Notícia
H1N1: mitos e verdades
Pesquisador do Instituto de Física de São Carlos da USP alerta que pânico é desnecessário
Divulgação
“H1N1 já provocou 153 mortes no Brasil este ano”, “Rio registra 14 mortes decorrentes de H1N1”, “ES confirma 2ª morte por H1N1”, “Bebê é internado com H1N1 em Belo Horizonte”. Essas são algumas das manchetes estampadas nos principais veículos de comunicação do Brasil neste ano, e muitas outras, de teor tão assustador como essas, foram publicadas em inúmeras mídias locais, regionais e nacionais do país. Isso justifica o pânico e o rebuliço causado na população por causa do vírus H1N1 nos últimos meses. Mas todo esse alarde é realmente necessário?
O vírus H1N1 é um “parente muito próximo” do vírus H3N2, causador da gripe comum, sendo que ambos são derivados da mesma subtipagem de proteínas. Mas, já que são “parentes muito próximos”, porque é que o H1N1 ganhou tanto destaque? “Esse é um vírus novo que, até 2009, infectava somente animais. Por algum motivo, que até hoje é desconhecido, o H1N1 começou a infectar seres humanos, provavelmente por ter sofrido alguma mutação”, explica o Prof. Dr. Ricardo De Marco, docente e pesquisador do Grupo de Biofísica do Instituto de Física de São Carlos (BIO-IFSC/USP).
Ou seja, a preocupação mundial em torno do H1N1, que teve início há quase sete anos, e que tomou grandes proporções no Brasil, especialmente em 2016, pode ser explicada pelo simples desconhecimento sobre o vírus. “Em 2009, ninguém conhecia esse vírus, ninguém sabia o que ele fazia, como agia, se era mais perigoso do que as cepas já circulantes. Na época, a própria OMS se esforçou bastante para conter essa pandemia, isolando as pessoas contaminadas”, relembra o professor Ricardo.
A contenção do H1N1, no entanto, é tão complicada quanto a do H3N2, algo que sabemos muito bem na prática. Diferente do vírus Ebola, por exemplo, que é transmitido de maneira mais “complexa” (é necessário um contato muito mais próximo com o infectado para que o Ebola contamine outro organismo), a gripe comum ou a causada pelo H1N1 prolifera de maneira muito mais rápida e fácil.
Alvoroço desnecessário?
Ganhando grande notoriedade especialmente pelas trágicas notícias postadas cotidianamente nas mídias e por alguns depoimentos equivocados, o H1N1 acabou adquirindo um status que não condiz com sua verdadeira periculosidade. “O principal objetivo de um jornal é, justamente, vender notícias, e aquelas que carregam títulos chamativos vendem muito mais. O número de acessos aos portais dos veículos de comunicação certamente aumenta consideravelmente quando uma notícia carrega a palavra ‘morte’ em seu título. As pessoas leem os jornais para entender o que realmente está acontecendo, e a população, de fato, tem o direito de se informar, mas o erro está no foco que esses veículos têm dado às notícias relacionadas ao H1N1. Tudo isso gera uma bola de neve, que resulta nesse pânico desnecessário”, afirma o docente.
Alguns números podem perfeitamente exemplificar o que foi dito acima: até o dia 16 de abril deste ano, foram registrados 230 óbitos no Brasil causados pela gripe H1N1, sendo que o pico de mortes no país pela H1N1 foi de 284 óbitos, no ano de 2009. Nos Estados Unidos foram registradas 50 mortes pediátricas causadas pelo vírus na temporada de inverno compreendida entre final de 2015 e inicio de 2016, temporada na qual o virus H1N1 foi predominante naquele pais, sendo que o número máximo de óbitos infantis registrados foi 171, na temporada de inverno entre os anos de 2012 e 2013, ano no qual a gripe comum foi predominante.
Vacinar ou não?
Passados quase sete anos após o surgimento do primeiro caso de um ser humano infectado pela influenza H1N1, ou Gripe Suína, como também ficou conhecida, o que se sabe até o momento ainda é quase o mesmo que se sabia em 2009: quase nada.
Em princípio, tem-se conhecimento de que ela é tão maléfica quanto uma gripe comum, e que, de fato, pode levar à morte, mas somente em casos extremos. “Os óbitos causados por H1N1 tem muito mais a ver com o organismo de cada pessoa. Em alguns casos, o organismo pode gerar uma resposta inadequada, principalmente em casos nos quais a pessoa já se encontra muito debilitada por outras razões”, explica o Dr. Ricardo.
É por isso que as vacinações, em geral, são prioritárias para idosos e crianças: os primeiros geralmente já se encontram com o organismo debilitado, e os segundos com o organismo muito sensível. “Muitas crianças ainda não foram expostas a qualquer tipo de gripe e, portanto, o organismo delas ainda não está imune a muitas doenças, inclusive a vírus da gripe, comum ou não”, exemplifica o docente.
Na opinião do pesquisador, a vacinação não é algo ruim, já que é um instrumento a mais de contenção de enfermidades. “Em termos sociais, a vacina é interessante, pois ela é preventiva, e evita a proliferação de doenças. Em termos econômicos, também, pois, com menos pessoas infectadas, menos se compromete a produção do país. Além disso, o preço de um remédio ou uma internação é muito maior do que o custo de uma dose de vacina”.
No entanto, ele alerta que algumas pesquisas já mostram que a vacina contra o H1N1 tem eficiência limitada, impedindo a infecção em apenas 60% das pessoas vacinadas, e seu efeito é de curta duração, protegendo apenas contra certos tipos de vírus. Ou seja, nada impede que um vírus que sofra uma mutação, algo comum de se ocorrer, contamine pessoas que já tenham sido vacinadas. Ainda de acordo com o professor Ricardo, há, no momento, muitos pesquisadores estudando o vírus da gripe e tentando criar vacinas permanentes contra ele. “Mas isso não é algo trivial de se fazer e pode ainda levar muito tempo”.
Diante do que foi descrito, ainda fica difícil enxergar-se uma saída imediata para o H1N1. Para aqueles contaminados pela doença, continua valendo a mesmo conselho para os que contraem gripes comuns: repouso e o máximo de isolamento.
Fonte: Assessoria de Comunicação, IFSC/USP. Imagem: Divulgação.
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