Notícia

Pesquisadores identificam composto benéfico para a saúde em soro de leite

Peptídeo do soro de leite tem potencial para minimizar os efeitos adversos da hipertensão

Thomas May, Embrapa

Fonte

Embrapa

Data

terça-feira, 1 setembro 2015 19:00

Áreas

Biotecnologia.

Ao analisar pequenas partes de proteína (peptídeos) do soro de leite, pesquisadores da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) identificaram um componente com potencial de minimizar os efeitos adversos da hipertensão, uma doença que atinge mais de um bilhão de pessoas no mundo. Testes in vitro indicaram vasodilatação nas artérias das cobaias entre 80% a 100%. O soro de leite é um subproduto agroindustrial resultado da fabricação de queijos e derivados.

“Esse resultado é um indício bastante promissor da capacidade anti-hipertensiva de peptídeos do soro de leite, com efeito bastante similar àquele obtido com medicamentos”, afirma o Prof. Dr. José Eduardo da Silva Santos, do Laboratório de Farmacologia Cardiovascular da UFSC, responsável pela realização das análises de atividade biológica. Ele explica que o diferencial dessa pesquisa é o processo tecnológico de preparo e fracionamento do soro de leite desenvolvido na Embrapa, que gerou um ingrediente de alto valor agregado a produtos e pode vir a ser utilizado como auxiliar no controle da hipertensão. Seu estudo analisou o efeito em aorta de cobaias, e agora deve avançar para análises in vivo, inclusive com humanos. “A ideia é conhecer melhor os mecanismos da atividade anti-hipertensiva para validar o modelo em doentes com um grau de segurança no uso de substância”, revela.

Para alcançar esse índice de relaxamento das artérias, os pesquisadores testaram mais de dez amostras até chegar a uma composição ideal. “Na pesquisa realizada validamos 25 peptídeos, dentre os quais cinco com características similares, ainda não mencionados na literatura. Tais descobertas proporcionam um aumento no interesse industrial, que poderá incorporar o soro ou frações dele a diversos produtos alimentícios ou nutracêuticos”, conta Luísa Rosa, mestranda do Programa de Ciências de Alimentos da UFRJ, que realizou o trabalho sob a orientação das pesquisadoras da Embrapa Agroindústria de Alimentos Dra. Lourdes Cabral e Dra. Caroline Mellinger. Atualmente, Mellinger é líder de dois projetos de pesquisa que buscam desenvolver um ingrediente biologicamente ativo do soro de leite, financiados pela Embrapa e pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj).

Na pesquisa realizada, o soro de leite foi concentrado por ultrafiltração e as proteínas do soro de leite foram parcialmente hidrolisadas, quebradas em moléculas menores conhecidas como peptídeos. Após a passagem dessas pequenas partículas de proteína pelo processo de fracionamento por membranas para separação dos peptídeos, foi realizada uma simulação do processo digestivo para que se avaliem as alterações químicas e biológicas do trato gastrointestinal humano. Estes peptídeos gerados e fracionados foram então secados por atomização, para a obtenção de um produto em pó, o qual já pode ser considerado um novo ingrediente a ser incorporado pela indústria alimentícia, nutracêutica ou farmacêutica.

“Cientificamente, o soro de leite vem sendo amplamente estudado, especialmente, as possíveis propriedades funcionais de suas proteínas parcialmente hidrolisadas (peptídeos), e suas ações sobre o sistema cardiovascular, nervoso e imunológico,” conta a Dra. Mellinger, que trabalhou em conjunto na caracterização dos peptídeos com os pesquisadores Dr. Carlos Bloch Junior e Dr. Luciano Paulino, da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia. “Com essa pesquisa, conseguimos identificar um conjunto de peptídeos anti-hipertensivos, que nos impulsiona a continuar realizando mais testes de comprovação da eficácia do produto”, informa a pesquisadora.

Novos produtos alimentícios funcionais 

A par das comprovações dos benefícios do novo ingrediente para a saúde e de seu potencial de utilização na indústria alimentícia, ainda resta à equipe de pesquisadores um desafio tecnológico: retirar o amargor resultante dos peptídeos liberados na hidrólise do soro de leite.

Para avaliar a aceitação do consumidor desse ingrediente em formulações alimentícias, as pesquisadoras realizaram uma análise sensorial do produto em pó adicionado a uma sobremesa láctea comercial sabor chocolate branco. O teste foi realizado no Laboratório de Análise Sensorial e Instrumental da Embrapa Agroindústria de Alimentos, sob a orientação da pesquisadora Dra. Rosires Deliza.

Impacto ambiental

A cadeia produtiva do leite no Brasil cresceu mais de 30% na última década, alcançando a produção de 34 bilhões de litros de leite em 2013, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O crescimento do setor é de aproximadamente 5% ao ano. A maior parte desse volume é canalizada para a produção de mais de 600 mil toneladas de diversos tipos de queijo por ano.

O volume de soro gerado com a produção de queijo depende do tipo do laticínio. Em média, cada quilo de queijo gera oito litros de soro, o que significa uma produção anual de mais de quatro bilhões de litros deste subproduto no Brasil. Anualmente, estima-se que metade desse montante é descartado no meio ambiente, o que representa mais de dois bilhões de litros. “Este dado é alarmante, não só pelas perdas comerciais e de geração de renda ao setor produtivo, mas também pela forma de descarte inadvertido, como efluentes não tratados, gerando alta taxa de contaminação orgânica na água e resultando em um grande problema ambiental”, lamenta a Dra. Caroline Mellinger.

O soro de leite como suplemento alimentar é legislado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) no Brasil. É um subproduto da cadeia de laticínios, rico em água, lactose, sais minerais e proteínas. De alto valor nutricional, vem sendo comercializado em líquido ou em pó e apresenta grande aceitação pelos consumidores, especialmente pelos praticantes de esportes em academias, conhecido como whey protein. É utilizado principalmente na fabricação de bebidas lácteas, iogurtes, queijos, formulações infantis e bebidas para atletas, podendo conter teores de proteínas de 8% a 98%, dependendo do produto.

Leia a matéria completa no Portal da Embrapa.

Fonte: Aline Bastos, Embrapa. Imagem: Thomas May.

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