Notícia
Síndrome dos Ovários Policísticos, obesidade e microbioma intestinal
Estudo sugere que a modificação de bactérias intestinais pode ser opção de tratamento para sintomas associados à SOP
Pixabay
Fonte
Universidade Estadual de San Diego, EUA
Data
quinta-feira, 17 março 2016 20:03
Áreas
Ginecologia. Biologia. Gastroenterologia. Endocrinologia.
Modificar as bactérias do intestino poderia ser uma opção de tratamento para alguns dos sintomas associados com a Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP), de acordo com um estudo recente realizado por pesquisadores da Universidade Estadual de San Diego (SDST), nos Estados Unidos, em colaboração com pesquisadores da Universidade da Califórnia em San Diego. O estudo, realizado em camundongos com SOP induzida, constatou que mudanças em bactérias do intestino estão fortemente associadas com a obesidade e sinais de diabetes.
A SOP é normalmente diagnosticada em mulheres que têm níveis aumentados de testosterona, irregularidade menstrual e cistos nos ovários. Além de uma elevada incidência de infertilidade, as mulheres com SOP têm um risco aumentado de desenvolver diabetes tipo 2 e doença cardíaca.
Os cientistas sabem há muito tempo que as bactérias do intestino ajudam na digestão de alimentos, sintetizam importantes vitaminas e estimulam o sistema imunológico. Durante a última década, os cientistas também descobriram que as pessoas com obesidade ou diabetes têm diferentes bactérias em seus intestinos em relação às pessoas saudáveis.
“O que você vê quando você olha para a obesidade”, explicou o Dr. Scott Kelley, do Departamento de Biologia da SDST, “são grandes mudanças em grupos específicos de micro-organismos que estão envolvidas na quebra de fibra alimentar e regulação do metabolismo. Nós quisemos saber se as mulheres com SOP também têm os mesmos tipos de mudanças em suas bactérias intestinais“.
Aumento da testosterona
Para responder a esta pergunta em um experimento controlado, o Dr. Scott Kelley e sua colaboradora da Divisão de Endocrinologia Reprodutiva da Universidade da Califórnia em San Diego, Dra. Varykina Thackray, resolveram utilizar camundongos fêmeas com SOP, induzida pela administração da droga letrozol. Esta droga, que é usado para tratar certos tipos de câncer de mama, bloqueia a conversão de testosterona em estrogênio e provoca uma condição conhecida como hiperandrogenismo. Cerca de 80% das mulheres com SOP têm hiperandrogenismo.
“Quando você trata camundongos fêmeas com letrozol, você tem sintomas semelhantes ao que você vê em mulheres com SOP”, disse o Dr. Kelley.
Metade dos camundongos do estudo receberam o letrozol e a outra metade recebeu placebo. Ambos os grupos de camundongos comeram a mesma dieta. Depois de cinco semanas, o grupo que recebeu letrozol ganhou significativamente mais peso e os camundongos estavam substancialmente mais gordos do que o grupo controle. Eles também tinham níveis de glicose no sangue elevados, o que está associado com a resistência à insulina.
Para procurar por mudanças nas bactérias do intestino, os pesquisadores também coletaram restos fecais de cada rato e analisaram o DNA bacteriano neles. Ao comparar o DNA fecal com o DNA microbiano conhecido, Dr. Kelley foi capaz de determinar quais bactérias intestinais estavam presentes em cada camundongo
Os pesquisadores descobriram que o número de diferentes espécies bacterianas nos ratos tratados com letrozol era muito menor do que no grupo de controle. Os resultados foram publicados em janeiro na revista PLoS ONE.
Diversidade diminuiu
“No começo, as coisas começaram da mesma forma nos grupos letrozol e controle”, disse o Dr. Kelley. “Mas rapidamente, as comunidades de bactérias do intestino como um todo divergiram. Na verdade, os camundongos que receberam letrozol permaneceram na mesma condição ao longo do estudo. A diversidade das bactérias intestinais não aumentou com o tempo, enquanto que os camundongos do grupo controle adquiriam bactérias cada vez mais diversificadas ao longo do tempo “.
Os pesquisadores também identificaram um aumento em certos tipos de bactérias associadas aos camundongos obesos, bem como na obesidade humana, sugerindo que as alterações nas bactérias do intestino pode contribuir para a disfunção metabólica associada com a SOP, acrescentou o pesquisador.
Não está claro, porém, se estas mudanças nas bactérias do intestino após o tratamento com letrozol foram causadas pela droga ou se foram resultado do ganho de peso. O Dr. Kelley e seus colaboradores estão atualmente investigando esta questão e os resultados iniciais parecem indicar que os micróbios em si podem ser responsáveis pela obesidade. Se for esse o caso, ele sugere que, alterando as comunidades microbianas no intestino através de um tratamento probiótico ou por outros meios, os investigadores podem ser capazes de ajudar a controlar os distúrbios metabólicos associados com a SOP.
“A parte boa deste estudo é que podemos aumentar a nossa compreensão não só da saúde das mulheres, mas também da nossa biologia em geral e como podemos controlar o microbioma intestinal”, finaliza o Dr. Kelley.
Acesse o artigo científico completo (em inglês).
Fonte: Michel Price, Universidade Estadual de San Diego (SDSU), EUA. Tradução: Tech4Health. Imagem: Pixabay.
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