Notícia

Pesquisa indica que açaí combate efeitos de convulsões

Estudo testou ação anticonvulsivante do açaí em camundongos

Alexandre Moraes, UFPA

Fonte

UFPA

Data

segunda-feira, 9 novembro 2015 19:50

Áreas

Neurociências. Bioquímica.

O número de estudos envolvendo as propriedades do açaí aumenta a cada ano. No meio acadêmico, seu potencial como um eficiente antioxidante já é conhecido. A novidade está no seu significativo efeito protetor contra  as  convulsões. As convulsões são caracterizadas por contrações musculares involuntárias e/ou por alterações dos sentidos – ambos os fatos decorrentes de uma excitação exacerbada do cérebro. As crises convulsivas podem ser provocadas por diferentes situações (traumatismo craniano, temperatura corporal elevada, hiperglicemia etc.), mas quando essas crises continuam acontecendo de forma recorrente e espontânea, a pessoa torna-se epiléptica.

O estudo denominado “Propriedades anticonvulsivantes da Euterpe Oleracea (açaí) em camundongos” foi realizado por um grupo de pesquisadores de vários laboratórios da Universidade Federal do Pará (UFPA), em parceria com a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). A pesquisa também contou com o apoio das empresas Petruz Fruity e Amazon Dreams. O açaí usado no estudo foi preparado de acordo com uma patente de propriedade da Amazon Dreams, empresa incubada pela UFPA.

A pesquisa teve início com a linha de pesquisa sobre convulsões induzidas por pentilenotetrazol (PTZ), substância química usada para induzir convulsões em animais para que os pesquisadores possam estudar o efeito de fármacos anticonvulsivantes. Um grande número de evidências já sugeria que as crises convulsivas estavam relacionadas com uma situação de desequilíbrio denominada estresse oxidativo.

“Nós tínhamos, de um lado, uma substância capaz de provocar o estresse oxidativo e, do outro, uma fruta com potente atividade antioxidante. Com isso, surgiu a pergunta: Será que o açaí teria um efeito anticonvulsivante através da prevenção do estresse oxidativo? A partir disso, nós começamos os experimentos para verificar essa hipótese”, revela o pesquisador  Rogério Monteiro.

Pesquisadores utilizaram o açaí como adjuvante

O modelo utilizado na pesquisa foi de crises convulsivas induzidas pelo agente químico pentilenotetrazol. A equipe ainda não realizou os testes no modelo de epilepsia, em que os animais apresentam crises convulsivas espontâneas. Porém o modelo adotado foi útil por ser a primeira etapa para a triagem de novos fármacos anticonvulsivantes.

Segundo a Profa. Dra. Maria Elena Crespo, a diferença entre convulsão e epilepsia é que, na epilepsia, “a pessoa sofre convulsões sem uma origem clara para isso e elas são recorrentes e espontâneas. A epilepsia é uma doença crônica e, muitas vezes, refratária aos fármacos atualmente disponíveis, afetando cerca de 1% da população mundial. Sendo assim, nem toda crise convulsiva significa que o paciente é epilético”.

Nesse sentido, a pesquisa estudou a aplicabilidade clínica do açaí entendendo o uso da fruta como adjuvante. Ao contrário dos fármacos anticonvulsivos que possuem efeitos secundários, os estudos realizados até hoje sugerem que o açaí não apresentaria efeitos adversos evidentes. “Estudos científicos comprovam que o açaí não é tóxico nas quantidades testadas, semelhantes àquelas do consumo humano. É crescente a busca por produtos naturais que possam ser incorporados como adjuvantes frente a algum tipo de doença”, afirma a pesquisadora do estudo, Gabriela Arrifano.

O açaí utilizado para realizar o experimento foi o açaí clarificado por um tratamento patenteado pela empresa Amazon Dreams. Ele foi escolhido por apresentar baixo teor de sólidos e gorduras e por ser concentrado em compostos fenólicos, necessários para a execução do efeito antioxidante. Porém o sabor, a cor e o aroma desse tipo de açaí são os mesmos da polpa tradicional vendida nos estabelecimentos comerciais.

Posteriormente, a equipe começou a fazer os testes nos animais. Foram utilizados 68 camundongos, separados entre quatro grupos experimentais: um grupo controle, que recebeu solução salina; um grupo que ingeriu somente açaí; um grupo administrado apenas com a droga pentilenotetrazol (PTZ) e outro grupo que recebeu tanto o açaí quanto a substância química.

Processo envolveu eletrocorticograma em camundongos

Os camundongos receberam açaí por via oral durante quatro dias e antes da droga ser aplicada. Primeiramente, foram avaliadas as características comportamentais. “Os animais que receberam açaí antes do PTZ demoraram mais até apresentar a primeira crise e as crises foram mais curtas. Com isso, observamos que o açaí reduziu a duração das crises e o tempo de início da primeira crise”, afirma Rogério Monteiro.

A etapa seguinte analisou o processo bioquímico de estresse oxidativo no cérebro dos animais. Esse parâmetro avaliou o aumento da peroxidação lipídica, que consiste na identificação dos danos provocados pelo estresse oxidativo, ou seja, a equipe quantificou a taxa de peroxidação lipídica para saber se, ao induzir as convulsões nos camundongos por meio do PTZ, o estresse oxidativo estava causando danos na membrana das células.

O resultado desse teste mostrou que as consequências do estresse oxidativo foram menores no cérebro dos animais que ingeriram açaí e receberam a droga PTZ. “O grupo controle e o grupo que tomou apenas o açaí tinham níveis normais de peroxidação lipídica. No grupo que usava somente o PTZ, o nível de peroxidação lipídica era maior, indicando o dano causado ao tecido. Porém, quando os animais tinham consumido o açaí antes de receber o PTZ, percebemos que o dano nas membranas das células (e por isso, no tecido cerebral) foi significativamente menor, ou seja, mesmo que alguém tivesse  convulsão, as consequências seriam menores do que em alguém que não tomou açaí”, explica Gabriela Arrifano.

Além da avaliação comportamental e bioquímica, a equipe também realizou um eletrocorticograma no cérebro dos animais. De forma semelhante àquela, quando se realiza um EEG (electroencefalograma) nos humanos, esse exame avalia as correntes elétricas que passam por uma parte superficial do cérebro. Na epilepsia, usa-se esse exame no diagnóstico das convulsões, pois elas provocam graves alterações do registro.

Resultados comprovam potência antioxidante da fruta

Na pesquisa realizada, esse registro demonstrou que o tratamento com açaí foi capaz de reduzir significativamente as alterações elétricas provocadas pelas convulsões. A pesquisa sugeriu que o alto poder antioxidante do açaí poderia ser um dos principais responsáveis pelos efeitos protetores demonstrados contra as convulsões. Assim, para apoiar essa hipótese, o poder antioxidante do açaí clarificado foi “desafiado” em um ensaio químico com componentes reativos. Com isso, no final do processo, ficou comprovada a potência antioxidante da fruta.

Para o pesquisador Rogério Monteiro, “este trabalho é de grande contribuição para a sociedade. A epilepsia é uma doença comum no mundo e, por meio desse estudo, as pessoas serão beneficiadas com o uso do açaí como adjuvante barato e de fácil acesso. Ter na Amazônia uma substância como essa representa um impacto enorme para a sociedade”.

Nesse sentido, cabe também destacar a importância acadêmica do estudo. “Todo esse processo de pesquisa foi realizado integralmente pelos laboratórios da UFPA. Além disso, a pesquisa foi publicada em uma revista internacional reconhecida na nossa área, ou seja, somos capazes de fazer pesquisa de qualidade internacional e, ao mesmo tempo, formar alunos de alta capacidade intelectual”, enfatiza a professora Maria Elena Crespo.

Fonte: Marcus Passos, UFPA. Imagem: Alexandre Moraes, UFPA.

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