Notícia

Aspirina e o risco de hemorragia em pessoas com mais de 75 anos

Uso diário e prolongado de aspirina por pessoas com mais de 75 anos provoca risco mais alto que o esperado de sangramento incapacitante ou fatal

Divulgação

Fonte

Universidade Oxford

Data

segunda-feira, 19 junho 2017 07:10

Áreas

Medicina. Hematologia. Cardiologia. Neurologia.

Enquanto o uso de aspirina a curto prazo após um acidente vascular cerebral ou ataque cardíaco tem benefícios claros, pesquisadores da Universidade Oxford, no Reino Unido, dizem que os pacientes com mais de 75 anos que tomam aspirina diariamente devem receber prescrição de um inibidor de bomba de prótons (medicamentos para azia) para reduzir o risco de hemorragia. 

Aproximadamente 40 a 60% dos adultos com idade igual ou superior a 75 anos nos EUA ou na Europa tomam aspirina diária ou outros fármacos antiplaquetários para prevenir ataques cardíacos ou acidentes vasculares cerebrais. O tratamento vital com fármacos anti-plaquetas é recomendado para pacientes que já tiveram um ataque cardíaco ou acidente vascular cerebral (a chamada prevenção secundária).

A ideia para o tratamento de longo prazo tem base em ensaios feitos principalmente em pacientes com menos de 75 anos, com seguimento de aproximadamente 2 a 4 anos. Estudos anteriores demonstraram que existe uma ligação causal entre o tratamento antiplaquetário e o sangramento gastrointestinal superior e, embora o risco seja aumentado com a idade, as estimativas sobre o tamanho do risco variam amplamente e há poucos dados que comprovem se a gravidade do sangramento também aumenta com a idade.

O Prof. Dr. Peter Rothwell, da Universidade Oxford, explica: “Sabemos há algum tempo que a aspirina aumenta o risco de sangramento para pacientes idosos. Mas nosso novo estudo nos dá uma compreensão muito mais clara do tamanho do risco aumentado e da gravidade e consequências dos sangramentos. Estudos anteriores mostraram que existe um claro benefício do tratamento antiplaquetário de curto prazo após ataque cardíaco ou acidente vascular cerebral. Mas nossas descobertas levantam questões sobre o equilíbrio do risco e o benefício do uso diário de aspirina a longo prazo em pessoas de 75 anos ou mais se um inibidor da bomba de prótons não for prescrito simultaneamente. No entanto, parar de tomar repentinamente a medicação definitivamente não é aconselhável, então os pacientes devem sempre falar com seus médicos.

O Estudo Vascular de Oxford seguiu 3.166 pacientes que haviam tido anteriormente um AVC ou ataque cardíaco e para os quais foram prescritos medicamentos antiplaquetários (principalmente aspirina). A metade dos pacientes tinha 75 anos ou mais no início do estudo. Ao longo de 10 anos do estudo, um total de 314 pacientes foram internados no hospital devido a hemorragias. O risco de sangramento, em particular o risco de sangramento fatal ou incapacitante, aumentou com a idade. Os resultados do estudo foram publicados na edição de 13 de junho da revista científica “The Lancet”.

Para pacientes com menos de 65 anos que tomaram aspirina diária, a taxa anual de sangramentos que requerem internação hospitalar foi de aproximadamente 1,5%. Para pacientes de 75 a 84 anos, a taxa anual aumentou para aproximadamente 3,5% e para 5% para pacientes com mais de 85 anos.

Também houve correlação com a idade: para pacientes com menos de 65 anos, a taxa anual de sangramentos fatais foi inferior a 0,5%. Para os pacientes de 75 a 84 anos, a taxa aumentou para aproximadamente 1,5%, e para quase 2,5% para pacientes com 85 anos ou mais.

O resultado de sangramentos não fatais também foi pior em idades mais elevadas. O risco de hemorragia incapacitante ou fatal em dez anos foi 10 vezes maior aos 75 anos ou mais, em comparação com pacientes mais jovens.

Embora o risco de ataques cardíacos e acidentes vasculares cerebrais também aumente com a idade, os autores concluem que, para pacientes com 75 anos ou mais, o sangramento gastrointestinal superior como resultado da terapia antiplaquetária foi pelo menos tão provável de ser incapacitante ou fatal como o acidente vascular cerebral isquêmico recorrente, se um inibidor da bomba de prótons (PPI, em inglês) não for prescrito simultaneamente.

Os PPIs podem reduzir o sangramento gastrointestinal em 70 a 90% em pacientes que recebem tratamento antiplaquetário de longo prazo. No entanto, a prescrição não é rotineira e apenas cerca de um terço dos pacientes no estudo estavam tomando estes medicamentos. Embora existam alguns riscos conhecidos associados ao uso prolongado dos PPIs, os autores concluem que os benefícios de sua prescrição em idades com mais de 75 anos superam os riscos, e as diretrizes deveriam recomendar a co-prescrição dos PPIs nesta faixa etária.

O Dr. Rothwell acrescenta: “Embora haja alguma evidência de que os PPIs possam ter alguns pequenos riscos a longo prazo, este estudo mostra que o risco de sangramento sem eles em pacientes com mais idade é alto e as consequências significativas. Portanto, qualquer incerteza sobre os pequenos riscos do uso de PPI é muito provavelmente superada pelos benefícios. Em outras palavras, esses novos dados devem garantir que os benefícios do uso de PPI em pacientes com mais de 75 anos superarão os riscos.

O estudo foi um estudo observacional, em vez de um estudo randomizado, o que significa que não é possível que este estudo demonstre que o aumento do risco é inteiramente causado pela aspirina. Os autores observam que a maioria dos pacientes no estudo estava tomando aspirina (75 mg) com apenas alguns pacientes tomando clopidogrel, o que significa que os achados podem não se aplicar a outros fármacos antiplaquetários. Além disso, os achados não levaram em consideração o impacto potencial de quaisquer efeitos adversos ligados ao uso de PPI em longo prazo.

O Dr. Hans-Christoph Diener, professor na Universidade Duisburg-Essen, na Alemanha, analisa os resultados dos pesquisadores de Oxford: “… a primeira consequência deste estudo é que a relação benefício-risco em terapia antiplaquetária de longo prazo deve ser reavaliada a cada 3 a 5 anos em pacientes com mais de 75 anos. A segunda consequência do estudo é o seu apoio à necessidade de usar PPIs em pacientes com terapia antiplaquetária com 75 anos de idade ou mais ou em pacientes com antecedentes de sangramento gastrointestinal. Os PPIs são subutilizados em pacientes com terapia antiplaquetária, talvez porque as consequências dos sangramentos gastrointestinais superiores sejam subestimados em pacientes idosos que foram tratados com aspirina “.

Acesse o  artigo científico completo (em inglês).

Tech4Health alerta: esta é apenas uma notícia de um estudo científico. O uso de medicamentos deve sempre respeitar a prescrição de um médico especialista.

Fonte: Universidade Oxford. Imagem: Divulgação.

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