Notícia
Circuitos cerebrais, a sensação de medo e as doenças psiquiátricas
Pesquisadores da UFSC estudaram circuitos cerebrais envolvidos em doenças como a epilepsia
Getty Images
Fonte
UFSC | Universidade Federal de Santa Catarina
Data
quinta-feira, 22 novembro 2018 12:05
Áreas
Neurociências.
Um estudo inédito, desenvolvido por professores pesquisadores que atuam no Hospital Universitário Professor Polydoro Ernani de São Thiago, vinculado à rede Ebserh, e no Centro de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), abriu as portas da ciência para entender os mecanismos sinápticos envolvidos com a manifestação de medo. Os resultados permitem compreender sintomas relacionados a doenças mentais que envolvem estes mecanismos, como estresse pós-traumático, depressão, síndrome do pânico e ansiedade.
A pesquisa, coordenada pelo professor e médico neurofisiologista clínico especializado em cirurgia de epilepsia Dr. Roger Walz, recebeu neste ano o prêmio Paulo Niemayer de Estudos em Cirurgia de Epilepsia, conferido no Congresso da Liga Brasileira de Epilepsia, e representa um marco na história da ciência catarinense, já que esta foi a primeira vez que uma equipe do Estado recebeu esta premiação. Além disso, a pesquisa completa foi publicada em uma das mais importantes revistas da área de psiquiatria, a revista Molecular Psychiatry, do grupo Nature.
O Dr. Roger Walz explicou que o estudo foi feito em pacientes que sofriam de epilepsia de lobo temporal intratável com medicamentos e foram submetidos a neurocirurgia. Como o procedimento consiste na remoção de tecidos cerebrais, foi possível estudar este material retirado, o que levou a equipe a entender melhor como o cérebro humano funciona ao desencadear a “sensação de medo”, que é um dos sintomas narrados por 15% dos pacientes logo no início da crise epiléptica originada na região temporal, internamente no crânio logo à frente da orelha.
O professor explicou que, quando uma pessoa tem uma crise epiléptica, na fase inicial, ela pode perceber sintomas e reações comandadas pelo cérebro, como a contratura muscular em algumas partes do corpo e sensações visuais, entre outras. Estas sensações ocorrem pela ativação elétrica anormal de áreas do cérebro durante a crise epiléptica e que estão envolvidas funções específicas.
Uma parte destes pacientes relata que vive uma experiência intensa de medo, que dura entre 10 e 15 segundos, e em seguida perde a consciência. A sensação descrita pelo paciente é semelhante à que sentimos quando tomamos um susto, e ocorre pela ativação de regiões do cérebro que compõe o chamado “circuito de defesa”. Como o tecido anormal que causa a crise contém estruturas conectadas aos circuitos de defesa que detectam o medo, a cirurgia permite estas sejam estudadas através de técnicas de neuroquímica. Os estudos da equipe catarinense apontaram que a parte do tecido cerebral retirada dos pacientes com epilepsia de lobo temporal e que tinham experiência repetitiva de medo apresentava modificações neuroquímicas nas sinapses que não foram vistas nos pacientes que tinham epilepsia de lobo temporal, mas não apresentavam os sintomas de medo durante a crise.
Com isso, foi aberto o caminho para estudar esta experiência em cérebros de humanos analisando diretamente o tecido cerebral. Esta possibilidade traz a perspectiva de se poder estudar estas modificações neuroquímicas e sua associação com outras manifestações psiquiátricas dos pacientes. “Esta é a etapa que estamos realizando agora”, explica o Dr. Roger Walz.
Acesse o resumo do artigo científico (em inglês).
Acesse a notícia completa na página da UFSC.
Fonte: Universidade Federal de Santa Catarina. Imagem: Getty Images.
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