Notícia
Laboratório da UFSM é o único do país a fazer bioterapia, tratamento que evita amputações e cicatriza lesões
Projeto ‘Alimentando Esperança’ está vinculado ao Laboratório de Parasitologia Veterinária da UFSM
Ana Alícia Flores, Agência de Notícias da UFSM
Fonte
UFSM | Universidade Federal de Santa Maria
Data
terça-feira, 16 maio 2023 20:05
Áreas
Biologia. Bioterapia. Medicina. Medicina Veterinária. Parasitologia.
A bioterapia é o uso de animais vivos para auxiliar no diagnóstico ou tratamento de doenças. Uma das bioterapias que ganhou força ultimamente foi a terapia larval (ou Maggot therapy, em inglês), seja para pacientes animais, seja para pacientes humanos. No Brasil, a enfermeira Julianny Barreto Ferraz é a pioneira na prática em humanos, tendo desenvolvido o tratamento no Hospital Universitário Onofre Lopes (HUOL-UFRN), onde atualmente é presidente da comissão de curativos, em Natal, Rio Grande do Norte.
A prática da bioterapia larval consiste em aplicar larvas de mosca na primeira fase (L1) em feridas e lesões das mais diferentes causas, como fogo ou acidente de carro. Aplicadas, elas comem apenas o tecido necrosado e ainda, com sua saliva, estimulam o crescimento de tecido novo, isto é, a cicatrização. Com a prática, tanto animais quanto seres humanos que estavam condenados à amputação ou presos a tratamentos em decorrência de lesões têm uma nova esperança. Palavra esta que se repete no projeto ‘Alimentando Esperança’, vinculado ao Laboratório de Parasitologia Veterinária (LAPAVET) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), cujo objetivo é fornecer larvas para profissionais de saúde aplicarem em pacientes interessados e necessitados.
Alimentando a esperança
Salvar vidas e difundir a prática da bioterapia é o sonho da Dra. Silvia Gonzalez Monteiro, coordenadora do laboratório. A Dra. Silvia é médica veterinária e professora de Parasitologia Veterinária do Centro de Ciências da Saúde (CCS) na UFSM. Em 2017, a pesquisadora começou mais uma vez uma colônia de moscas e encontrou interesse de alunos em ajudar. O professor Dr. Daniel Roulim Stainki, que, assim como a Dra. Silvia, é professor do Departamento de Microbiologia e Parasitologia, auxilia com a avaliação dos casos.
Apesar da pandemia, os estudos não cessaram e, atualmente, o laboratório é o único no país a desenvolver a bioterapia. Solicitando ao laboratório com 48 horas de antecedência e por R$ 25,00, um profissional de saúde recebe a embalagem com as larvas mantidas em gaze, com a quantidade calculada em relação ao tamanho da ferida (são de 5 a 10 larvas por centímetro quadrado lesionado, personalizado para cada paciente), prontas para a aplicação. Depois de aplicadas, as larvas precisam ser retiradas do paciente sempre após 48 horas, quando elas já estão saciadas, e na fase de L3, uma antes da fase de pupa. Assim, a depender da complexidade da lesão, outras aplicações, com novas larvas, são realizadas, repetindo o processo até a cicatrização. Por enquanto, animais do Hospital Veterinário Universitário de Santa Maria (HVU), de clínicas privadas ou de profissionais independentes, são os únicos pacientes.
O processo do laboratório
Tanto para humanos quanto para animais, o processo é o mesmo. Primeiramente, captura-se moscas fêmeas e férteis. Depois, faz-se a taxonomia delas, isto é, a identificação morfológica, para verificar se são da família certa, a que come tecido em decomposição. São usados ovos esterilizados de moscas varejeiras, a família Calliphoridae, com as espécies Sarconesia chlorogaster e Lucilia cuprina. Com uma porção de fígado de bovino fresco, incentiva-se a mosca a fazer postura, ou seja, a pôr os ovos. Depois, estes ovos são removidos e levados ao laboratório para a esterilização contra microrganismos, que é confirmada quando eles são postos em meio de cultura Mueller Hinton (meio de cultura microbiológico). Nesse processo, a superfície do ovo é analisada. Se, neste meio, não ocorreu crescimento de microrganismos, o ovo é considerado estéril e as larvas eclodidas podem ser preparadas para envio, quando o profissional de saúde recebe e aplica. “Aqui no laboratório, sempre uma parcela desses ovos são usados para renovação da colônia”, relatou a professora Silvia.
A colônia é onde as moscas convivem e amadurecem. Distribuídas em prateleiras, sob uma temperatura de 25ºC e uma umidade do ar em 70%, cada colônia é mantida em canos PVC, revestidos por sacolas plásticas de polipropileno. Lá, os insetos são alimentados com ração comercial pastosa para cães, mel e água à vontade. Uma parte das larvas é mantida na colônia para renovação da mesma. Depois das três fases de larva, ela vira pupa em areia e, dessa fase, nascem machos ou fêmeas adultos, recomeçando o ciclo.
O inseto que é enviado para tratamento das lesões é a fase larval esterilizada da mosca (L1), quase invisível a olho nu. Conforme se alimenta, vira L2 e depois L3 (larva 3). Quando chegar nesse estágio, que já é bem visível, ela vai deixar o alimento (lesão), pois não precisa mais. Neste momento, ela se encaminha para a superfície do ferimento, cuja abertura não deve estar sufocada e extremamente fechada, visto que a larva precisa respirar por ser um animal aeróbico. Neste momento é feita a sua remoção.
O que intriga a professora é como elas são resistentes, visto que conseguem viver em ambientes repletos de bactérias e fungos, como o lixo hospitalar. “Se ela resiste, é porque tem substâncias que a protegem. Estamos usando isso a nosso favor”, concluiu a pesquisadora.
Acesse a notícia completa na página da Universidade Federal de Santa Maria.
Fonte: Gabrielle Pillon e Ricardo Bonfanti, Agência de Notícias da UFSM. Imagem: a professora Silvia (ao centro), com Carine Comarella, técnica em laboratório (à esquerda) e Talissa Santos, aluna de Veterinária (à direita). Fonte: Ana Alícia Flores, Agência de Notícias da UFSM.
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