Notícia
AIDS e antirretrovirais: estudo aponta nova estratégia
Novos estudos tentam validar estratégias mais efetivas e com custo mais acessível
Adaptado de Wikimedia Commons
Fonte
Journal of the International Aids Society
Data
domingo, 14 maio 2017 11:40
Áreas
Farmácia. Farmacologia. Bioquímica. Infectologia. Estudo Clínico. Saúde Pública.
A monoterapia com zidovudina, conhecida como AZT (um antirretroviral inibidor da transcriptase reversa) foi a primeira solução usada para controlar a replicação do vírus HIV. Logo depois, a combinação de duas drogas tornou-se a estratégia preferida, pois os efeitos do AZT ficavam ativos apenas em um curto prazo, devido à seleção de mutações do vírus. Infelizmente, a estratégia com dois fármacos também não conseguiu um controle de longa duração do vírus. Então, a terapia antirretroviral contendo três fármacos ativos de pelo menos duas classes distintas tem sido o padrão para o tratamento de portadores do vírus HIV em todo o mundo desde 1996.
A expansão do acesso à terapia Antirretroviral tem permitido uma redução de 38% na Incidência e de 35% na mortalidade associada à AIDS desde 2000. As diretrizes atuais para o tratamento do HIV recomendam terapia antirretroviral de primeira linha consistindo de dois nucleosídeos/nucleotídeos Inibidores da transcriptase reversa em combinação com um terceiro agente Inibidor da transcriptase reversa não-nucleosídeo. Nas duas últimas décadas, novas drogas para a terapia antirretroviral melhoraram as taxas de supressão viral em longo prazo, mas mesmo os regimes mais utilizados podem resultar em modificação ou interrupção do tratamento devido à tolerabilidade, toxicidade ou questões como horários de tratamento, Interações medicamentosas e necessidades alimentares.
Para reduzir a toxicidade, complexidade e custos, estratégias que possam diminuir o número de fármacos ativos têm sido avaliadas, tanto como terapia inicial quanto terapia de manutenção para pacientes que atingiram a supressão viral. A maioria dos esforços de pesquisa neste sentido tem levado a taxas de falha do tratamento inaceitavelmente altas. Um esquema de terapia com dois fármacos, um inibidor de protease mais o fármaco lamivudina (3TC), demonstrou resultados favoráveis no tratamento inicial de pacientes com HIV, verificados em um estudo clínico chamado GARDEL. Outros três estudos mostraram eficácia viral não inferior com a mesma terapia ou com a combinação de atazanavir potencializado com ritonavir e mais 3TC, todos realizados em pacientes virologicamente suprimidos.
Fármacos em pesquisa
O Dolutegravir (DTG) é um potente inibidor da transferência de cadeia da integrase, configurando uma barreira importante de resistência. O DTG é uma droga com prescrição para uma vez ao dia, bem tolerada, que pode ser ingeria com ou sem alimentos, com um baixo potencial para interações medicamentosas e uma alta barreira genética. A comparação com outros fármacos de primeira linha mostrou não-inferioridade do DTG em relação ao raltegravir e superioridade ao efavirenz (EFV) e ao darunavir (DRV), nos ensaios clínicos randomizados denominados SPRING, SINGLE e FLAMINGO, respectivamente.
A Lamivudina (3TC) é um potente análogo do nucleosídeo citidina sem efeitos secundários importantes e com boa segurança comprovada. Em monoterapia, tem uma baixa barreira genética selecionando, em caso de falha, a mutação M184V, que tem sido associada a uma redução na aptidão viral. Também é uma droga com prescrição para uma vez ao dia e também pode ser administrada com ou sem alimentos, além de não terem sido detectadas interações medicamentosas clinicamente relevantes.
Novos estudos
Pesquisadores argentinos publicaram na edição do dia 10 de maio da revista científica “Journal of the International AIDS Society” um estudo com uma nova estratégia terapêutica para pacientes com HIV. Trata-se de um estudo piloto (chamado PADDLE: Pilot Antiretroviral Design with Dolutegravir LamivudinE), apenas para demonstrar a prova de conceito do novo tratamento. A nova proposta foi aplicada a 30 pacientes sem tratamento anterior, seguidos durante 48 semanas. O regime terapêutico antirretroviral consistiu na administração de Dolutegravir (DTG, 50 mg) uma vez ao dia, combinado com Lamivudina (3TC, 300 mg) também uma vez ao dia. Este foi o primeiro estudo com terapia dupla DTG+3TC.
Os resultados alcançados mostraram que não houve problemas com tolerabilidade ou toxicidade e foi observada uma taxa de falha de 5%. Assim, os resultados do estudo PADDLE incentivam a exploração desta estratégia, mostrando que a combinação DTG+3TC pode ser considerada como uma opção de primeira linha, evitando a exposição a outros nucleosídeos. Houve baixa taxa de efeitos colaterais. A terapia dupla com DTG+3TC pode ser altamente eficaz, simples e uma boa opção em termos de custo-benefício.
Atualmente, estão sendo desenvolvidos outros dois estudos clínicos randomizados e de maior porte (chamados GEMINI 1 e GEMINI 2) que podem confirmar a estratégia aplicada no estudo PADDLE, validando a terapia com apenas dois fármacos.
Acesse o artigo científico completo (em inglês).
Fonte: Journal of the International Aids Society. Imagem: Adaptada de Wikimedia Commons.
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