Notícia

Molécula reduz degeneração cardíaca após o infarto

Droga desenvolvida por pesquisadores do ICB-USP e da Universidade Stanford reduz a perda da função cardíaca

Divulgação

Fonte

Agência Fapesp

Data

quinta-feira, 2 abril 2015 09:35

Áreas

Novos Fármacos.

O tratamento de ratos infartados com uma droga experimental chamada alda-1 reduziu quase pela metade a perda da função cardíaca em experimentos realizados na Universidade de São Paulo (USP). Os resultados foram divulgados na revista científica International Journal of Cardiology.

Desenvolvida por pesquisadores da Universidade Stanford, nos Estados Unidos, e do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB-USP), a molécula sintética é capaz de ativar uma enzima conhecida como ALDH2 (aldeído desidrogenase-2), existente na mitocôndria e essencial para o bom funcionamento de todas as células, inclusive as cardíacas.

Os primeiros ensaios clínicos para atestar a segurança do composto estão sendo realizados nos Estados Unidos, com apoio privado.

“A enzima ALDH2 é essencial para a metabolização dos aldeídos – moléculas extremamente reativas produzidas pelo nosso corpo que, em excesso, prejudicam a produção de energia na célula (ATP) e causam liberação ainda maior de substâncias reativas, como os radicais livres e os próprios aldeídos”, explicou o Prof. Dr. Julio Cesar Batista Ferreira, do Departamento de Anatomia do ICB-USP e coordenador da pesquisa apoiada pela FAPESP.

Em um estudo anterior com ratos portadores de insuficiência cardíaca, o grupo havia mostrado que o tratamento com alda-1 aumentava a capacidade do coração de bombear sangue (leia mais em: http://agencia.fapesp.br/19343).

Neste novo trabalho, também realizado durante o mestrado de Kátia Maria Sampaio Gomes, a terapia foi administrada no dia seguinte ao infarto e reduziu significativamente os danos progressivos às células que levam ao desenvolvimento de insuficiência cardíaca.

“Antes de tratar os animais, porém, tentamos entender o que acontece com o metabolismo de aldeídos no coração após o infarto. Queríamos observar se a atividade da enzima ALDH2 está alterada, se isso afeta o acúmulo de aldeídos e se, de fato, tem influência na progressão da doença”, explicou o pesquisador.

Depois dos testes, “Foi possível notar uma correlação inversa: quanto maior era o nível de aldeídos no sangue, menor era a função cardíaca, o que sugere que a enzima ALDH2 não estava funcionando adequadamente, embora sua expressão não tenha sido reduzida”, comentou Ferreira.

Esses achados foram validados em humanos. Pacientes que sofreram infarto agudo do miocárdio apresentaram em exames realizados na USP níveis mais elevados de aldeídos no sangue do que indivíduos saudáveis.

Em biópsias cardíacas de portadores de cardiomiopatias isquêmica, chagásica e idiopática, os pesquisadores observaram redução da atividade da ALDH2 e acúmulo de aldeídos. Os dados dos estudos com humanos ainda não foram publicados.

Na avaliação do pesquisador, o conjunto de testes sugere que a dosagem de aldeídos no sangue pode ser usada pelos médicos como um marcador da progressão da doença, auxiliando no diagnóstico da insuficiência cardíaca.

Tratamento protetor

Enquanto em um grupo de ratos em que foi induzido o infarto foi observada a queda sucessiva da função cardíaca, em outro grupo o tratamento com a molécula experimental alda-1 foi iniciado no dia seguinte ao procedimento para indução do infarto. Quatro semanas depois, a função cardíaca havia caído de 75% para 62%. O nível de aldeídos, tanto no sangue quanto no tecido cardíaco, estava equivalente ao do grupo controle, ou seja, foi encontrada uma quantidade igual à de um coração saudável.

“A droga não evitou em 100% a perda da função cardíaca, pois durante o infarto morre uma quantidade considerável de células e o tratamento começou apenas no dia seguinte. Ainda assim, no término do experimento, a capacidade de bombear sangue do grupo tratado estava duas vezes melhor que a do grupo não tratado, mostrando que há uma proteção”, comentou o professor Ferreira.

A alda-1 foi descoberta ainda durante o pós-doutorado de Ferreira, realizado em Stanford com apoio da FAPESP.

Sob a coordenação de Daria Mochly-Rosen, professora do Departamento de Biologia Química e de Sistemas de Stanford, o grupo da universidade norte-americana criou a startup Aldea Pharmaceuticals para tentar transformar a alda-1 em um produto comercial.

Os ensaios clínicos de fase 1, feito com voluntários saudáveis apenas para avaliação de toxicidade, tiveram início nos Estados Unidos no fim de 2014.

 

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Células cardíacas vistas em microscópio. O pontos azuis representam os núcleos e os verdes, as mitocôndrias (divulgação).

Foco ampliado

Atualmente, o grupo de Ferreira realiza estudos pré-clínicos em parceria com a Aldea Pharmaceuticals na tentativa de estender a aplicação da alda-1 para outras doenças degenerativas de origem isquêmica, como a doença arterial periférica.

O grupo busca parceiros brasileiros interessados no uso clínico da alda-1. Esses estudos estão sendo realizados no âmbito do Programa Supernova, uma iniciativa do ICB-USP em parceria com Stanford que visa a profissionalizar o processo de aceleração de projetos acadêmicos inovadores.

Leia mais detalhes no Portal da Agência Fapesp.

Fonte: Karina Toledo, Agência Fapesp

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