Notícia

Pesquisa confirma eficácia de droga trombolítica para AVC

Estudo multicêntrico internacional, com a participação de pesquisadores brasileiros, aponta dose para segurança no tratamento

Pixabay

Fonte

HC FMRP-USP

Data

domingo, 3 julho 2016 12:40

Áreas

Neurologia. Cardiologia. Hematologia. Saúde Pública.

Para avaliar a segurança do tratamento agudo do Acidente Vascular Cerebral (AVC) com drogas trombolíticas (medicamentos para dissolver coágulos), pesquisadores da Austrália, China, Nova Zelândia e Brasil se uniram em pesquisa multicêntrica e confirmaram a eficácia no tratamento do AVC do trombolítico de rtPA (ou Alteplase). O tratamento, mesmo com efeito cientificamente comprovado, era colocado em cheque pelo risco de sangramento no cérebro.

No Brasil, o estudo foi coordenado pelos professores Dr. Octávio Pontes-Neto, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP) e Dra. Sheila Cristina Ouriques Martins, coordenadora do Programa de AVC do Hospital de Clínicas de Porto Alegre e Chefe do Serviço de Neurologia e Neurocirurgia do Hospital Moinhos de Vento.

Além de confirmar a eficácia do medicamento no tratamento do AVC, os pesquisadores mostraram que uma dose mais baixa do medicamento (0,6 mg/kg de massa corpórea), ante 0,9 mg/kg que é a dose padrão, leva à redução de aproximadamente um terço dos casos de complicações hemorrágicas. E, após 90 dias de tratamento com dosagem menor da medicação, observaram ainda redução da morte de pacientes.

“Esse benefício adicional em segurança com a dose reduzida só foi ofuscado por um pequeno aumento dos casos que permanecem com sequelas residuais do AVC em 3 meses“.  Os pesquisadores relatam que para cada mil pacientes tratados com a dose reduzida, 41 apresentaram mais sequelas residuais do AVC (ajuda para se vestir ou andar) em comparação com a dose padrão. Porém, 19 pessoas a menos morreram com esta dose reduzida. “Por este motivo, a dose convencional, 0,9 mg/kg, deve continuar sendo a mais utilizada na rotina“, avaliam.

Mesmo com os problemas enfrentados com a dose reduzida, os pesquisadores acreditam que essa pode ser uma forma ainda mais segura de tratar os pacientes com AVC.  “Um dos achados secundários do estudo foi que o risco de sangramento parece ser maior em pacientes que já estavam usando remédios antiplaquetários como a aspirina. Nestes casos, o uso da dose reduzida seria uma opção mais segura e com eficácia semelhante em relação a dose convencional”, relata o Dr. Octávio Pontes-Neto.

Para os pesquisadores, estes resultados podem ampliar a segurança e favorecer a administração do tratamento trombolítico para AVC no País. “Atualmente menos de 2% dos pacientes com AVC isquêmico são tratados com trombolíticos no Brasil, e o acesso a este tratamento precisa ser ampliado. Com os resultados do estudo multicêntrico, a dose convencional ainda deve continuar sendo a padrão, porém agora temos a opção de oferecer este tratamento com ainda mais segurança em pacientes que apresentam alto risco de sangramento“, afirma o Dr. Octávio.

O professor lembra que, com a utilização de menor dose do medicamento para parte dos pacientes, o custo do tratamento diminui, “facilitando a utilização em maior escala no Sistema Único de Saúde (SUS), assim como em países onde o tratamento ainda é muito caro.”

Os coordenadores brasileiros também são pesquisadores da Rede Nacional de Pesquisa em AVC, e o estudo teve financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e do Ministério da Saúde e foi conduzido totalmente independente da indústria farmacêutica.

A coordenação mundial do estudo foi do Prof. Dr. Craig Anderson, do George Institute da Austrália.  Os resultados acabam de ser publicados em uma das principais revistas científicas na área médica no mundo, o New England Journal of Medicine.

Acesse o resumo do artigo científico (em inglês).

 

Doença incapacitante e de emergência médica

O AVC é uma das principais causas de morte no Brasil e a principal causa de incapacidade funcional no mundo. Estima-se que mais de 400 mil pessoas sofram AVC no Brasil a cada ano e, destes, mais de 100 mil venham a falecer pela doença.

Na maioria das vezes, o AVC é causado pelo entupimento de uma artéria que leva sangue ao cérebro e, como o cérebro não consegue ficar muito tempo sem suprimento sanguíneo, o AVC é uma emergência médica. E o tratamento emergencial consiste essencialmente na administração rápida pela veia de medicamentos trombolíticos (remédios capazes de dissolver coágulos e desentupir a artéria do cérebro que está obstruída).

Esse tratamento tem efeito cientificamente comprovado e reduz amplamente as sequelas do AVC, porém traz consigo um risco pequeno, porém ainda significativo, de sangramento grave no cérebro, razão pela qual o tratamento muitas vezes só é utilizado em casos muito selecionados.

Fonte: Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, USP.  Imagem: Pixabay.

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