Notícia

Vírus e bactérias como promotores de saúde

Professora da Unicamp destaca importância da proteção do equilíbrio de nossa microbiota

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Fonte

Unicamp

Data

quarta-feira, 22 junho 2016 12:25

Áreas

Biologia. Microbiologia. Imunologia.

Milhares de bactérias e vírus vivem no nosso organismo e ao nosso redor. Apenas 1% deles tem caráter patogénico, são causadores de doenças. Os outros 99% são inócuos ou benéficos aos seres humanos e outros seres vivos. Na palestra “Vírus e bactérias: surpresas no nosso cotidiano”, a Profa. Dra. Maria Silvia Viccari Gatti, do Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas (IB-Unicamp), explicou como esses seres, tão temidos, tem papel fundamental em nossa saúde e para a própria evolução da espécie. O evento ocorreu no último dia 18 de junho, como parte da série Colóquios Unicamp Ano 50 – de professor para professor, que celebram o cinquentenário da Universidade.

Apesar do senso comum relacioná-los diretamente a doenças e a indústria oferecer cada vez mais produtos que prometem sua eliminação, vírus e bactérias são elementos essenciais para uma vida saudável. O conjunto de bactérias, vírus, fungos, ou melhor dizendo, microorganismos simbiontes, que temos em nosso corpo é chamando microbiota. “Cada ser tem a sua microbiota, com aproximadamente 600 espécies diferentes”, explica a professora Maria Gatti. “Nós temos bactérias em nossos olhos, por exemplo, que não causam doenças, que nos protegem de outras bactérias. Elas são responsáveis por nossa saúde.”

A professora destaca a importância de manter o equilíbrio dessa microbiota e aponta a utilização sistemática de desodorantes antitranspirantes, sabonetes íntimos e enxaguatórios bucais como potencialmente nociva a esse equilíbrio. “Você está dizendo para sua microbiota não crescer. Isso não é bom, você está desequilibrando o processo.”, explica a professora. Além da ação anti-séptica, os antitranspirantes barram um mecanismo fisiológico de controle da temperatura corpórea, a transpiração, afetando a composição da microbiota. “O uso de desodorantes antitranspirantes no Brasil é totalmente equivocado. Você precisa suar”, argumenta a professora, lembrando que em outros países esses produtos são utilizados como medicamentos.

O uso de antibióticos também é apontado pela professora como desregulador da microbiota humana. Segundo ela, o remédio não age apenas combatendo a infecção indesejada, ele destrói parte da microbiota do indivíduo, deixando seu organismo fragilizado. Assim, ficamos mais vulneráveis a outras doenças. “Uma bactéria exógena (de fora) pode entrar no seu organismo e causar uma doença. Ou mesmo uma bactéria endógena (de dentro). Pois, quando vc desequilibra, mesmo uma bactéria sua pode te causar doenças”, ressalta.

Outro fator que pode prejudicar o equilíbrio da microbiota são os hábitos alimentares. Segundo a professora, comer pouca fibra e alimentos muito processados pode favorecer a multiplicação de uma bactéria ou um conjunto de bactérias, em detrimento de outras. Esse desequilíbrio, além de deixar o sujeito mais suscetível a infecções, pode levar ao aparecimento de enfermidades como diabetes e obesidade. Essas enfermidades estão associadas a baixa diversidade bacteriana, característica em indivíduos com dieta pobre em fibras. ”As bactérias se alimentam das fibras, assim podem estar presentes para ajudar a gente a degradar outros alimentos. A gente tem que comer fibras”, enfatiza a Dra. Maria Gatti. Segundo ela, estudos apontam ainda para relação entre o desequilíbrio da microbiota e o desenvolvimento de outras doenças como depressão, esquizofrenia e ansiedade.

Aleitamento materno, alergias e intolerância a lactose

A professora chama atenção para importância do aleitamento materno no estabelecimento da microbiota dos indivíduos. Segundo ela, o aleitamento é responsável pela introdução sistemática de bactérias que permitem a formação equilibrada da microbiota e o desenvolvimento adequado do sistema imune. O estimulo inadequado do sistema imune produzido pela utilização de fórmulas, por sua vez, pode levar ao aparecimento de alergias. “Várias alergias são decorrentes do não aleitamento materno”, conta a pesquisadora Maria Gatti.

Já o consumo de leite e derivados na idade adulta foi destacado por  Maria Silvia Viccari Gatti como impróprio. Ela explica que as bactérias presentes na microbiota da criança que permitem a degradação eficiente do leite, não estão presentes da mesma maneira nos adultos. “Depois de uma certa fase da vida a gente vai ter de 9 a 10 enzimas para quebrar os alimentos para que possamos aproveitá-los. Algumas pessoas tem bactérias para quebrar a lactose, outras não tem”, explica a professora, destacando que esses são casos chamados de intolerância a lactose.

A medida certa entre limpeza e sujeira

De acordo com a professora, o asseio é fundamental na prevenção de doenças, mas deve ser feito sem exagero. “É importantíssimo lavar as mãos com água e sabão todas as vezes que chegamos em casa. Quando você lava as mãos retira bactérias e sujidades”, explica a professora. Ela ressalta que o álcool gel 70%, apesar de eficiente para eliminar bactérias e vírus que tem envelope (como é o caso da gripe), não substitui a água e sabão. “O álcool não retira as sujidades”, pontua.

Co-evolução
A presença de bactérias e vírus nos seres humanos é tão profunda quanto seu genoma. “Há cerca de 19 genes virais no nosso genoma, genes que recebemos dos vírus. E temos genes de bactérias também. É uma forma de transmissão que nós chamamos de ‘transmissão horizontal’”, ensina Gatti. A professora assinalou uma teoria segundo a qual nossa capacidade cognitiva derivaria de um gene recebido de um vírus. Segundo essa teoria, “nós falamos porque fomos infectados por um vírus que co-evoluiu com a gente”, observou a pesquisadora do IB.

Fonte: Gabriela Villen, Unicamp. Imagem: Shutterstock.

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