Notícia
Laboratório produz fibra muscular in vitro
Modelo de cultura de células permite redução de número de animais utilizados em experiências científicas

Divulgação, Unicamp
Fonte
Unicamp
Data
segunda-feira, 20 abril 2015 06:50
Áreas
Bioquímica. Biotecnologia. Farmacologia.
O Laboratório de Biotecnologia (Biotec) da Faculdade de Ciências Aplicadas da Universidade Estadual de Campinas (FCA-Unicamp), inaugurado em dezembro de 2012, estabeleceu recentemente um modelo de cultura de células in vitro que permite redução expressiva do número de animais utilizados em alguns projetos científicos. O estudo foi coordenado pelo Prof. Dr. Augusto Luchessi, responsável pelo Biotec, e contou com a participação das alunas Karina Pereira, Letícia Tamborlin, Isadora Almeida, Letícia Meneguello e do pós-doutorando André Proença.
Mioblastos (células que dão origem às fibras musculares) foram cultivados e passaram por um processo de diferenciação originando miotubos, ou seja, células que mimetizam fibras musculares. Esse processo normalmente acontece no corpo do ser vivo durante a regeneração do tecido muscular, mas foi reproduzido pelo laboratório em modelo in vitro. Este trabalho foi realizado a partir de uma linhagem permanente de mioblastos, preparadas a partir de uma amostra de músculo animal e conservadas em nitrogênio liquido. Após a diferenciação em miotubos, as células podem ser utilizadas nos estágios iniciais de certas pesquisas científicas, reduzindo a utilização de animais.
O professor Augusto Luchessi explica que as células cultivadas in vitro não são idênticas as de um músculo real, mas que seu comportamento bioquímico assemelha-se à fibra muscular de maneira a justificar sua utilização em alguns estudos. “Dependendo do experimento, é possível substituir o uso de animais por este tipo de célula. É uma maneira de controlar ou diminuir o uso de animais em experimentos“, pondera.
Certas pesquisas na área de diabetes, como as que o laboratório pretende realizar, avaliam o efeito da insulina no músculo esquelético – com o modelo in vitro é possível analisar a ação do hormônio ou qualquer outro composto de interesse exclusivamente nestas células musculares, sem a interferência de outras células, tecidos ou órgãos do organismo. “Assim elimina-se o risco de um erro de interpretação dos resultados, pois quando o experimento é realizado no organismo teremos que lidar com a possibilidade do resultado observado ser derivado de uma ação indireta do composto, ou seja, como consequência da ação em outra parte do corpo e não no músculo”, explica o professor Luchessi. Entretanto, outros estudos visam exatamente entender a ação global de determinados compostos no organismo, inviabilizando os ensaios exclusivamente in vitro.
Redução no número de animais em pesquisas
Imagine a seguinte situação: um pesquisador precisa avaliar um conjunto de vinte compostos para rastrear quais deles estimulam a síntese proteica muscular em ratos, com o objetivo de aplicação futura da técnica em atletas ou alguém que esteja sofrendo de caquexia (perda severa de massa muscular devido a um processo tumoral) ou sarcopenia (perda de massa muscular associada ao processo de envelhecimento).
Considerando que cada um dos vinte compostos seriam avaliados com cinco concentrações diferentes, seriam cem testes. Então é preciso considerar o tempo do tratamento: vamos supor que o pesquisador precise analisar cinco tempos diferentes – seriam utilizados, portanto, quinhentos animais. Como o experimento é realizado normalmente três vezes com o objetivo de confirmar os resultados, o número final seria três vezes maior.
“Aí está a importância do modelo estabelecido no laboratório: todo este estágio de rastreamento pode ser feito in vitro. Vamos supor que o pesquisador descubra que somente dois compostos (do total de vinte), realmente estimulam a síntese proteica. Agora sim, é preciso passar para o modelo in vivo, mas teríamos um número bem inferior de animais, totalizando cento e cinquenta. É uma diminuição bastante considerável”, pondera o professor Luchessi.
Ele afirma também que os cientistas, de maneira geral, estão sempre buscando maneiras de diminuir ao máximo o uso de animais em pesquisas. “Desconheço alguém que não se aflija com o uso de animais em pesquisas, mas ainda é impossível substituí-los totalmente por métodos alternativos. Todos sofrem – pesquisadores, professores e alunos. Mas a ciência ainda depende do uso de animais em experimentos para se desenvolver”.
Parcerias internas e externas
O Laboratório de Biotecnologia da FCA está aberto para parcerias científicas com outros laboratórios da própria faculdade ou de outras universidades, assim como com a indústria farmacêutica ou de suplementos, normalmente interessadas em avaliar parâmetros bioquímicos relacionados com a eficácia de diferentes compostos no tecido muscular. Além do desenvolvimento de novos compostos ou formulações, o professor Luchessi afirma que o laboratório tem interesse, por exemplo, de prestar serviços de controle de qualidade, avaliando a eficácia de fármacos ou suplementos no modelo in vitro estabelecido em seu laboratório. Por fim, o professor menciona urgência para o estabelecimento de uma parceria com um pesquisador que atue na área de Síntese Orgânica para que seja providenciado a síntese de uma molécula não disponível comercialmente e de interesse para suas pesquisas.
Fonte: Comunicação, FCA Unicamp
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