Notícia

Dormir e acordar uma hora antes pode reduzir o risco de depressão

Pesquisadores avaliaram dados genéticos não identificados de até 850.000 indivíduos

jack atkinson via Unsplash

Fonte

Universidade do Colorado em Boulder

Data

segunda-feira, 31 maio 2021 07:30

Áreas

Medicina. Psiquiatria.

Dormir e acordar uma hora antes [do horário habitual] pode reduzir o risco de depressão grave em 23%, sugere um novo estudo genético abrangente publicado na revista científica JAMA Psychiatry.

O estudo, realizado por pesquisadores da Universidade do Colorado em Boulder e do Broad Institute do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e da Universidade Harvard, nos Estados Unidos, analisou os dados de 840.000 pessoas e apresentou algumas das evidências mais fortes de que o cronotipo – a propensão de uma pessoa para dormir em um determinado horário – influencia o risco de depressão. Também está entre os primeiros estudos a quantificar o quanto, ou pouca, mudança é necessária para influenciar a saúde mental.

Em um cenário atual onde, devido à pandemia, as pessoas acabam trabalhando e frequentando a escola remotamente – uma tendência que levou muitos a dormir mais tarde – as descobertas têm implicações importantes.

“Já sabemos há algum tempo que existe uma relação entre o tempo de sono e o humor, mas uma pergunta que ouvimos com frequência dos médicos é: quanto precisamos sugerir que as pessoas durmam ou quando acordem para ver um benefício?” disse a Dra. Celine Vetter, autora sênior do estudo e professora de Fisiologia Integrativa na Universidade do Colorado em Boulder. “Descobrimos que dormir apenas uma hora mais cedo já diminui o risco de depressão.”

Estudos observacionais anteriores mostraram que os notívagos têm duas vezes mais probabilidade de sofrer de depressão do que os madrugadores, independentemente de quanto tempo dormem. Mas, como os próprios transtornos de humor podem perturbar os padrões de sono, os pesquisadores têm dificuldade em decifrar o que causa o quê.

Outros estudos tiveram amostras pequenas, confiaram em questionários de um único instante no tempo ou não levaram em consideração fatores ambientais que podem influenciar tanto o horário de sono quanto o humor, potencialmente confundindo os resultados.

Em 2018, a Dra. Celine Vetter publicou um grande estudo de longo prazo com 32.000 enfermeiras mostrando que os “madrugadores” eram até 27% menos propensos a desenvolver depressão ao longo de quatro anos, mas isso levantou a questão: o que significa ser um madrugador?

Como os genes influenciam quando você acorda

Para ter uma noção mais clara da proteção associada ao tempo do sono e quanta mudança seria necessária, o autor principal Iyas Daghlas recorreu aos dados da empresa de testes de DNA 23 and Me e do banco de dados biomédico UK Biobank. Iyas Daghlas então usou um método chamado “randomização Mendeliana” que alavanca associações genéticas para ajudar a decifrar causa e efeito. “Nossa genética é definida desde o nascimento, então alguns dos vieses que afetam outros tipos de pesquisa epidemiológica tendem a não afetar os estudos genéticos”, disse Iyas Daghlas, que se formou na Escola Médica de Harvard recentemente.

Mais de 340 variantes genéticas comuns, incluindo variantes no chamado “gene do relógio” PER2, são conhecidas por influenciar o cronotipo de uma pessoa, e a genética explica coletivamente 12-42% de nossa preferência de horário de sono.

Os pesquisadores avaliaram dados genéticos não identificados nessas variantes de até 850.000 indivíduos, incluindo dados de 85.000 que usaram rastreadores de sono vestíveis por 7 dias e 250.000 que preencheram questionários de preferência de sono. Isso deu aos pesquisadores uma percepção de como as variantes nos genes influenciam quando dormimos e acordamos.

Na maior dessas amostras, cerca de um terço dos indivíduos pesquisados ​​se identificaram como matinais, 9% eram notívagos e o restante ficava no meio termo. No geral, o ponto médio do sono foi de 3 horas da manhã, o que significa que eles se deitavam às 23 horas e se levantavam às 6 da manhã.

Com essas informações em mãos, os pesquisadores se voltaram para uma amostra diferente, que incluía informações genéticas junto com registros médicos anônimos e de receitas médicas e pesquisas sobre diagnósticos de transtorno depressivo maior. Usando novas técnicas estatísticas, eles questionaram: aqueles com variantes genéticas que os predispõem a acordar cedo também têm menor risco de depressão? A resposta é certamente sim.

Cada ponto médio do sono (horário médio entre a hora de dormir e a hora de acordar) uma hora antes correspondeu a um risco 23% menor de transtorno depressivo maior. Dito de outra forma, se alguém que normalmente vai para a cama à 1 hora da manhã e acorda às 08h00 (ponto médio do sono às 04h30), em vez disso, for para a cama à meia-noite e acordar às 07h00 (ponto médio do sono às 03h30), poderia reduzir o risco de depressão em 23%; se a pessoa for dormir às 23h00, e dormir pelo mesmo tempo (ou seja, acordar às 06h00), poderia reduzir o risco de depressão em cerca de 40%.

Não está claro a partir do estudo se aqueles que já são madrugadores poderiam se beneficiar de acordar ainda mais cedo. Mas para aqueles que estão na faixa intermediária ou noturna, antecipar o horário de dormir em uma hora provavelmente seria útil. Algumas pesquisas sugerem que obter maior exposição à luz durante o dia, o que costuma ocorrer com os madrugadores, resulta em uma cascata de impactos hormonais que podem influenciar o humor.

Iyas Daghlas enfatizou que um grande ensaio clínico randomizado é necessário para determinar definitivamente se ir para a cama cedo pode reduzir a depressão. “Mas este estudo definitivamente muda o peso das evidências para apoiar um efeito causal do tempo de sono na depressão”, concluiu.

Acesse o resumo do artigo científico (em inglês).

Acesse a notícia completa na página da Universidade do Colorado em Boulder (em inglês).

Fonte: Lisa Marshall, Universidade do Colorado em Boulder. Imagem: jack atkinson via Unsplash.

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