua infantil na vida adulta, pode-se fazer alguma coisa?
Se o corpo cresceu e a voz não mudou, deve-se avaliar o que está acontecendo. Várias situações podem prejudicar o desenvolvimento da voz, como problemas nas “cordas vocais”, alterações hormonais, ou até mesmo influências emocionais. A maioria dos casos pode ser tratada com sucesso e o adulto terá uma voz que combine com sua idade e seu corpo.
- Meninos podem cantar durante a mudança da voz na adolescência?
A voz durante a puberdade pode ficar instável e, por isso, cantar pode ser mais difícil. Contudo, se o adolescente for acompanhado por um professor de canto ou regente, pode continuar realizando tal atividade, desde que a música respeite as possibilidades de sua nova voz. O importante é lembrar que esse período de mudanças é passageiro e natural.
- Todo mundo pode cantar?
Sim, todos podem cantar, mas para ser cantor profissional é preciso preparar-se. Cantar exige controlar os movimentos dos músculos das “cordas vocais”, boca e demais órgãos da fala, além de desenvolver uma respiração para sustentar as frases musicais. Tudo isso requer treino.
- É natural que um professor seja rouco?
Não, embora rouquidão seja um problema muito comum nos professores, não é normal que sua voz seja rouca ou cansada por mais de duas semanas. Pode haver um problema nas “cordas vocais” ou um uso incorreto da voz.
- Aulas de canto podem melhorar um problema de voz?
Aulas de canto melhoram a habilidade de cantar, mas dificilmente têm efeito positivo na fala. Quando alguém está com problema na voz o canto pode até mesmo prejudicá-la, o que deve ser avaliado por um especialista.
- O que é o falsete?
É a voz em um tom mais fino (agudo) do que geralmente produzimos no canto. É utilizado como um recurso de interpretação, preferido em alguns estilos e com som diferente da voz natural de um cantor.
- Cantar em falsete faz mal para a voz?
Não, cantar em falsete não faz mal, a menos que a voz seja produzida com esforço e tensão. Professores de canto têm diversas técnicas para desenvolver essa região da voz; em casos problemáticos, fonoaudiólogos podem ajudar.
- A voz que eu ouço gravada parece diferente da minha voz. Isso é normal?
Sim, isso é normal, mesmo quando ouvimos nossa voz em gravadores muito bons. Quando escutamos nossa voz no dia a dia, recebemos informações por via aérea (som da voz pelo ar) e por via óssea (pela vibração dos ossos do corpo), e o som fica mais grave (grosso) que o som do gravador, que é mais próximo de como os outros nos ouvem.
- Como posso produzir diferentes vozes sem agredir ou machucar as “cordas vocais”?
Podemos evitar machucar as “cordas vocais” se fizermos pouco esforço, sem ficar com a garganta ardendo ou queimando. Todos conseguimos mudar a voz, deixando-a diferente, mais fina, mais grossa ou com outras características diferentes da voz natural, mas isso deve ser usado por pouco tempo.
- O que é aquecimento vocal?
Como se faz para aquecer a voz? O aquecimento vocal é constituído por uma série de exercícios e movimentos para soltar os músculos envolvidos na produção da voz, melhorar a circulação sanguínea e ajudar a concentração mental necessária para a atividade a que se destina,
- Posso dar aulas ou cantar se estiver resfriado?
Normalmente um resfriado comum não impede a pessoa de cantar ou falar. Porém, em algumas situações, a voz pode ficar prejudicada e é melhor fazer um repouso vocal do que correr o risco de prejudicá-la. Nessas condições, hidrate-se (tome goles de água) e use a voz somente quando necessário. No caso de dar aulas, o professor deve tomar cuidado para não gritar e ficar atento a sinais de alterações vocais e dor ao falar.
- Doenças do corpo podem afetar a voz?
Sim. Um problema de voz, chamado de disfonia, pode ser um sintoma de um problema maior de saúde do corpo, como de doença de Parkinson (que provoca voz mais fraca e trêmula) ou um problema mental, como depressão (com voz mais fraca e grossa). Assim, nem sempre um problema de voz tem sua causa nas “cordas vocais”, mas pode estar no cérebro.
- Tratamentos de voz são longos?
Não. A duração média de um tratamento de voz é de três a seis meses. O tempo exato varia de acordo com o caso, será determinado pela avaliação fonoaudiológica e depende do tipo de problema do indivíduo e de sua aderência ao tratamento.
- Rouquidão pode ser sinal de câncer?
Sim. Câncer de laringe geralmente tem como sinal uma rouquidão que dura mais de 15 dias e deve ser necessariamente avaliada por um médico otorrinolaringologista.
- A voz envelhece?
Sim. Como todo o corpo, a voz também passa por modificações com a idade, que são mais evidentes a partir dos 60 anos, com grande variação de pessoa para pessoa. A voz pode ficar mais fraca, mais trêmula, mais grossa nas mulheres e mais fina nos homens.
- O que são “calos nas cordas vocais”?
Os “calos nas cordas vocais” são engrossamentos que deixam a voz mais rouca e geralmente mais grossa. Os calos, cuja denominação correta é “nódulo de pregas vocais”, são geralmente o resultado de predisposição e de situações de uso excessivo ou abusivo da voz.
- Preciso de um exame médico para fazer uma terapia de voz?
Sim. A avaliação do médico otorrinolaringologista é indispensável para o tratamento fonoaudiológico, a fim de se identificar o problema em questão e poder-se planejar o melhor tratamento para seu caso.
- Fumar faz mal para a voz?
Sim, sem nenhuma dúvida o cigarro irrita os tecidos da laringe e aumenta as chances do aparecimento de um problema de voz, incluindo câncer de laringe e do pulmão. O fumante passivo também sofre as consequências negativas do cigarro.
- Ingerir álcool faz mal para a voz?
Sim. Como o cigarro, o álcool também irrita os tecidos da laringe. O seu consumo em excesso diminui o controle da voz, irrita os tecidos da laringe e aumenta a chance de um abuso vocal.
- Gritar faz mal para a voz?
O grito faz com que ocorra um forte atrito entre as pregas vocais e, se usado constantemente, pode prejudicar a saúde vocal e contribuir para o aparecimento de lesões na laringe como os “calos nas cordas vocais” (nódulos vocais).
- Outras pessoas reclamam que falo alto demais; posso mudar isso?
Sim, com a ajuda de um fonoaudiólogo você pode melhorar o controle do volume (intensidade) de sua voz. Perceba se fala muito alto mesmo em situações tranquilas, nas quais poderia falar mais baixo. Caso sinta que tem dificuldade para ouvir as outras pessoas e prefira um volume alto de televisão e rádio, você pode ter um problema de audição.
- Gargarejar com chá de romã é bom para a rouquidão?
Não há nenhum efeito comprovado. Caso você esteja sentindo a voz rouca, procure um fonoaudiólogo e um médico otorrinolaringologista para identificar a causa dessa alteração e, então, ser encaminhado para o tratamento mais adequado.
- Quais alimentos fazem bem para a voz?
A relação dos alimentos sobre a voz é indireta, pois somente o ar passa pela laringe e pelas “cordas vocais”. O mel pode ajudar como lubrificante e o própolis tem propriedades anti-inflamatórias, mas nenhum desses alimentos é tratamento para um problema de voz. A água também não passa pela laringe, mas a hidratação contribui para o funcionamento das “cordas vocais”, reduzindo o esforço e aumentando o rendimento vocal.
- Ar-condicionado pode prejudicar a voz?
Algumas pessoas podem ser sensíveis à exposição prolongada ao ar condicionado, apresentando ressecamento e alteração na voz. Se você trabalha em ambientes com ar condicionado, tome pequenos goles de água ao longo do dia, para combater a secura.
Acesse estas e outras dicas de especialistas em voz da SBFa no documento “Perguntas frequentes na área de voz”.
Acesse também outros documentos da SBFa:
Perguntas frequentes na área de disfonia infantil.
Perguntas frequentes na área de voz profissional.
Fonte: Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia (SBF). Imagem, Divulgação, SBFa.
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