Notícia

Controle de peso em adultos

Liraglutida é aprovada pela Anvisa como tratamento auxiliar para o controle do peso em adultos

Shutterstock

Fonte

Anvisa, Instituto Mineiro de Endocrinologia e International Journal of Obesity

Data

domingo, 6 março 2016 15:38

Áreas

Endocrinologia. Metabologia. Obesidade. Indústria Farmacêutica.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou o registro do medicamento Saxenda (liraglutida) para controle crônico de peso, em associação a uma dieta baixa em calorias e aumento de exercício físico. O registro foi publicado no Diário Oficial da União no último dia 29 de fevereiro.

A indicação de uso da formulação é para adultos com Índice de Massa Corporal (IMC) de:

  • 30kg/m² ou maior (obeso) ou;
  • 27kg/m² ou maior (sobrepeso) na presença de pelo menos uma comorbidade relacionada ao peso, como disglicemia (pré-diabetes e diabetes mellitus tipo 2), hipertensão arterial, dislipidemia ou apneia obstrutiva do sono.

A liraglutida é um agonista do receptor do peptídeo semelhante ao glucagon 1 humano acilado (GLP-1). O GLP-1 é um regulador fisiológico do apetite e da ingestão de calorias e o seu receptor (GLP-1R) está presente em várias regiões do cérebro envolvidas com a regulação do apetite.

A Agência esclarece que a segurança do produto continuará sendo monitorada com estudos pós-comercialização, que estão em andamento.

Estudos publicados na literatura e a ação da liraglutida 

Segundo o Boletim 225 da Anvisa, de 2011, a liraglutida era na época um fármaco bastante novo, conhecido no mercado como Victoza®, que foi aprovado pelo FDA nos Estados Unidos em janeiro de 2010 para tratar diabetes mellitus tipo 2 em adultos. No Brasil, o fármaco teve registro e aprovação na Agência Nacional de Vigilância Sanitária em março de 2010 para a seguinte indicação: “adjuvante da dieta e atividade física para atingir o controle glicêmico em pacientes adultos com diabetes mellitus tipo 2, para administração uma vez ao dia como monoterapia ou como tratamento combinado com um ou mais antidiabéticos orais (metformina, sulfoniluréias ou uma tiazollidinediona), quando o tratamento anterior não proporciona um controle glicêmico adequado.” No entanto, erroneamente, a liraglutida já vinha sendo utilizada como emagrecedor em não portadores do diabetes tipo 2, já que apresenta como um efeito colateral uma perda de peso significativa. Esse efeito colateral resulta de uma combinação de esvaziamento gástrico retardado e efeitos centrais para induzir a anorexia.

Um estudo europeu multicêntrico com duração de dois anos e publicado em agosto de 2011 no International Journal of Obesity avaliou a segurança e eficácia da liraglutida em pacientes obesos sem diabetes. Os resultados mostraram que a medicação, quando associada a dieta e exercícios, foi bem tolerada e promoveu uma perda de peso clinicamente significativa e que se manteve no período avaliado mesmo após a parada da medicação. Notou-se ainda, após os dois anos, uma redução dos fatores de risco para doenças cardiovasculares e metabólicas (por exemplo, diabetes e dislipidemias)

Segundo o Dr. Geraldo Santana, médico endocrinologista do Instituto Mineiro de Endocrinologia, “a liraglutida é um análogo do GLP-1, ou seja, imita a ação deste hormônio.  O GLP-1 é um hormônio produzido normalmente em nosso organismo pela porção final do intestino delgado e sua secreção é estimulada pela chegada do alimento nesta região. Após ser secretado, o GLP-1 promove o aumento da saciedade e consequentemente redução da ingestão de alimentos por dois mecanismos: uma ação sobre o centro da saciedade no cérebro e por causar um retardo no esvaziamento do estômago. Se houver uma hiperglicemia, como ocorre em pacientes diabéticos, também estimula o pâncreas a secretar insulina. É exatamente por esta ação “inteligente” de apenas aumentar a secreção de insulina se a glicemia estiver elevada que seu uso vem sendo estudado e aplicado em pacientes obesos sem diabetes”.

O Dr. Geraldo destaca que “por não possuir uma ação direta na química cerebral, pois apenas imita a ação de um hormônio que já é secretado pelo nosso organismo, apresenta menos efeitos colaterais quando comparado com os medicamentos anti-obesidade clássicos que atuam diretamente sobre o cérebro. Tanto nos estudos como no acompanhamento de pacientes tratados, os efeitos colaterais mais observados foram náuseas, diarreia e dor de cabeça geralmente transitórias e que, na maioria dos casos, cessaram com o decorrer do tempo. Por esta razão, tem sido frequente a recomendação de se começar com uma dose menor na primeira semana para facilitar a adaptação”.

Como diferenciais, o médico destaca que “a aplicação diária da liraglutida proporciona efeitos mais prolongados que o próprio GLP-1, o que melhora a sua ação estimuladora da saciedade mesmo antes do alimento chegar ao final do intestino. Seu perfil de ação permite que a liraglutida tenha uma perspectiva de uso, por exemplo, em pacientes com doenças cardiovasculares ou psiquiátricas que, dependendo da intensidade e nível de controle, podem estar contraindicados ao uso dos usuais moderadores de apetite disponíveis”.

“O medicamento é injetável e aplicação é feita pelo próprio paciente,uma vez ao dia, no subcutâneo. A medicação já vem em uma caneta aplicadora equipada com uma agulha muito fina o que torna a aplicação praticamente indolor. Embora novas medicações sejam geralmente percebidas pela população como produtos milagrosos, deve se ressaltar que nenhum medicamento anti-obesidade atinge seu objetivo se não houver três elementos fundamentais: motivação, compromisso e disposição para mudança do estilo de vida”, conclui o Dr. Geraldo.

Mais recentemente, também no International Journal of Obesity (2013), pesquisadores da Universidade de Maastricht, na Holanda e da indústria farmacêutica NovoNordisk, publicaram um estudo sobre as ações da liraglutida em duas diferentes doses (1,8 e 3,0 mg) sobre o esvaziamento gástrico, parâmetros glicêmicos, apetite e metabolismo energético em 49 pacientes obesos e não-diabéticos.

Saxenda® e Victosa® são marcas proprietárias da NovoNordisk.

Fonte: Anvisa, Instituto Mineiro de Endocrinologia e International Journal of Obesity.  Imagem: Shutterstock.

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