Notícia

Estudo revela alta taxa de esplenectomias em crianças brasileiras e aponta desafios no manejo de lesões esplênicas

51,8% das crianças internadas em hospitais públicos brasileiros devido a lesões no baço acabam submetidas à esplenectomia

stefamerpik via Freepik

Fonte

Medicina UFMG | Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais

Data

segunda-feira, 26 agosto 2024 17:10

Áreas

Cirurgia. Gestão da Saúde. Imunologia. Medicina. Saúde da Criança.

O baço, localizado ao lado esquerdo do abdômen, desempenha um papel crucial na produção e regulação de anticorpos, além de ser responsável pelo armazenamento e filtragem do sangue e possuir função vital no sistema imunológico.

Lesões no baço podem ocorrer  devido a impactos no lado esquerdo do abdômen, seja durante a prática de atividade física, em acidente de trânsito ou devido a doenças. Em casos graves, pode ser necessária a remoção do órgão, procedimento conhecido como esplenectomia. Durante essa cirurgia, o baço é retirado e suas conexões com outros órgãos são cortadas.

Uma pesquisa inédita realizada no Brasil trouxe à tona dados alarmantes sobre o tratamento de lesões esplênicas em crianças no país. O trabalho, coorientado pelo Dr. Fábio Botelho, cirurgião pediátrico do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (HC-UFMG), revelou que 51,8% das crianças internadas em hospitais públicos brasileiros devido a lesões no baço acabam sendo submetidas à esplenectomia. Este índice é significativamente superior ao observado em países de alta renda, como Estados Unidos e Canadá, onde apenas cerca de 5% das crianças com trauma esplênico necessitam de cirurgia.

Diferenças entre serviços pediátricos e adultos

Um dos achados mais relevantes da pesquisa é a disparidade no tratamento das lesões esplênicas entre serviços cirúrgicos pediátricos e adultos. “Em crianças com trauma do baço, admitidas em serviços cirúrgicos destinados a adultos, notamos que há 14,77 vezes mais chances de serem submetidas à esplenectomia em comparação com aquelas admitidas em serviços pediátricos, onde o tratamento conservador é preferido”, afirmou Matheus Faleiro, aluno do sexto período do curso de Medicina na Faculdade de Medicina da UFMG.

O tratamento conservador, que evita a cirurgia, tem sido considerado a abordagem ideal para lesões esplênicas em crianças hemodinamicamente estáveis, conforme evidências científicas recentes. No entanto, a pesquisa mostrou que essa prática não é amplamente adotada no Brasil, o que levanta questões sobre as condições do sistema de saúde no país.

Fatores contribuintes

O estudo identificou diversos fatores que explicam a alta taxa de esplenectomias no Brasil:

Ausência de equipes cirúrgicas pediátricas dedicadas: em muitas regiões, especialmente nas mais pobres, não há equipes dedicadas de cirurgiões pediátricos. “Os hospitais dependem de cirurgiões pediátricos de plantão, que frequentemente têm vários empregos e precisam se dividir entre diferentes hospitais, o que compromete o manejo não cirúrgico, que exige acompanhamento constante”, explicou o pesquisador.

Desigualdade na distribuição de cirurgiões pediátricos: a pesquisa também destacou a distribuição desigual desses profissionais entre as regiões brasileiras. Nas áreas com menor número de cirurgiões pediátricos, a taxa de esplenectomias é maior.

Acesso insuficiente a serviços especializados: mesmo em grandes cidades com um número adequado de cirurgiões pediátricos, o acesso a serviços especializados ainda é limitado, o que contribui para a dependência da cirurgia.

Falta de exames de imagem diagnóstica: em algumas regiões, a ausência de exames como ultrassom e tomografia computadorizada dificulta o diagnóstico preciso e leva à maior dependência da cirurgia como método diagnóstico e terapêutico.

Ausência de diretrizes padronizadas: outro ponto levantado pelo estudo é a falta de diretrizes brasileiras padronizadas para o manejo do trauma esplênico em crianças, o que pode estar contribuindo para o excesso de cirurgias.

Cuidados e prevenções para indivíduos Esplênicos

Apesar do baço não ser um órgão vital, a retirada desse órgão exige que o paciente adote cuidados especiais ao longo da vida, devido à sua função crucial no sistema imunológico.  Sem o baço, a capacidade do corpo de combater infecções diminui, e outros órgãos, especialmente o fígado, assume parte da função de produzir anticorpos para proteger o organismo.

Para minimizar os riscos à saúde, é fundamental que pessoas que passaram por uma esplenectomia mantenham as vacinas em dia, com especial atenção às vacinas específicas que protegem contra infecções graves causadas por bactérias. Além disso, é necessário um acompanhamento médico regular para monitorar a saúde e ajustar qualquer tratamento preventivo necessário.

Indivíduos esplenectomizados devem ser particularmente cuidadosos com ferimentos e acidentes. Cortes, mordidas de animais e outras lesões devem ser tratados com atenção imediata, incluindo desinfecção e, em alguns casos, uso de antibióticos para prevenir infecções.

O estudo foi publicado na revista científica The Lancet Regional Health Americas.

Acesse o artigo científico completo (em inglês).

Acesse a notícia completa na página da Faculdade de Medicina da UFMG.

Fonte: UFMG. Imagem: stefamerpik via Freepik.

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