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“Slow Medicine”: conceitos e princípios
Excesso de medicamentos pode causar doenças
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A prática médica atual tem se caracterizado pela falta de tempo: consultas rápidas, profissionais apressados, frequentemente médicos desconhecidos frente a pacientes anônimos, são circunstâncias em decorrência das quais não se estabelece conexão entre o profissional e o paciente. Esta é a situação habitual em atendimentos de urgência. Tal estado de coisas tem gerado grande insatisfação dos pacientes, dos médicos e dos demais profissionais de saúde.
O uso inapropriado da tecnologia, com valorização e solicitação excessiva de exames complementares desnecessários, assim como um aumento na indicação para procedimentos de alta complexidade tem sido cada vez mais frequente. Essa associação tem gerado um ônus financeiro exacerbado aos pacientes, seguros-saúde e hospitais deixando os pacientes expostos a riscos como exposição excessiva a radiação ionizante, intervenções desnecessárias, cirurgias mal indicadas e prescrição acentuada de medicamentos. O uso continuado e a interação entre os fármacos pode ocasionar inúmeros efeitos indesejados ao organismo humano, como doenças graves como: hepatites, alergias, queda da imunidade, gastrites, dermatites e tumores, entre outras.
A filosofia da “Slow Medicine” (medicina mais lenta) caminha na direção contrária: resgata o tempo como parte essencial da abordagem médica. O tempo para ouvir. A proposta começa pela escuta cuidadosa e respeitosa do paciente. Enfatiza o raciocínio clínico e o cuidado focado no paciente. É necessário um exame físico minucioso sobre os diversos aparelhos, para que, conjuntamente com os dados colhidos na história clínica, seja elaborada a hipótese diagnóstica e a partir daí seja programado um plano de tratamento.
O Professor Emérito da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), Dr. Dario Birolini destaca os princípios da Slow Medicine:
- Tempo: Tempo para ouvir, para entender, para refletir. Tempo para consultar e tomar decisões. A tomada de decisões melhora quando os médicos dedicam seu tempo e sua atenção ao paciente.
- Individualização: Cuidado particularizado, justo, apropriado. A individualidade em lugar da generalidade. O paciente deve ser o foco da atenção e seu ponto de vista e seus valores são fundamentais.
- Autonomia e Auto-Cuidado: Decisões compartilhadas. A chave da questão são os valores, expectativas e preferências do paciente. Nela estão envolvidos o ambiente de cuidados do paciente, sua família, vizinhos, amigos e outras fontes de suporte ou apoio.
- Conceito Positivo de Saúde: Neste conceito de saúde, que transcende o antigo conceito de saúde da OMS (“um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não somente ausência de afeções e enfermidades”) o foco é no auto cuidado eresiliência, com ênfase na saúde e não na doença, abordando os cuidados de saúde e a prevenção de doenças e a manutenção da qualidade e da acessibilidade dos cuidado.
- Prevenção: Alimentação saudável é a prescrição básica para uma vida saudável. Atividade física regular, pensamento positivo e flexibilidade mental são essenciais para manter nossos cérebros saudáveis.
- Qualidade de vida: Fazer mais nem sempre significa fazer melhor. Mais que quantidade deve-se investir na qualidade, na aceitação do inevitável. Deve-se sempre considerar a arte médica de não intervir – a sabedoria da observação clínica .
- Medicina Integrativa: O melhor de 2 mundos: medicina tradicional sempre que indicada .Medicina Complementar com exames se possível , preferencialmente baseada em evidências. Segurança em primeiro lugar, eficácia quando possível. Sem metáforas da luta ou guerra contra a doença. As palavras de ordem são recuperação, equilíbrio, harmonia.
- Segurança: Em primeiro lugar não causar o mal. Em dúvida, abstenha-se de intervir.
- Paixão e compaixão: Resgatar a paixão pelo cuidar e o sentimento da compaixão na atenção médica. Buscar incansavelmente a humanização dos cuidados à saúde .
- Uso parcimonioso da tecnologia: A tecnologia deve servir ao homem. As novas tecnologias devem cumprir seus objetivos de auxiliar a pessoa no autocuidado e auxiliar o médico a tomar as melhores decisões para seu paciente, que busquem primordialmente melhorar sua qualidade de vida.
Assista ao vídeo com a entrevista do Prof. Dr. Dario Birolini sobre a Slow Medicine, concedida ao Programa Diário Nacional:
Dario Birolini – 14/12/16 from Programa Diálogo Nacional on Vimeo.
Fonte: Portal SlowMedicine. Imagem: Shutterstock.
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