Notícia

Proteína inovadora pode fazer a redução de tumores

Pesquisa em parceria entre Instituto Butantan, IPT e indústria farmacêutica identifica proteína recombinante que reduz tumores em animais

Divulgação, IPT

Fonte

IPT

Data

sábado, 27 junho 2015 20:00

Áreas

Biotecnologia. Bionanomanufatura.

Um grupo de pesquisadores do Instituto Butantan com tradição em pesquisas de hematófagos (animais que se alimentam de sangue), e interessados em encontrar novas entidades com ação no sistema hemostático, estudaram a saliva e a glândula salivar do carrapato estrela (Amblyomma cajennense) sob a coordenação da pesquisadora Dra. Ana Marisa Chudzinski-Tavassi.

O intuito era saber quais moléculas estavam envolvidas no impedimento da coagulação do sangue do hospedeiro, durante o processo de alimentação dos carrapatos, e com isso conhecer novas moléculas com potencial para serem desenvolvidas como agentes anticoagulantes ou anti-hemostáticos. A equipe descobriu nestes estudos componentes com atividade inibitória do fator X ativado da coagulação sanguínea. A inibição deste fator de coagulação é chave no processo de anticoagulação, visto que a geração da proteína trombina é regulada por ele.

Devido à escassez de amostras para trabalhar por conta do tamanho diminuto do carrapato, decidiu-se por avaliar os genes que compõem a glândula salivar do animal, com a ajuda de uma análise transcriptômica. Os pesquisadores chegaram a cerca de dois mil transcritos, e destes elegeram um gene que seria responsável pela tradução de proteínas pertencentes à família de inibidores de serino proteases do tipo Kunitz, cujos diversos membros estão citados na literatura como inibidores do fator X ativado.

Selecionado o gene, os pesquisadores obtiveram uma proteína na forma recombinante, utilizando bactérias, a qual foi purificada e avaliada no sistema de coagulação, demonstrando o funcionamento como anticoagulante. “Como a ideia era desenvolver um anticoagulante, nada mais lógico a avaliação em culturas de células que compõem os vasos sanguíneos, para saber se o tratamento com a proteína expressa poderia induzir a alguma modificação ou alguma toxicidade. Fizemos os testes preconizados e não vimos nenhum efeito, pelo menos macroscópico, nas células normais” explica a Dra. Ana Marisa.

O próximo passo foi avaliar a atuação da proteína em células tumorais. Para surpresa dos pesquisadores, em todas as culturas trabalhadas de diferentes tipos de tumores, a proteína causou morte das células. “Encontramos então uma molécula que inibia a coagulação, mas também matava seletivamente células tumorais”, acrescenta ela.

Pesquisa aplicada

Uma nova fase de pesquisa aplicada teve início utilizando conceitos de qualidade e seguindo as normas de agências regulatórias que preconizam a rastreabilidade e a reprodutibilidade, possíveis de serem implantadas no projeto, visto a nova estrutura idealizada pela coordenadora do projeto e implantada no Instituto Butantan, denominada Plataforma de Desenvolvimento e Inovação, instalada para trabalhar utilizando boas práticas de laboratório.

Os pesquisadores estudaram mais a fundo nessa plataforma os mecanismos de ação da molécula e também realizaram testes de eficácia, verificando que o tratamento com a proteína induzia a diminuição de tumores como melanomas, de pâncreas e renal. Decidiu-se pela otimização das construções gênicas e a avaliação dos melhores clones produtores e por um processo de expressão que fosse escalonável, já pensando na produção em grandes quantidades.

“Chegamos então ao momento da realização dos testes de segurança, os testes pré-clínicos, e para tanto uma grande quantidade de proteína era necessária. Em uma tentativa de se ganhar tempo, contratou-se uma empresa de biotecnologia americana para produzir os lotes, adaptando-se à tecnologia desenvolvida até então pelo grupo de pesquisadores”, explica Ana Marisa. “O material produzido foi suficiente para a realização de testes de segurança em roedores. Sabíamos que necessitaríamos de grandes quantidades da molécula para testes em animais de maior porte, e então buscamos parceria com o Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT) para esta etapa, pois sabíamos que o Instituto possuía bioreatores para vários volumes e equipe competente que poderia realizar os estudos de escalonamento”.

Pesquisadores do Núcleo de Bionanomanufatura do IPT foram contatados e alguns cultivos em bioreatores foram realizadas com sucesso. Com um financiamento (BNDES Funtec) de R$ 15 milhões, foi criada uma dinâmica para o projeto: o IPT faria o bioprocesso  e escalonamento, e o Instituto Butantan toda a etapa de purificação e testes.

A Dra. Maria Filomena de Andrade Rodrigues, pesquisadora do IPT, afirma que o trabalho realizado no instituto consiste em dar condições para o crescimento da bactéria no meio de cultivo apropriado e identificar a melhor condição, buscando alta produtividade, baixo custo e alto rendimento. “Estamos testando diferentes condições de operação do processo para obtermos uma alta densidade celular e, a partir dela, isolar altas concentrações da proteína”, afirma a pesquisadora.

Testes em Humanos

Todo o processo de pesquisa realizado até aqui serve de base para desenhar o ensaio clínico, isto é, testes em humanos. Esta parte do processo é de responsabilidade da indústria farmacêutica, no caso a União Química, que compartilha do projeto desde o início e é detentora da licença da patente. Após a realização de testes com animais, o desejo de Ana Marisa é a indicação de estudos de fase dois em seres humanos.

“Pelos resultados vistos em animais saudáveis, verificamos que o nível de toxicidade da molécula é muito baixo. Como temos resultados animadores de regressão de tumores de difícil tratamento, como é o caso do pâncreas, gostaríamos de avançar rapidamente nos ensaios clínicos”, afirma ela. No entanto, para a continuidade do desenvolvimento, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) precisará analisar todo o trabalho feito até aqui pelos pesquisadores e também o desenho dos testes clínicos que serão propostos pela União Química.

A proteína analisada pelos pesquisadores do Instituto Butantan é estudada exclusivamente no Brasil, e Ana Marisa ressalta que não é correto afirmar que o estudo é sobre a ‘proteína da saliva do carrapato’: “O carrapato foi um importante meio para podermos chegar à proteína recombinante”. É importante deixar ainda claro, ressalta ela, que não é possível afirmar que foi descoberta a cura para o câncer: “É correto dizer que, em camundongos, foi analisada a regressão dos tumores que chega até a sua eliminação, mas se trata ainda de uma etapa em animais”.

Fonte: IPT. Imagem: Divulgação, IPT.

Em suas publicações, o Portal Tech4Health da Rede T4H tem o único objetivo de divulgação científica, tecnológica ou de informações comerciais para disseminar conhecimento. Nenhuma publicação do Portal Tech4Health tem o objetivo de aconselhamento, diagnóstico, tratamento médico ou de substituição de qualquer profissional da área da saúde. Consulte sempre um profissional de saúde qualificado para a devida orientação, medicação ou tratamento, que seja compatível com suas necessidades específicas.

Os comentários constituem um espaço importante para a livre manifestação dos usuários, desde que cadastrados no Portal Tech4Health e que respeitem os Termos e Condições de Uso. Portanto, cada comentário é de responsabilidade exclusiva do usuário que o assina, não representando a opinião do Portal Tech4Health, que pode retirar, sem prévio aviso, comentários postados que não estejam de acordo com estas regras.

Leia também

2025 tech4health t4h | Notícias, Conteúdos e Rede Profissional em Saúde e Tecnologias

Entre em Contato

Enviando
ou

Fazer login com suas credenciais

ou    

Esqueceu sua senha?

ou

Create Account